terça-feira, 30 de setembro de 2014

Horário de Almoço: uma crônica sobre política


OBS.: O texto que seguirá é de cunho altamente ficcional, baseado na minha imaginação e vivência, qualquer semelhança com a realidade, fatos e pessoas, vivas ou mortas, não é mera coincidência.

Estava na firma, no trabalho para quem é fora de Sampa, ontem, no dia seguinte ao penúltimo debate presidencial na televisão. Como sabemos, além do clima xoxo e o debate em-si raso, ele foi marcado, ou melhor: maculado, pela declaração homofóbica do candidato do Partido Renovador Trabalhista Brasileiro, Levy Fidelix em resposta à pergunta elaborada pela candidata Luciano Genro, do Partido Socialismo e Liberdade.
Na hora do almoço, depois de um PF meio safado, entre um café e outro, começaram a discutir a declaração do simulacro de Sr. Spacely, eu apenas a ouvir:

segunda-feira, 29 de setembro de 2014

Brahms, Debussy, Ravel


Ontem, no maior espírito de ser paulistano, cumpri uma promessa, empenhada há mais de cinco anos: levar a minha esposa, e não a mulher que mora comigo (essa ironia é bem direcionada), para ir no Theatro Municipal. Ambos gostamos muito de música, eu um pouco mais, e fora o que somos apaixonados pelo centro de São Paulo e sua arquitetura tão eclética, no sentido de ecletismo mesmo.
O programa era muito atraente: Concerto para Violino em Ré Maior, op. 77 de Johannes Brahms, La Mer de Claude Debussy e a segunda suíte do balé Daphnes et Chlöe de Maurice Ravel. A Orquestra Sinfônica do Theatro Municpal foi regida pelo britânico Alexander Joel, e teve como solista o russo Boris Belkin. Aqui dois apartes: não sei vocês, mas para mim, quase todo solista, ainda mais virtuoso, ainda mais de violino ou de piano, é oriundo de algum país que um dia já fora membro do Pacto de Varsóvia; e segundo: não gosto do termo maestro, e sei que diversos músicos também não gosto, assim como também não gosto do termo regente, bem em voga ultimamente, pois ele vem do verbo reger, que vem do régio poder, nessa parte eu prefiro os termos em inglês (conductor) e em francês (conducteur), afinal, leigamente, acredito que o papel do condutor, ou regente, ou maestro, é justamente conduzir a orquestra em seus ensaios e em suas apresentações.

sexta-feira, 26 de setembro de 2014

Diário de um Professor: A Escola Tradicional e a Criatividade

Uma das grandes preocupações dos pais hoje em dia, no que tange à educação e a pedagogia, é a qualidade da escola que seus filhos frequentam. Querem uma escola forte, com uma forte preocupação com a disciplina e que seja um agente na inserção social das crianças. Esse é a definição, rasa, eu sei, de uma escola forte. De escola, enfim, tradicional. Há um detalhe nesse tipo de escola, nesse tipo de pedagogia, que é a padronização. A escola tradicional está calcada em ideias do Iluminismo que tendem ao universalismo do que ao individualismo, dessa forma esse tipo de escola faz com todos os alunos tenham o mesmo conteúdo, com o mesmo método, com o mesmo professor e, e aqui está um dos seus maiores equívocos, os alunos são avaliados da mesma forma contando com o mesmo peso para as matérias.
O grande problema desse tipo de avaliação é que há um escalonamento das matérias, elas tendem a se dividir em três grandes grupos: línguas e matemática, em primeiro plano, ciências sociais e naturais, em segundo plano, e, em terceiro plano, as artes e a educação física. Se você reparar, até a carga de aulas segue esse escalonamento.

segunda-feira, 22 de setembro de 2014

Carta Aberta de um Palmeirense

Anteontem, dia 21, foi meu aniversário; meu 32º natalício. Nasci em São Paulo, em 1982 (o melhor ano da música do século 20). Para comemorar, dividi as festividades em duas frentes: nesse final de semana, viajei para Itu, cidade próxima da capital, conhecida por seus exageros e por ser berço do movimento republicano brasileiro; e, no domingo que vem, vou pela primeira vez assistir um concerto no Theatro Municipal de São Paulo.
A viagem para Itu foi muito boa, já conhecia a cidade, de várias viagens escolares para a cidade, mas conheci de fato conhecer a cidade, principalmente pelo seu patrimônio histórico da era imperial brasileira. Fora o passeio urbano, feito de caminhares de mãos entrelaçadas, fiz um outro passeio que me chamou muito atenção: conhecer a Estrada Parque, antiga Estrada dos Romeiros, que liga Itu a Cabreúva, margeando o Rio Tietê, que, uma pena, paga pela urbanização desenfreada e irresponsável da Grande Metrópole.

quarta-feira, 17 de setembro de 2014

Um Paulistano


OBS.: O texto que se seguirá é de cunho altamente ficcional, baseado na minha pura imaginação, qualquer semelhança com a realidade, fatos e pessoas, vivas ou mortas, é mera coincidência.

Meu bom leitor, proponho um exercício de criatividade hoje. Imaginemos uma pessoa nascida na capital do estado de São Paulo, mais ou menos nos anos 1980. Essa pessoa é oriunda de uma família estável, morou a vida inteira em um bairro de classe média típico, digamos o Jabaquara, educado em boas escolas, mesmo quando eram públicas, com muito esforço seu, e de seus pais, entrou na USP, conseguiu alguma independência financeira, no começo do entendimento da vida política tinha medo do PT, pelo fato de ser... o PT, tinha uma leve admiração pelo Mário Covas, influenciado pela mãe, principalmente.

terça-feira, 16 de setembro de 2014

Diário de Bordo, Data Estelar 68173.2

Viventes e leitores, estou de volta ao Grão-Tucanato da Paulicéia, onde o cinza é mais cinza, o verde mingua, e, pelo andar da carruagem, vamos precisar de muita esperança para vermos a situação do fornecimento dos recursos hídricos reestabelecidos. Vamos ter que prender a respiração, porque a jornada vai ser complicada. Eu já estou até pensando em adotar um outro cachorro e chama-lo de Baleia.
Passei 10 dias em Sete Lagoas, Minas Gerais, na antessala do Sertão – aliás, esse Sertão, em caixa alta, vai ser tema de um ensaio literário para breve – me recuperando de um surto de ansiedade e depressão que quase me levou à decisão final.

quinta-feira, 11 de setembro de 2014

Diário de um Professor: A Depressão e o Lecionar

Como o leitor mais assíduo deste humilde blog já sabe, eu tenho depressão e ansiedade. Esse mesmo leitor também sabe que eu sou professor, na verdade, verdade mesmo, sou mais um preceptor. Já contei aqui alguns perrengues que passei por conta desses dois fatores. Aliás, muita gente me pergunta como eu concílio essas duas vertentes da minha personalidade.
Como hoje, particularmente, está sendo um dia meio ruim para mim, a produção ou a captação de serotonina por minha parte não está me ajudando muito, então resolvi tentar responder essa pergunta.
Ter depressão associado com transtorno de ansiedade generalizada (TAG) e lecionar, como equacionar esses dois fatores? É BEM complicado, querido leitor. As duas doenças me fazem ter alguns problemas, e até uma leve síndrome do pânico, tenho grandes problemas para sair de casa, ou da minha zona de conforto, e para me relacionar com as pessoas, por algum motivo que eu não sei/consigo explicar, eu tendo a querer me afastar muito das pessoas, uma espécie de misantropia. Eu me relaciono muito melhor com os humanos, e mesmo com os humanos com quem eu realmente me importo, através dos meios eletrônicos.
E como te tudo isso, e ainda assim ter que dar uma aula, que basicamente consiste em se envolver com os alunos e transmitir o seu, ou um, conhecimento através de uma comunicação clara e objetiva?
Bom... eu não sei responder à essa pergunta, ou até sei, mas dai teria que fazer um texto bem longo e você, leitor, não quer isso, quer? Apenas consigo dizer, não racionalmente, que eu me transformo quando viro professor, meio como Batman e Bruce Wayne. Tanto que estou tentando conseguir mais e mais alunos para ter menos períodos Bruce Wayne (depressivo e ansioso) e mais períodos Batman (professor comunicativo, falante e bem disposto).
Um dos grandes problemas desse problema conjunto é não deixar passar para o aluno o meu estado de espírito. As crianças têm uma capacidade enorme de observação e uma sensibilidade fora do comum, e elas conseguem captar quando está tudo bem e quando está tudo mal com o professor, ainda mais porque ainda temos uma visão de divisão política entre alunos e professores, e sendo esses últimos colocados em um grau de superioridade.
Confesso que tenho muita insegurança em que me estado de espírito possa atrapalhar o aprendizado e o desempenho dos meus alunos, tanto que em dias em que eu realmente não tenho forças nem para sair da cama, e quem tem depressão sabe do que eu estou falando, eu tento não dar aulas, por medo de atrapalhar, ao invés de colaborar, com os meus alunos.

Para concluir: é uma situação, para mim, muito complicada solucionar esse problema, principalmente com a minha preocupação para com o aprendizado e o desempenho dos alunos, não sei se todo professor que está na mesma situação do que eu. Mas posso afirmar positivamente que lecionar, assim como exercer o meu lado criativo, é uma ferramenta poderosa na busca de um ponto de harmonia, e de quem sabe, uma possível cura.

quarta-feira, 10 de setembro de 2014

A Esquizofrenia Eleitoral Paulista


Nasci em São Paulo, ali no antigo Hospital Matarazzo, há 32 anos. De lá para os nossos dias, a dita “Locomotiva do Brasil” (termo que me causa mais náuseas do que comer um churrasquinho grego do Largo do Paissandu) teve como ocupantes do Palácio dos Bandeirantes os distintos cavalheiros: José Maria Marin, André Franco Montoro, Orestes Quércia, Luís Antônio Fleury Filho, Mário Covas, Geraldo Alckmin I, Gerado Alckmin II, Cláudio Lembo, José Serra, Alberto Goldman e Geraldo Alckmin III.
Com a exceção de Marin, e isso pode soar BEM estranho, todos governadores são da mesma corrente política: uma direita conservadora travestida de direita liberal. Marin, como todos sabemos, assumiu seu mandato pela ARENA, depois do dr. Paulo Maluf ter renunciado.

segunda-feira, 8 de setembro de 2014

A Chuva


A proposta desse blog não é divulgação do meu trabalho literário, acredito que hajam outros métodos e espaços para tal, porém ontem ao revisar o meu próximo livro, O Livro de Taw e outras histórias, me deparei com um texto escrito há alguns anos, que havia pensado esquecer ou que seu mérito era muito ruim, entretanto para meu total espanto, o tal escrito era muito bom, muito bom mesmo, segundo os meus critérios, evidentemente.

Então, para compartilhar com você, leitor, esse meu pequeno orgulho, e lhe dar um pouco do que está por vir em O Livro de Taw e outras histórias, eu apresento a você A Chuva.

domingo, 7 de setembro de 2014

Síndrome de Odorico Paraguaçu


Em dia de grito no riacho Ipiranga e em épocas de pleito eleitoral, é sempre bom rever algumas coisas que estão acontecendo nesse ano de eleições. Não pretendo julgar cada um dos candidatos, mas sim o quadro geral das eleições majoritárias brasileiras desse ano.
Sobre o que pretendo opinar aqui é o discurso em geral das eleições desse ano. Primeiro, acredito que o nível do debate desse pleito consegue estar ainda mais baixo do último pleito.

sábado, 6 de setembro de 2014

Diário de Bordo, Data Estelar 68148.1

Permita-me, leitor, divagar um pouco nesse texto. Partirei de uma premissa, e tentarei chegar à uma conclusão de ordem prática. Essa premissa primeira é uma pergunta, ao meio de várias turbulências e horas de uma melancolia que desperta com o simples farfalhar das asas de uma borboleta: eu ainda tenho esperança, seja ela qual for?
Claro que sim, não tenho porque desistir. Acredito que haja alguma redenção para mim, em alguma curva do destino, ou de uma dobra no tecido do espaço-tempo. E por que acredito, sendo cético, em algo tão vago e impreciso? Simples: no fundo, todo homem procura a felicidade, seja em si mesmo ou no exterior de si.

quinta-feira, 4 de setembro de 2014

Diário de um Professor: Secret, Cyberbullying e a Educação

Para começar esse texto eu gostaria de evocar o mestre Arthur Schopenhauer: “Em primeiro lugar, portanto, deveria ser destruído de toda velhacaria literária: o anonimato. (...) No entanto, (...) o anonimato serve apenas para subtrair toda responsabilidade a quem não é capaz de defender o que diz, ou talvez até ocultar o opróbio de quem é venal e infame o suficiente para apregoar em público (...). Amiúde o anonimato serve meramente para encobrir a obscuridade, a insignificância e a incompetência do julgador. (...) Pois quem é honesto não ataca sob máscara e capuz pessoas que passeiam com a face descoberta (...)”. Apesar de se tratar de um escrito do século 19, e falar mais sobre a criação literária, esse trecho de Sobre o Ofício do Escritor não poderia estar mais fresco e atual.
Principalmente com a disseminação do aplicativo Secret, que pelo meu conhecimento permite que você faça ofensas e injúrias, de forma anônima, e que isso seja compartilhado pelas redes sociais. Corrijam-me, se errado.
Nenhum dos meus alunos foi diretamente atingido por tal aplicativo – que, convenhamos, é meio babaca – porém acompanhei um caso na minha família de quem sofreu algum tipo de prejuízo com tal aplicativo.
O episódio fora o seguinte: crianças de um colégio tradicional de São Paulo resolveram criar uma lista das pessoas mais esquisitas da escola, e esse meu parente acabou entrando na malha-fina. Essa criança, obviamente, apresentou pequenas mudanças comportamentais, de aprendizado e até possíveis danos sentimentais e emocionais.
A escola, obviamente, não fez nada, afirmando que a responsabilidade seria ou dos responsáveis dos bullys ou da própria empresa que desenvolve o aplicativo, ou de quem o disponibiliza. Basicamente, a escola deu uma de Pôncio Pilatos: eu lavo as minhas mãos.
A escola, idealmente, deveria ser uma extensão da casa e um espaço de múltipla-convivência social, ou seja, ela deveria garantir aos seus alunos um modelo de conduta e de sociabilidade, porém com a mercantilização corrente do sistema de ensino, basta ver a supervalorização das apostilas e da questão do resultado e do desempenho escolar, as escolas estão perdendo esse caráter social e apenas criando marcadores excepcionais de cruzinhas. Aos pais dos alunos, é preciso haver vigilância, afinal é sim de responsabilidade deles o que os filhos fazem ou deixam e fazer.
Muitas pessoas que não estão em idade escolar tende a pensar que o bullying é uma frescura, e que nós temos que deixar de lado, afinal nos nossos tempos a gente resolvia qualquer querela com meia dúzia de sopapos. Acho isso de uma falta de discernimento incrível, é simplesmente não entender que TUDO no planeta evolui, e que a pedagogia e a psicologia também evoluem. Não lidar efusivamente é quase igual a não tratar uma doença nova, ou recentemente descoberta, por que no meu tempo...

Eu, entretanto, acho que os grandes responsáveis são dos desenvolvedores desse aplicativo. A pergunta que eu faço é: não seria melhor empregado toda essa força criativa e tempo para fazer algo que seja realmente útil e não algo que possa disseminar tanto ódio e babaquice pelo mundo?

quarta-feira, 3 de setembro de 2014

Uma Jornada ao Coração da Loucura

Ler O Coração das Trevas, para quem gosta da boa literatura produzida nos últimos dois séculos, é quase que uma obrigação. E por que digo isso? Simples: sua história permanece mais do que atual, pois trata, paralelamente, de dois assuntos: o imperialismo europeu na África e da loucura do poder.
Nessas duas vertentes, nesses paralelos, ainda há muito frescor no clássico de Conrad, como a ganância dos países mais ricos perante a riqueza natural de países mais pobres, aliado a um processo civilizatório por detrás de um discurso econômico, onde é um “dever” dos mais “civilizados” levaram aos “selvagens” o seu modelo de civilização, não respeitando as características dos ditos “selvagens”, como formação e noção de estado, cultura, identificação cultural, entre outras coisas. Nem levando em conta se o não-civilizado quer se tornar civilizado.
Se olharmos a atual geopolítica mundial, além da África, sempre ela, onde mais podemos perceber isso com clareza: no Oriente Médio. O Ocidente tem enormes dificuldades de entender as instituições, identificações e modelos que ali repousam. Geralmente fazemos generalizações étnicas (árabes, curdos, turcos) e religiosas (mulçumanos, judeus e cristãos) para tratarmos do assunto. Mas o caldo cultural trespassa essas convenções. É um modelo que lhes é único, basta ver a força que grupo como Hamas, Al-Qaeda e o Estado Islâmico possuem na região. O Ocidente tende a achar que o mundo todo sofreu as consequências do Iluminismo e da Revolução Francesa, o que é de uma burrice tremenda.

terça-feira, 2 de setembro de 2014

Até Quando Catilina?


Eu tinha me programado para escrever uma resenha sobre o clássico O Coração das Trevas, de Joseph Conrad, porém graças à discussões sem fim, e um pouco de indignação, eu tenho que desviar a rota: vou falar sobre os ditos “vazamentos” recentes de fotos íntimas de algumas celebridades.
O problema aqui é tão grande, tão profundo que nem sei por onde começar. Pretendo abordar basicamente três temas, digamos assim: a inversão entre vítima e criminoso, o moralismo do tema associado a um certo ludismo retrógrado e perguntar quem ganha com isso.

segunda-feira, 1 de setembro de 2014

Das Amizades

Antes de voltar a falar de assuntos que me são externos, têm vários assuntos no noticiário que despertaram interesse em mim, e acho que me merecem a minha singela atenção, permita-me, leitor, a ainda escrever sobre alguns assuntos internos.
Sou adepto do que chamo de misantropia seletiva: apesar de não gostar de conviver com pessoas, de modo geral tenho, basicamente medo do ser humano, algumas poucas pessoas me são muito caras. Minha família e meus amigos, basicamente.
O problema aqui é conceitual: ser família não significa apenas compartilhar um linhagem de sucessivas heranças e misturas genéticas, nem uma linha hereditária, família acredito ser algo muito mais profundo, uma ligação muito mais profunda; já a amizade talvez seja o mais puro dos amores, pois ela trespassa gênero, crença, costumes e tudo o que tiver pela frente. Sócrates, através de Platão, considera-o um dos mais puros dos amores possíveis.