quarta-feira, 7 de maio de 2014

Pequenas Barreiras, Grandes Saltos

O noticiário do futebol internacional foi pego de surpresa hoje com notícia que o Clermont Foot 63, time da segunda divisão da liga francesa, contratou a portuguesa Helena Costa como sua treinadora. Você, leitor, de daqui uns 10 anos vai achar isso meio estranho, porém ela, em 2014, é a primeira mulher a treinar um time profissional de futebol.
A treinadora, que tem em seu currículo passagens pelas categorias de base do Benfica, e pelas seleções femininas do Catar e do Irã, não possui experiência como jogadora profissional, porém ela se preparou para a carreira como treinadora, é formada pela Universidade Técnica de Lisboa, mestrado Faculdade de Motricidade Humana da Universidade Técnica de Lisboa e doutorado pela Universidade Lusófona de Lisboa. Além de cursos e participações de seminários promovidos pela Federação Portuguesa de Futebol, pela FIFA e pela UEFA. Ou seja, experiência ela possui.

O futebol carrega em si uma série de preconceitos em relação ao sexo e sexualidade. No começo do futebol feminino, no Brasil, todas as jogadoras eram tachadas de sapatão e masculinizadas. Até hoje não possuímos um liga profissional de futebol feminino. Isso não é prerrogativa apenas do Brasil, não vemos grandes esforços fora de campo na Europa para inserir a mulher no contexto do futebol, sempre mostrada como belas torcedoras e apenas isso.
A maior tristeza é quando tratamos de sexualidade. Futebol é coisa de homem macho, é um mantra repetido à exaustação e aos quatro ventos. Existem homossexuais em todas as esferas humanas, menos no futebol, isso não parece meio estranho? Por isso que atitudes do ex-jogador da seleção alemã Thimas Hitzlsperger, que se assumiu publicamente gay, é louvável.
E não é apenas no futebol que esse sexismo e preconceito de gênero aparece, acaba sendo uma característica geral do esporte em si. Vejam o automobilismo, cujo desempenho maior é do carro, não do piloto, quantas pilotos – sim, feminino de piloto é piloto – você conhece? Pouquíssimas, aposto. A mais famosa deve ser a Danica Patrick, que é mais conhecida por ser bonita do que por sua capacidade como esportista.
Vale lembrar que homens treinam e times e esportistas femininas, e contrário, quantas treinadoras de vôlei treinam um time masculino? Por que uma mulher não pode ser treinadora de um homem? Seria por que, nesse caso, a mulher seria chefe do homem? Percebem o absurdo?
E falar em esportes mistos, então, nem pensar! É claro que existem diferenças fisiológicas e biológicas entre homens e mulheres, negar isso seria negar, bem, a realidade, porém haveriam formas de se driblar isso. O xadrez, por exemplo, que depende unicamente da capacidade intelectual, tem campeonatos mistos, assim como o tênis que tem jogos mistos entre duplas, e o hipismo não distingue gênero também. Imaginem um revezamento na natação ou no atletismo com equipes mistas, qual seria o grande problema disso?
O futebol, que é a coisa mais importante dentre as coisas menos importantes, diria Nelson Rodrigues, ainda apresenta um preconceito contra gênero horrorosa. Uma notícia como essa, a contratação de Helena Costa pelo Clermont, deveria ser banal e casual, mas ainda assim causa espanto. A treinadora Costa quebra uma pequena barreira, porém com um grande salto.

Links:
Notícia sobre a contratação de Helena Costa no portal lusitano Record: http://www.record.xl.pt/Futebol/Internacional/franca/interior.aspx?content_id=881785
Notícia sobre a contratação de Helena Costa no site da BBC (em inglês): http://www.bbc.com/sport/0/football/27306106
Verbete sobre Helena Costa na Wikipédia: http://pt.wikipedia.org/wiki/Helena_Santos_e_Costa

Site oficial do Clermont Foot 63 (em francês): http://www.clermontfoot.com/

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