segunda-feira, 18 de maio de 2015

Diário de um Professor: Enfim, me Venceram

Às vezes, ser professor não faz o mínimo sentido. Temos que, ao mesmo tempo, ser profissionais e exercemos nossa profissão com maestria e ser uma espécie de santos que recebem apenas com amor e carinho pelas suas funções. Faz sentido você chegarmos para um CEO e falar para ele: “olha, você vai ganhar um salário bem abaixo das suas necessidades, mas sabe como é, você faz isso por amor, contente-se.”. Para mim, sentido não faz algum.
Nós, os professores, estamos em luta por melhores condições de trabalho e uma remuneração, ao menos, decente. Durante meu período na faculdade muitos dos meus colegas simplesmente não queriam ouvir falar em magistério para seu futuro profissional. Ou seja, em uma das melhores universidades brasileiras, em um curso que é atrelado ao ensino, formam-se, de fato, poucos professores. Não culpo meus colegas e pares.

Viver de ensino no Brasil é uma verdadeira tragédia, tanto no ensino público quanto particular, mas é por conta de duas vertentes, essa que é estrutural e financeira, quantas escolas têm uma biblioteca e uma quadra? São muito poucas... Mas, pessoalmente, o que mais me impele a parar de lecionar é o modelo de educação que resolvemos adotar em Terra Brasilis. Para nós, povo e Estado, parece fazer muito mais sentido aprendemos o que é um logaritmo, algo que a maioria absoluta da população nunca vai usar na escola a não ser para se formar no colegial, do que saber, entender e compreender quais sãos os três poderes, suas esferas de responsabilidade e quais os campos de atuação de cada um. Ou para que serve um senador da república. Ou um vereador.
Ou seja, há uma perversão na educação brasileira: a perpetuação do status quo social, quem tem vai manter-se tendo e tendo cada vez mais, e quem não tem não vai ter acesso a qualquer tentativa justa de ascensão. A educação no Brasil nem dá o peixe nem ensina a pescar, ela apenas impede que haja mais pescadores.
Isso se dá pelo sucateamento oficial e generalizado da escola pública, aliás, dos serviços públicos em geral. Por aqui temos a péssima mania de achar que tudo o que é público é de graça e, portanto, tem uma desculpa perpétua para ser ruim. Isso, meu leitor, é um dos maiores enganos que podemos ter. Os serviços públicos são sim pagos, e bem pagos, através da sua, da minha e da nossa contribuição fiscal. Assim, serviços públicos são do povo e para o povo. Dessa forma, deveriam atender os interesses públicos. Como queremos que sejam nossos cidadãos, conhecedores de ética, com senso de justiça, pertencentes ao modelo de sociedade que queremos, ou que sejam experts em aprender a decorar algum conhecimento para logo em seguida esquecer o mesmo?
É na escola a porta de entrada para as jovens e ansiosas mentes do futuro na sociedade que pertencem. O papel da escola vai muito além da formação intelectual dos seus alunos, seu papel é socializar as crianças e jovens, é ser um guia moral e ético. E não apenas ser um instrumento de alimentação forçada de saberes que são quase inúteis.

Esse fator, essa perversão do papel da educação, é que mais me entristece e vai me empurrando para cada vez mais longe do magistério. Enfim, me venceram.  

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