O grande filósofo inglês Bertrand
Russell, no ensaio Livre-Pensamento e Propaganda, publicado em 1928,
define os fins da educação da seguinte forma: “(...) A educação deveria ter
dois objetivos: primeiro, oferecer um conhecimento definitivo, leitura,
escrita, linguagem e matemática, e assim por diante; segundo, criar hábitos
mentais que capacitem as pessoas a adquirir conhecimento e a formular
julgamentos sólidos. O primeiro deles podemos chamar de informação; o segundo
de inteligência. (...)”. Tal afirmação estaria ainda mais precisa se
incluísse o caráter social da escola, porém é preciso notar que ele diz
educação e não escola.
Passados quase noventa anos, a
nossa educação ainda não conseguiu atingir esse estágio de desenvolvimento. Por
diversos motivos, entre os quais a aplicação dos métodos neoliberais, a
educação brasileira cada vez se vê mercantilizada e refém de uma lógica
perversa.
Explico.
Com base na afirmação de Russell,
urge à educação fomentar esses dois fins: informação e inteligência, o qual eu
substituiria por pensamento crítico. A lógica da educação atual brasileira tem
como fim apenas a formação de mão de obra, barata se possível, e, por outro
lado, preparar uma parcela mínima da população a entrar e cursar o ensino
superior e adentrar no mercado de trabalho. As duas vertentes têm o mesmo fim:
atender exclusivamente o sistema capitalista como um todo. Antes que alguém
saia gritando: eu não sou absolutamente contra o capitalismo, nem ao capital,
apenas sou contra a exploração que eles geram.
Continuemos.
Dessa forma, a educação brasileira
atual transmite ao aluno, às gerações futuras, um verdadeiro torrencial de
informações, porém essas pessoas, nunca nos esquecemos que aluno também é
gente, que “sabem” um monte de assuntos de diversos temas porém são incapazes
de criticá-los, ou seja, colocá-los em questionamento. Não conseguem nem
questionar a própria educação em si. Isso não vem de hoje, basta olharmos
qualquer episódio da vida cotidiana que divida opiniões para perceber que a capacidade
de discernimento e debate da população em geral vem minguando dia após dia. As
eleições e seu furor cibernético estão ai para comprovar meu argumento. Para
mim, é evidente que isso não é nenhuma coincidência: uma das maiores formas de
manipulação e imposição de poder se dá no âmbito da sala de aula – quem for
mais velho e viveu a transição, na sala de aula, do governo de João Goulart
para o regime de 64 pode perceber isso vividamente.
Cada vez mais, os jovens são
expostos à informações e mais informações, um conteúdo gigantesco que não
acrescenta em nada na vida cotidiana da população em geral. Prefere-se ensinar
fórmulas e mais fórmulas ao invés de incentivar a criança a pensar por si mesmo
e fazer com que ela crie um conhecimento próprio e seja capaz de entender o
mundo que se descortina em frente a ela de forma não resignada, aceitando tudo
como está, mas sendo capaz de debater essas ideias, esses conceitos, para que
ela encontre a sua verdade.
Mais Sócrates, menos Bhaskara.
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