O filósofo
dinamarquês Soren Kierkegaard, que juntamente com Arthur Schopenhauer tem uma
tremenda influência em mim, em seu magistral Begrebet Angest (O Conceito
da Angústia) define o termo angst (livremente
traduzido como angústia) como uma “uma antipatia simpática e uma simpatia
antipática”, para ilustrar esse conceito ele utiliza a imagem de um homem à
beira do abismo e a dualidade de desejos que ele possui: o desejo de preservar
a vida e ao mesmo tempo o desejo de se atirar penhasco abaixo.
E o que isso tem a
ver como o tema geral dessa sessão, que deveria tratar de pedagogia e do
dia-a-dia de um professor/preceptor? Simples, todo professor sofre uma espécie
de angústia, nos moldes do angst kierkegaardiano,
do ensinar.
O que é ensinar,
afinal de contas? Ensinar é transmitir um conhecimento específico para alguém
que não possua tal conhecimento. Eu não sei tocar nenhum instrumento musical,
então se eu aprender, por intermédio de outrem, a tocar estar sendo ensinado.
Uma mãe ou um pai que define para seu filho quais sãos os padrões éticos e
morais da sociedade a qual eles estão inseridos também está ensinando.
Ensinar, portanto,
não é uma prerrogativa exclusiva do professor. Em princípio, qualquer pessoa
pode ensinar, assim como qualquer pessoa pode aprender. Em termos formais,
entretanto, ensinar é educar formalmente pessoas para serem bons cidadãos e
profissionais, de acordo com códigos sociais, morais e éticos.
Há algo, porém, que
todo professor carrega em-si que é a consciência da própria ignorância.
Todo professor sabe que carrega em-si apenas uma parte de um
conhecimento que é amplo. Assim sendo, o professor ao ter, ao mesmo tempo, a
consciência da ignorância do conhecimento e a tarefa de transmitir um
conhecimento, que não é livre, e sim ditado por um discurso político-ideológico
e estatal, satisfazendo assim os interesses de pessoas diversas que não apenas
o aluno e nós, professores.
Acredito, sem sombra
de dúvida, que esse é um dos aspectos mais complexos que os professores
precisam lidar no seu fazer profissional. Há como fugir ou atenuar tal
angústia? Utopicamente, aproximando-se de instituições e sistemas de ensino que
nos são mais caros; porém como a própria palavra, utopia, em sua etimologia já
define como um não-lugar.
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