Dia 25 de abril,
última sexta-feira, marcou o 40º aniversário da Revolução dos Cravos em
Portugal. O que representa essa data? Simplesmente uma das últimas, talvez a
última, vitória contra o fascismo. Explico.
Nessa data, jovens
militares portugueses, indignados com a situação política no país – Antônio de
Oliveira Salazar, ditador fascista português de 1933 a 1970, data de sua morte,
havia feito seu sucessor, Marcelo Caetano, perpetuando assim o salazarismo – e
com as Guerras Coloniais, uma série de combates na África e na Ásia, nas
antigas colônias portuguesas, onde o Estado Novo, nome do regime salazarista,
tentava desesperadamente manter o controle de suas antigas possessões, resolvem
se rebelar contra o status quo da
sociedade portuguesa, e derrubar o regime.
Antes de
continuarmos, é preciso nos lembrar que na Europa da Guerra Fria, ainda
restavam ao menos três ditaduras alinhadas com o antigo fascismo: o salazarismo
português, o franquismo espanhol e a ditadura militar grega. Todas elas com
apoio norte-americano ante a promessa de barrar o comunismo e a influência da
URSS.
O salazarismo perdeu
grande parte do seu apoio com a morte de Antônio de Oliveira Salazar e o golpe
final veio com as repetidas derrotadas nas Guerras Coloniais, e a mudança era
uma questão de tempo. Diferentemente da Espanha, que teve uma transição
pacífica e através de um novo pacto social entre o Estado, a Monarquia e a
sociedade, em Portugal tivemos um real rompimento da ordem.
Os portugueses se
rebelaram contra a opressão, a censura, a tortura e ao cerceamento das
liberdades individuais, e quando chegou ao final desse regime, o Estado Novo,
eles resolveram realmente mudar, não apenas fazer uma nova constituição e um
novo pacto social.
A nação portuguesa de
26 de abril de 1974 já era uma nova nação. Em um dia, apenas um dia, foi o que
durou a revolução, os portugueses mudaram todo o significado de seu país,
claro, não foi fácil, afinal muitos viram com desconfiança tal mudança.
É estranho notar como
a história de Portugal e do Brasil estão tão próximas quanto o Atlântico nos
distancia. Na mesma época no Brasil os exilados políticos começaram a voltar
para cá, e os ventos da liberdade, ainda timidamente, começaram a soprar com
mais força por aqui. Tanto o começo do salazarismo quanto o fim do dele levaram
ao aumento da migração portuguesa para o Brasil, os maiores desde a proclamação
da República.
Aliás, o salazarismo
pode ser visto como a junção ideológica e prática do Estado Novo brasileiro – o
governo ditatorial de Vargas – e a ditadura militar pós-1964.
A Revolução dos
Cravos, que tem esse nome depois que uma florista distribuiu cravos para os
cidadãos que deram para os soldados que resolveram colocar no cano de suas
armas, apresentou como um modelo de revolução contra uma ditadura, nos mesmos
moldes que as revoltas húngaras e tchecas contra a influência soviética. Sua
presença até hoje é sentida nas ruas de Lisboa, Porto e Coimbra, muitos
acreditavam que a sua influência atravessaria o Atlântico trazendo a liberdade
para cá, que demorou ainda mais 10 anos para se concretizar, mas ainda assim
não nos moldes dos cravos encarnados. Seu impacto em toda a lusofonia, países
que falam português, é impressionante. Com ela as antigas colônias lusitanas
tornaram-se independentes, Portugal reencontrou sua verdadeira liberdade e
fizeram os sonhadores brasileiros sonharam suavemente. Ali nos links vou deixar
uma lista com links de influências culturais que a Revolução trouxe.
Links:
Verbete na Wikipedia
sobre o ditador Antônio de Oliveira Salazar: http://pt.wikipedia.org/wiki/Ant%C3%B3nio_de_Oliveira_Salazar
Verbete na Wikipedia
sobre o regime salazarista, o Estado Novo:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Estado_Novo_(Portugal)
Verbete na Wikipedia
sobre a Revolução dos Cravos: http://pt.wikipedia.org/wiki/Revolu%C3%A7%C3%A3o_dos_Cravos
Verbete na Wikipedia
sobre o sucessor de Salazar no Estado Novo, Marcelo Caetano: http://pt.wikipedia.org/wiki/Marcello_Caetano
Entrevista com
Celeste Caeiro, a mulher que distribuiu cravos em 25 de abril, transformando
assim a flor como símbolo da revolução: http://www.jn.pt/live/Atualidade/default.aspx?content_id=3182322
Vídeo da canção Tanto Mar, de Chico Buarque, que traça
um paralelo entre os acontecimentos de abril de 1974 de Portugal com o do
Brasil: https://www.youtube.com/watch?v=hdvheuHhF2U
Ficha do filme Capitães de Abril, de Maria de Medeiros,
sobre a Revolução dos Cravos (em inglês): http://www.imdb.com/title/tt0120626/
Ficha da minissérie
da RTP Mulheres de Abril (em inglês): http://www.imdb.com/title/tt3560662
Ficha do documentário
Armas e o Povo, de Alberto Seixas
Santos, rodado um ano depois da Revolução dos Cravos (em inglês): http://www.imdb.com/title/tt0072657
Ficha do documentário
em curta-metragem Cravos de Abril, de
Ricardo Costa, rodado logo após a revolução, ainda em 1974 (em inglês): http://www.imdb.com/title/tt0071368/
Centro de
Documentação 25 de abril da Universidade de Coimbra: http://www.cd25a.uc.pt/
PS: Há ainda na
internet uma vasta gama de artigos, documentos e fotos sobre o tema. Eu
recomendo muito ainda os textos de historiadores portugueses, como José
Mattoso, e de sociólogos, como Boaventura de Sousa Santos. Em depositórios como
o Scielo (http://scielo.org), você encontra facilmente textos
sobre o assunto em uma busca textual.
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