quinta-feira, 13 de novembro de 2014

Diário de um Professor: A Educação e o Pensamento Crítico no Brasil

O grande filósofo inglês Bertrand Russell, no ensaio Livre-Pensamento e Propaganda, publicado em 1928, define os fins da educação da seguinte forma: “(...) A educação deveria ter dois objetivos: primeiro, oferecer um conhecimento definitivo, leitura, escrita, linguagem e matemática, e assim por diante; segundo, criar hábitos mentais que capacitem as pessoas a adquirir conhecimento e a formular julgamentos sólidos. O primeiro deles podemos chamar de informação; o segundo de inteligência. (...)”. Tal afirmação estaria ainda mais precisa se incluísse o caráter social da escola, porém é preciso notar que ele diz educação e não escola.
Passados quase noventa anos, a nossa educação ainda não conseguiu atingir esse estágio de desenvolvimento. Por diversos motivos, entre os quais a aplicação dos métodos neoliberais, a educação brasileira cada vez se vê mercantilizada e refém de uma lógica perversa.
Explico.

Com base na afirmação de Russell, urge à educação fomentar esses dois fins: informação e inteligência, o qual eu substituiria por pensamento crítico. A lógica da educação atual brasileira tem como fim apenas a formação de mão de obra, barata se possível, e, por outro lado, preparar uma parcela mínima da população a entrar e cursar o ensino superior e adentrar no mercado de trabalho. As duas vertentes têm o mesmo fim: atender exclusivamente o sistema capitalista como um todo. Antes que alguém saia gritando: eu não sou absolutamente contra o capitalismo, nem ao capital, apenas sou contra a exploração que eles geram.
Continuemos.
Dessa forma, a educação brasileira atual transmite ao aluno, às gerações futuras, um verdadeiro torrencial de informações, porém essas pessoas, nunca nos esquecemos que aluno também é gente, que “sabem” um monte de assuntos de diversos temas porém são incapazes de criticá-los, ou seja, colocá-los em questionamento. Não conseguem nem questionar a própria educação em si. Isso não vem de hoje, basta olharmos qualquer episódio da vida cotidiana que divida opiniões para perceber que a capacidade de discernimento e debate da população em geral vem minguando dia após dia. As eleições e seu furor cibernético estão ai para comprovar meu argumento. Para mim, é evidente que isso não é nenhuma coincidência: uma das maiores formas de manipulação e imposição de poder se dá no âmbito da sala de aula – quem for mais velho e viveu a transição, na sala de aula, do governo de João Goulart para o regime de 64 pode perceber isso vividamente.
Cada vez mais, os jovens são expostos à informações e mais informações, um conteúdo gigantesco que não acrescenta em nada na vida cotidiana da população em geral. Prefere-se ensinar fórmulas e mais fórmulas ao invés de incentivar a criança a pensar por si mesmo e fazer com que ela crie um conhecimento próprio e seja capaz de entender o mundo que se descortina em frente a ela de forma não resignada, aceitando tudo como está, mas sendo capaz de debater essas ideias, esses conceitos, para que ela encontre a sua verdade.

Mais Sócrates, menos Bhaskara.

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