Como se sabe, além de
humilde blogueiro e professor, eu pego alguns trabalhos como redator e revisor
de texto, afinal eu preciso viver de alguma coisa. Eu sempre recebo ofertas,
também, como formatador de textos para teses de conclusão de curso e
monografias. Aliás esse tipo de oferta tem cada vez crescido mais.
Eu não entendia muito
bem porque, até meu último trabalho: uma pós-graduando em gestão de pessoas me
pediu para revisar e formatar um artigo acadêmico cujo tema entre as
aproximações entre liderança e poder, tema, surpreendentemente, que foi bem
aprazível de ler e escrever sobre.
Uma das
justificativas que a moça usou para me contratar era que não gostava de estudar
e escrever, e uma de suas condições era que a linguagem não fosse muito formal.
Na hora, minha cabeça deu um tilt.
Não consigo entender como alguém que não gosta de estudar e escrever se arrisca
em fazer algum tipo de especialização, afinal as mesmas são condições
intrínsecas ao tipo de curso que ela queria fazer. Sobre a linguagem então, só
vos pergunto: pode ser acadêmico e informal?
Percebi que o grande
problema aqui não é ela, especificamente, mas todo o quadro em si. Depois da
explosão de cursos universitários após a estabilização da moeda e a facilidade
de acesso com o crescimento econômico dos últimos 15 anos, cada vez mais
pessoas têm acesso para o tão sonhado diploma. E o como fazer para “escolher”
os melhores profissionais para os melhores cargos, leia-se, como manter a
concentração de renda e diminuir a mobilidade social? Simples, cada vez exigir
mais e mais especializações, cursos, MBAs e afins.
A maioria absoluta
das profissões que você um dia poderá exercer não depende de um diploma
universitário, muito menos pós-graduação. Absolutamente nada contra
conhecimento que as pessoas adquirem nesses cursos, afinal o conhecimento tem
um poder de transformação incrível. Porém é preciso que quem faça esses cursos
gerem conhecimento também, e não apenas peguem os diplomas e ponto final.
Aqui, é preciso
separar a ciência, saber, da técnica, saber-fazer. Em um cenário ideal,
espera-se um equilíbrio entre esses dois campos. No Brasil, por heranças
lusitanas e coloniais, temos um verdadeiro desprezo com o saber técnico, aqui
as pessoas batalham para serem engenheiros medíocres a serem grandes mecânicos,
pois esses carregam em seu cerne uma “mancha” social.
Devemos valorizar as
profissões técnicas, aproximar os vencimentos de alguém técnico de um
“cientista”, um gerador e difusor do conhecimento, e não apenas criar um
fetiche pelo diploma do ensino superior. Trata-se mais de especialização da mão
de obra em campo amplo do que apenas gerar mais e mais diplomados e assim
diminuir o abismo que separa aqueles que têm daqueles que não-tem.
Abaixo deixarei
linkado um texto da jornalista Sabine Righetti da Folha de São Paulo e um vídeo
do Canal do Pirulla, ambos se complementam e versam muito melhor do que eu.
Links:
Texto Sabine
Righetti: http://abecedario.blogfolha.uol.com.br/2014/04/21/e-melhor-ser-um-otimo-mecanico-do-que-um-engenheiro-mediocre/
Vídeo do Pirulla: https://www.youtube.com/watch?v=4zokJl-Zpg8
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