quinta-feira, 24 de abril de 2014

Ai, Pondé...

No último feriado, dia 21, Tiradentes e segunda-feira, fomos brindados pela coluna semanal na Folha de São Paulo do professor de filosofia da PUC-SP Luis Felipe Pondé (o link para o texto está lá embaixo). O título? Por uma direita festiva. Só pelo título já dava para ter breves insights sobre o que viria pela frente...
Na coluna, o professor Pondé argumenta que os jovens de direita, ou liberais, por serem interessados em temas profundos como economia e política, e por encararem isso de maneira séria, honesta e profundamente, não conseguiriam “pegar mulher”, afinal as pessoas de esquerda tem um discurso mais próximo ao coração, que serve para atrair jovens mulheres da classe alta entediadas.

Não é preciso ser nenhum gênio metafísico para saber que imediatamente as timelines foram inundadas por memes reverberando a coluna citada. O escracho, o humor, o riso, são armas importantes em qualquer tipo de duelo retórico; eles precisam estar presentes sempre que necessário. Porém, humor de lá, humor de cá, o assunto é muito sério.
Afinal de ambos os lados, do tucanato aos petralhas, não foram ao cerne do problema: o termo “pegar mulher”. Fica claro a coisificação do sexo feminino por parte de ambos os lados. Até agora, só vi circular uma charge que crítica essa atitude. Mulher não se pega, se conquista, não no sentido ibero-americano, se encanta. Isso mostra um machismo incrustado no modus pensandi dos articulistas e formadores de opinião.
Isso revela uma característica da crônica política – crônica sim, pois isso não é jornalismo – atual brasileira: o argumento ad hominem, aquele argumento que crítica não as ideias em si, mas quem as verbalizam. Vejam, em nenhum momento do texto do Pondé, nem da defesa perpetuada pelo Rodrigo Constantino, na Veja (texto linkado abaixo), fazem uma crítica às ideias, ou ao embate de ideias. É sempre sobre aquele que as defende.
Por outro lado, os críticos ao texto do professor da PUC também utilizam o mesmo recurso, baixando ainda mais o nível do debate. Vejam, eu não sou contra o riso, muito pelo contrário, porém em um caso como esse acho que as melhores armas são mostrar para quem as defende as suas próprias fraquezas, os seus deslizes, as suas rachaduras.
Dizer que a esquerda é mais festiva que a direita, é simplesmente generalizar ambos os campos de forma moralista, bem típica de como os conservadores faziam na virada do século 19, apontando as falhas morais de alguém para se enaltecer como paladino de um bem maior.
As ondulações geradas foram todas muito mais criticando as pessoas envolvidas do que o próprio texto em si, o que é muito, muito, grave. Qual era a intenção dos autores a fazer isso? Chamar a esquerda de irresponsável, utópica, “coisa de estudante uspiano da FFLCH”? É, meu amigo, a retórica e oratória, campos tão esquecidos em tempos hyperlinks, mostram-se cada dia mais presentes e poderosas.
Hay que farrear, mas sien perder la inteligência jamais!

Links:
Por uma direita festiva, texto de Luis Felipe Pondé, na Folha de São Paulo de 21 de abril de 2014: http://www1.folha.uol.com.br/colunas/luizfelipeponde/2014/04/1443306-por-uma-direita-festiva.shtml
Pondé e a defesa de uma direita festiva, texto de Rodrigo Contantino para a Veja online: http://veja.abril.com.br/blog/rodrigo-constantino/cultura/ponde-e-a-defesa-de-uma-direita-festiva/
Papo Cabaço (página crítica ao texto do Pondé no Facebook): https://www.facebook.com/papo.cabaco

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