segunda-feira, 4 de agosto de 2014

Diário de um Professor: A Angústia do Ensinar

O filósofo dinamarquês Soren Kierkegaard, que juntamente com Arthur Schopenhauer tem uma tremenda influência em mim, em seu magistral Begrebet Angest (O Conceito da Angústia) define o termo angst (livremente traduzido como angústia) como uma “uma antipatia simpática e uma simpatia antipática”, para ilustrar esse conceito ele utiliza a imagem de um homem à beira do abismo e a dualidade de desejos que ele possui: o desejo de preservar a vida e ao mesmo tempo o desejo de se atirar penhasco abaixo.
E o que isso tem a ver como o tema geral dessa sessão, que deveria tratar de pedagogia e do dia-a-dia de um professor/preceptor? Simples, todo professor sofre uma espécie de angústia, nos moldes do angst kierkegaardiano, do ensinar.

O que é ensinar, afinal de contas? Ensinar é transmitir um conhecimento específico para alguém que não possua tal conhecimento. Eu não sei tocar nenhum instrumento musical, então se eu aprender, por intermédio de outrem, a tocar estar sendo ensinado. Uma mãe ou um pai que define para seu filho quais sãos os padrões éticos e morais da sociedade a qual eles estão inseridos também está ensinando.
Ensinar, portanto, não é uma prerrogativa exclusiva do professor. Em princípio, qualquer pessoa pode ensinar, assim como qualquer pessoa pode aprender. Em termos formais, entretanto, ensinar é educar formalmente pessoas para serem bons cidadãos e profissionais, de acordo com códigos sociais, morais e éticos.
Há algo, porém, que todo professor carrega em-si que é a consciência da própria ignorância. Todo professor sabe que carrega em-si apenas uma parte de um conhecimento que é amplo. Assim sendo, o professor ao ter, ao mesmo tempo, a consciência da ignorância do conhecimento e a tarefa de transmitir um conhecimento, que não é livre, e sim ditado por um discurso político-ideológico e estatal, satisfazendo assim os interesses de pessoas diversas que não apenas o aluno e nós, professores.

Acredito, sem sombra de dúvida, que esse é um dos aspectos mais complexos que os professores precisam lidar no seu fazer profissional. Há como fugir ou atenuar tal angústia? Utopicamente, aproximando-se de instituições e sistemas de ensino que nos são mais caros; porém como a própria palavra, utopia, em sua etimologia já define como um não-lugar.

Nenhum comentário:

Postar um comentário