quinta-feira, 30 de outubro de 2014

Diário de um Professor: Quem Quer Ser Professor?

Muito se fala da qualidade da escola (pública) brasileira, que acredito não ser o monstro que todos pintam, e da falta de professores, e desses se crítica a motivação e o empenho deles. Ai há dois aspectos bem diferentes: o primeiro se resolveria com uma reforma do sistema educacional brasileiro, que hoje visa apenas a formação de profissionais e a perpetuação do status quo social; o segundo é um ponto mais profundo, talvez uma mudança de mentalidade e uma política de avanços trabalhistas.
Um dos calcanhares de Aquiles da educação é a figura do professor. Totalmente idealizado ao longo do século 20, a imagem do professor passa por uma crise sem procedentes. Somos tachados de abnegados, fazedores de um bem maior, guias para o sumo-saber, entre outros predicados que nos aproximariam cada vez mais das sacerdotisas apolíneas.
Claro, que há o fator de transmissão de saber, mas o professor antes de tudo é um fomentador de saber. Ele seria uma espécie de empreiteiro do conhecimento. Só há professores se há alunos.
A grande questão dos professores no Brasil está em uma simples pergunta: quem quer ser professor hoje em dia por aqui? É uma pergunta muito importante de ser levantada. Há um descaso generalizado com o professor, e não apenas do governo com ele. Perdemos, gradativamente, nossa autoridade sobre a sala de aula, contradiga um aluno para não ver o escarcéu que pode se armar, perdemos a nossa valorização salarial e intelectual, e fora que a educação cada vez maior voltada para o ensino profissionalizante, e apostilado, a ideia de professor passa a cada vez ser mais negligenciada.
O problema é assaz grave. Na academia, por exemplo, percebe-se cada vez a formação para si própria de campos onde a formação de professores é imprescindível. A academia forma acadêmicos. A distância cada vez maior entre o ensino superior e o ensino base tem contribuído, e muito, para esse problema.
Nas universidades brasileiras, o inventivo à prática do ensino base vem minguando dia após dia, levando a um verdadeiro esvaziamento de futuros profissionais da educação, se eles forem direcionados para o ensino público então, é raro encontrar um ingressante nas ciências “puras” (aquelas que aprendemos na escola) que queira ser professor do ensino base público no Brasil.
Isso nada mais é do que um simples reflexo do sucateamento do ensino em todos os níveis no Brasil. O ensino superior cada vez capta mais professores, pois se paga relativamente melhor do que no ensino base, por conta da expansão sem necessariamente melhoria de seus números no Brasil. E o ensino base, como fica? Em último plano, infelizmente. Causa espanto entre meus pares, e entre conhecidos e familiares, o meu desejo cada vez mais cristalino de me dedicar exclusivamente ao ensino base público brasileiro, de preferência fora de algum grande centro urbano.
Tenho como motivação a crença, que é quase uma fé, de que os serviços públicos precisam ser preenchidos por aqueles que têm formação pública, e que os serviços públicos precisam ser estendidos para todo o território nacional. Por isso meu desejo de ser professor em escola pública.

Urge uma valorização do professor na Terra Brasilis. Valorização ampla e irrestrita, e não apenas melhorias trabalhistas e salariais. É preciso valorizar a profissão, para que haja cada vez mais professores que mostrem para as crianças e jovens que ser professor é bom e viável, mas em nos tornar santos ou mártires. Somos homens e mulheres como quaisquer outros; apenas optamos por uma profissão que melhor nos encontramos.

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