sexta-feira, 11 de dezembro de 2015

Pequena Prosa 11: Como Escrever Sobre o Nada

Não há nada o que se escrever, a não ser a palavra nada, quando, o tema, falamos do assunto nada. O nada é, antes de qualquer coisa, autoexplicativo e auto sintático. O nada é nada; e é tudo. Quanto mais se fala do nada menos se fala; logo tanto faz, é vão, inútil, falar, ou escrever, do e sobre o nada; afinal ao se falar ou não sobre o nada chegamos à mesma conclusão: nada.

quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

Pequena Prosa 10: Uma Carta

É meu amigo...
Outra vez a caneta corre o papel em busca das palavras certas; uma tentativa mesmo que vã de resumir em uma figura tudo o que nutrimos. Deveras sentimental e subjetivo sou, sem o mínimo dever de universalidade; mas como ter e não ser se relato algo é sentimental, subjetivo e particular?
No cerne da minha existência reside. A nós é legado a herança de Jasão e os Argonautas; compartilhamos medos, credos, insanidades, momentos, olhares, sons, gostos, literatura, música e por que não dizer amor?
Busque em si a felicidade só sua, infelizmente seria um fracasso meu tentar dar-lhe ela.
Há muito, muito mais, que poderia ser dito, escrito, sentido para, e por, você. Mas, uma lástima, sou refém das palavras.
Conversa Metafísica Sobre Semântica ao Despertar de um Novo Dia
- Veja! O Sol surgindo por entre os concretos frios.
- É... mais uma noite. Música, cinema, literatura e desesperança...
- Não seja assim tão pessimista. Há outras coisas além do tédio.
- Não quando em crise...
- Qual crise?
- Essa que vivo; uma expressividade muito aquém da necessária...
..................................................................
- Nós todos temos esses momentos.
- O que mais me incômoda é esse silêncio. Silêncio cego...
- Entendo. Está vivo?
- O quê?
- Você.
- A questão é semântica...
- Como?
- Não é bem estar; e sim o que é ser vivo...
- Muito bem colocado.
- Será essa minha maldição, semântica?
- Estamos, todos, presos a ela.
- Sim...
- Mais um dia.
..................................................................
- Sim outro dia...
- Há algo de muito vago nisso tudo.
- Pois é...

Tais palavras postditas desintegram-nos e os arremetem direto para onde nunca deveriam ter saído; eles, surdamente, penetram, com a chave, o mundo das palavras.

quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

Pequena Prosa 09: O Retorno

Entre tantos outros caminhos, meus irmãos-da-costa indicavam-me a volta, o retorno, o lar. Tantos dias, tantos dias. No exílio índigo da imensidão netunica, perco-me o olhar por tantas e tantas vicissitudes.
Eu fui sem nunca ter sido.
O mar, meu repouso eterno, esperava-me. A coragem não era requisito, enterrei-a na primeira praia que aportei.
Ali estava, mais uma decisão, qualquer decisão eles iriam acatar, sem nem pestanejar, sem hesitar. Estavam fatigados de guerra, de pilhagem, de batalhas, de mar. Saudosos de belas curvas e terra firme, e de um cão sarnento e companheiro, estavam também.
Eles conquistaram a glória.
A glória de estarem fatigados. Caberá a mim a glória do rodapé.
Uma palavra, somente uma palavra.
Era o que esperavam: lar, a volta dos meus pesadelos, do medo, de mim. Lá, naquela casa azul, não era eu, não era aquele.
Era indefinido.
Era mais eu do que eu.
Um estado civilizado de ser selvagem. Os medos, os anseios, os receios, as faltas, a história, não existiam ali.
Éramos eu, o navio e o amor. Nada mais.
Sim, estava fugindo.
Fugindo de tudo aquilo que fizera ser seu.
Chega!
Basta!
Não vou mais fugir; a coragem renasce, assim como o sol, ó astro imortal, faz o dia. Uma única palavra e exorcizaria o covarde que me rói o ser.
Uma única palavra dita com convicção, com tanta assim como a que o mar levou para a costa.
Uma palavra, mesmo dissilábica, seria meu réquiem renovador.
Dissera, então:

- Casa.

terça-feira, 8 de dezembro de 2015

Pequena Prosa 08: Infinito

Estou eu biblioteca adentro.
Tantos autores, tantos títulos, tantos estilos. Nesse pequeno infinito, dentre tantas outras possibilidades, escolho um livro o qual me envergonhava de nunca tê-los às minhas mãos. Uma edição, a 39ª, de Sagarana, infelizmente sem as ilustrações preliminares de Poty, de João Guimarães Rosa.
Penso no infinito, No infinito de suas palavras, no infinito de Guimarães Rosa, no infinito de probabilidades, no infinito de mãos, e cabeças, que manejaram, manejam e manejarão esse mesmo livro, no infinito do infinito.
Penso no infinito.
No meu infinito

segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

Pequena Prosa 07: O Visigodo

A longa espada adormecida está cravada entre rochas flageladas, ambas leais e valentes nas guerras, tingidas de rubro e fluído viscoso, que antiga e única companheira era-me ela, servindo-me, agora, de repouso cansado.
Havia fogo, corpos, asco e medo por onde tocava a visão. Cansado, abatido, ferido e com as mãos postas em cima do cabo estava eu, um visigodo perdido em meu tempo. Era passado ou presente? Não sei, meus olhos estavam cegos diante de tantos embates, batalhas e combates.
Não suporto, não mais!
Casa?
Onde seria?
Onde estaria?
Não mais lutaria, era vão aplacar em fúria contra os inimigos. Eu viera a me tornar um deles, meu inimigo.
Pelo que lutava?
Não sabia.
Somente sabia sentir o sabor salobro de suor, sangue surgindo do solo. O medo da destruição invadia-me a razão. Farei da sombra meu destino.
Não mais espadas!
Não mais batalhas!
Não mais guerras!
Não mais!
Desistiria de ser eu mesmo e de ser o que outros eram eu.
Na sombra do meu destino e no exílio de minha existência iria viver. Não mais guerreiro, não mais visigodo!
Viveria em paz.

Conseguiria eu viver com a memória daquele cheiro?

sexta-feira, 4 de dezembro de 2015

Pequena Prosa 06: Ironia Infernal

Ao renunciar a vida, o Suicida, execrável habitante de qualquer cemitério, caminha, com o buraco que desfalecera sua nuca, em alguma planície de algum rio de algum círculo do Inferno (o cristão).
Inferno para outros, para ele redenção.
Todo ódio, medo, asco, dor e mentira findara no momento do disparo. A bala que avançava em meio a sangue, inteligência e memória levava-o, definitivamente, à vida.
Uma simplicidade feliz irradiava de seu ser.
Era deveras feliz.
Enciumado de tal alegria e felicidade Satanás – ou Lúcifer, Capeta, Demônio, Belzebu, escolha, todos eles são o próprio Capiroto – fala com ele.
Com ar Inquisidor vai julgando, dissimuladamente, seu réu.
Então volta de volta à vida, a sua vida.

E do Paraíso se fez Inferno, e do Inferno se fez vida e da vida se fez morto.

quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

Paixão e Razão

Um bom lugar para praticar a filosofia Heideggeriana
Se não me engano, e pode ser que esteja, foi o filósofo alemão Martim Heidegger que sentenciou que o fazer filosófico só pode ser operado quando o sujeito está livre das paixões, ou seja, para usarmos a razão de forma crítica, positiva e propositiva, é preciso estar com o espírito calmo, como um lago sem perturbações. Claro que os gregos, lá na Antiguidade, já haviam nos alertado sobre esse necessidade de paz interior para “pensarmos melhor”.
É preciso serenidade para filosofar.
Sou, podemos por assim dizer, uma pessoa racional, ou pelo menos tento; compactuo com o mestre alemão que a razão é melhor utilizada quando estamos serenos e afastamos as paixões do cerne do objeto ou problema a ser pensado.

Pequena Prosa 05: Talento

Às vezes pego-me pensando em como decifrar a, como diria Borges, a mágica e os sons das palavras. Foge-me a coragem de ser poeta ou de ser poesia. Falta-me a coragem, quiçá audácia, de ser Borges, Joyce, Rosa e Cortázar.

A Jorge Luís, James, João e Júlio meus mais sinceros pedidos de desculpa...

quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

Pequena Prosa 04: Diálogo Interno

Estávamos eu e meu outro–eu uma vez mais sonhando.
Divagávamos.
Longe, muito longe.
Em algum lugar entre o gozo e a morte perdíamo-nos nessas nuances indecifráveis para mortais, como eu.
Os assuntos?
Falávamos de deus.
E sua ausência.
E seu poder.
E seu medo.
Sou, bom saber, ateu, não por descrença, e sim por falta de crença.
Deus, infelizmente, nunca bateu à minha porta, e faz-me falta uma crença, fé.
Ser desprovido de fé e, ou, crença e ser escravo de um pensamento, tido, como livre e racional é um flagelo.
Aos grilhões e aos ferros dos meus pensamentos estou fadado a conviver e viver.

Oxalá!

terça-feira, 1 de dezembro de 2015

Deus e o Diabo na Mesa de Reunião

O que o blogueiro tem vontade de dizer quando
alguém começa a rezar no firmão.
Há alguns meses resolvi me bandear para o “mundo corporativo”, deixei minhas atividades pedagógicas e criativas um pouco de lado e comecei a trabalhar numa empresa multinacional. Foram vários motivos que me levaram a isso, e acho que não é interessante expor aqui as minhas motivações pessoais nesse caso.
Constatei que vivia numa pequena e confortável bolha: convivia muito com alunos do ensino base, com a minha família e com colegas de curso e profissão. Tinha outro entendimento do mundo, muito por conta das similaridades nos discursos, na ideologia, na visão de mundo e realidade.
Para mim, foi um choque conhecer, numa só leva, tantas pessoas evangélicas, praticantes ou não, o mais estranho e absurdo que isso possa parecer. Foi um choque, e súbito diga-se de passagem, perceber como o discurso religioso e místico está impregnado na estrutura social que nos rodeia.