Para começar esse texto eu
gostaria de evocar o mestre Arthur Schopenhauer: “Em primeiro lugar, portanto, deveria ser destruído de toda velhacaria
literária: o anonimato. (...) No
entanto, (...) o anonimato serve apenas para subtrair toda responsabilidade a
quem não é capaz de defender o que diz, ou talvez até ocultar o opróbio de quem
é venal e infame o suficiente para apregoar em público (...). Amiúde o
anonimato serve meramente para encobrir a obscuridade, a insignificância e a
incompetência do julgador. (...) Pois quem é honesto não ataca sob máscara e
capuz pessoas que passeiam com a face descoberta (...)”. Apesar de se
tratar de um escrito do século 19, e falar mais sobre a criação literária, esse
trecho de Sobre o Ofício do Escritor
não poderia estar mais fresco e atual.
Principalmente com a disseminação
do aplicativo Secret, que pelo meu
conhecimento permite que você faça ofensas e injúrias, de forma anônima, e que
isso seja compartilhado pelas redes sociais. Corrijam-me, se errado.
Nenhum dos meus alunos foi
diretamente atingido por tal aplicativo – que, convenhamos, é meio babaca –
porém acompanhei um caso na minha família de quem sofreu algum tipo de prejuízo
com tal aplicativo.
O episódio fora o seguinte:
crianças de um colégio tradicional de São Paulo resolveram criar uma lista das
pessoas mais esquisitas da escola, e esse meu parente acabou entrando na
malha-fina. Essa criança, obviamente, apresentou pequenas mudanças comportamentais,
de aprendizado e até possíveis danos sentimentais e emocionais.
A escola, obviamente, não fez
nada, afirmando que a responsabilidade seria ou dos responsáveis dos bullys ou da própria empresa que
desenvolve o aplicativo, ou de quem o disponibiliza. Basicamente, a escola deu
uma de Pôncio Pilatos: eu lavo as minhas mãos.
A escola, idealmente, deveria ser
uma extensão da casa e um espaço de múltipla-convivência social, ou seja, ela
deveria garantir aos seus alunos um modelo de conduta e de sociabilidade, porém
com a mercantilização corrente do sistema de ensino, basta ver a
supervalorização das apostilas e da questão do resultado e do desempenho
escolar, as escolas estão perdendo esse caráter social e apenas criando
marcadores excepcionais de cruzinhas. Aos pais dos alunos, é preciso haver
vigilância, afinal é sim de responsabilidade deles o que os filhos fazem ou
deixam e fazer.
Muitas pessoas que não estão em
idade escolar tende a pensar que o bullying
é uma frescura, e que nós temos que deixar de lado, afinal nos nossos
tempos a gente resolvia qualquer querela com meia dúzia de sopapos. Acho isso
de uma falta de discernimento incrível, é simplesmente não entender que TUDO no
planeta evolui, e que a pedagogia e a psicologia também evoluem. Não lidar efusivamente
é quase igual a não tratar uma doença nova, ou recentemente descoberta, por que
no meu tempo...
Eu, entretanto, acho que os
grandes responsáveis são dos desenvolvedores desse aplicativo. A pergunta que
eu faço é: não seria melhor empregado toda essa força criativa e tempo para
fazer algo que seja realmente útil e não algo que possa disseminar tanto ódio e
babaquice pelo mundo?
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