Às vezes as crises de insônia que
me acometem têm repercussões superpositivas, na maioria dos casos sou eu apenas
olhando para o teto sem muito no que pensar ou pensando em bobagem.
Nesse final de semana, de sábado
para domingo, uma dessas crises me bateu forte, fazendo que eu acordasse perto
da meia-noite e ficasse acordado o resto do dia, domingo. Porém não foram horas
desperdiçadas.
No sábado, no começo da tarde,
aproveitei que minha mãe e meus avôs estavam presentes e resolvi rever alguns
álbuns de fotografia antigas. É bom estar com os três porque eles têm memórias,
ou construções de memórias diferentes, o que me permite, graças ao treinamento
como historiador, criar uma narrativa mais “realista”.
E um dos álbuns me deparo com as
fotos de um trabalho que fiz para a escola em 1998; a matéria era geografia e o
tema era o impacto urbano da industrialização da cidade de São Paulo nos 1920 a
1940. Duvido que a professora tenha passado exatamente esse tema, mas uma das
vantagens da distância temporal é retorcer tudo ao seu favor, como a gravidade.
Estava há anos procurando esse
álbum, afinal ele tem uma carga sentimental muito grande para mim, porque além
de ser um dos poucos trabalhos escolares, mesmo com a ajuda parental de sempre,
em que eu realmente achei que fui bem, se me lembro bem, fui o melhor da turma.
Revejo as fotos e me deparo com a
foto que ilustra esse post. Eu sempre e carinhosamente chamei essa foto de La
Vieja, muito antes de conhecer Fellini, Rossellini e o Neorrealismo
italiano, essa foto tinha/tem um impacto muito grande.
A foto é crua, o enquadramento é
simples, e a cena é apenas uma senhora, com um véu branco andando em um bairro,
à época, semiabandonado. Mas havia algo de mágico, de encantador. Algo que ia
sempre além da simples imagem.
La Vieja, em meu
inconsciente sempre fora o símbolo do tempo, que o tempo é cruel, que o tempo é
inexorável, que não como escapar do tempo, que não há Dorian Gray ou vampiros.
O tempo é a única coisa que o homem não consegue vencer, em qualquer campo em
que olhemos, o tempo sempre nos vencerá. La Vieja sempre teve esse
impacto em mim.
Rever La Vieja, assim de
supetão, sem esperar ou planejar, nesse ano, talvez tenha sido um sinal. Aquele
sinal da velha senhora de roupa de cetim preto à espreita em cada canto, em
cada suspirar. Entretanto, a foto é muito linda, palmas ao meu progenitor, que
além de saber filhos, sabe bater fotos como ninguém.
E o resto é vida que segue...
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