segunda-feira, 14 de abril de 2014

Valesca Popozuda e a Filosofia

"Ser ou não ser"
Durante a semana que passou, as mídias sociais e tradicionais foram inundadas pela notícia, e respectivas análises e comentários, que um professor de filosofia de Taguatinga, no Distrito Federal, havia chamado a cantora de funk Valesca Popozuda de “grande pensadora contemporânea” em uma questão de uma avaliação de seus alunos.
Para o amigo leitor que de alguma forma não tivera ciência de tal pergunta, eis o texto na integra:
“Segundo a grande pensadora contemporânea Waleska Popuzada, se bater de frente é:
a) É só tiro porrada e bomba
b) É só beijinho no ombro
c) É recalque
d) É vida longa”
Para os incautos, a resposta correta é a alternativa “a”.

Como era de se esperar, a repercussão foi enorme. Os indignados de plantão começaram sua campanha difamatória, tanto contra a cantora quanto ao professor. Calma, minha gente, muita calma. Eu, juro, no primeiro momento, achei tudo muito engraçado, não conseguia parar de pensar que o professor estava era tirando um grande barato dos seus alunos, ou dos seus superiores, ou teria alguma agenda por de trás disso.
Já durante a semana que passou, o dito professor fez várias entrevistas para diversos veículos midiáticos. Eu ouvi uma entrevista dele para a rádio BandNews FM aqui de São Paulo, e quando o jornalista Ricardo Boerchat perguntou o porquê da pergunta o mestre explicou que ele estava ensinando para os alunos o papel da mídia na formação moral do cidadão, sendo que ela – e sempre ela – só se interessa pelos fatos negativos que acontecem na escola pública. Ele alega que convidou a imprensa para visitar uma exposição de fotos tiradas pelos seus alunos e que ninguém apareceu, foi então que ele resolveu fazer a pergunta sobre a cantora carioca.
Eu entendo perfeitamente a boa intenção que ele teve nesse, digamos, experimento, porém é preciso se lembrar que a mídia também é um negócio, ai eu proponho um questionamento: em qual notícia você clicaria em um portal de notícias para ler, a da exposição de fotos de alunos do Ensino Médio ou da pergunta sobre a Popozuda? Fazendo o mea culpa, eu definitivamente clicaria na segunda, como por sinal, cliquei.
Então chegamos em um dos pontos chaves do problema: o professor utilizou da ironia em seu discurso, e como sabemos, esta figura de linguagem depende de contexto e igualdade de saberes para poder ser entendida, e até admirada.
O que mais vi nas timelines da vida foram questionamentos, e acusações partidária, de como ele poderia chamar “essa mulher” de “grande pensadora contemporânea”. Acho que o que mais irrita os indignados de plantão ou foi o adjetivo superlativo empregado ou ter transformado uma cantora popular, no sentido mais conotativo possível, em uma formadora de opinião, o que de fato ela é mesmo.
Aliás, o professor quando questionado sobre se ele achava a Popozuda uma pensadora ele deu uma de suas melhores respostas: “segundo a filosofia francesa contemporânea, todo ser capaz de criar conceitos é um pensador, e a Valesca Popozuda cria conceitos, portanto ela é, com certeza, uma pensadora”. Sem mais da minha parte.
Esse episódio só me mostrou, de novo, o quão rápida é a resposta das mídias sociais para assuntos “polêmicos”, e geralmente atrapalhadamente, e quanto de ranço a classe média e a elite brasileira tem das manifestações culturais vindas das camadas menos desfavorecidas. Valesca Popozuda, conceitualmente, é tão pensadora quanto os Caetanos e Chicos da vida, e por que somente a segunda parcela da música popular brasileira pode ser elevado ao píncaros da sofisticação intelectual? E não, indignado de plantão, não acredito que a primeira se equivale aos segundos em qualidade lírica ou melódica, mas apenas em categoria, todos representam extratos da música popular feita no Brasil. Aliás, nos dias de hoje, quem seria mais popular, não no sentido de conhecido, mas no sentido de falar ao povo, os Chicos e Caetanos ou as Valescas?

Sobre toda essa celeuma, acredito que a melhor posição de tudo isso é da própria Valesca, declarando que tudo era uma grande bobagem. Ou seja, ela deu um grande “beijinho no ombro” para tudo isso.

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