quarta-feira, 30 de abril de 2014

Ventos da Liberdade com Cheiro de Cravo

Dia 25 de abril, última sexta-feira, marcou o 40º aniversário da Revolução dos Cravos em Portugal. O que representa essa data? Simplesmente uma das últimas, talvez a última, vitória contra o fascismo. Explico.
Nessa data, jovens militares portugueses, indignados com a situação política no país – Antônio de Oliveira Salazar, ditador fascista português de 1933 a 1970, data de sua morte, havia feito seu sucessor, Marcelo Caetano, perpetuando assim o salazarismo – e com as Guerras Coloniais, uma série de combates na África e na Ásia, nas antigas colônias portuguesas, onde o Estado Novo, nome do regime salazarista, tentava desesperadamente manter o controle de suas antigas possessões, resolvem se rebelar contra o status quo da sociedade portuguesa, e derrubar o regime.

quinta-feira, 24 de abril de 2014

Considerações sobre a Pesquisa Públicos de Cultura

No dia 11 desse mês, o Sesc e a Fundação Perseu Abramo disponibilizaram os resultados da pesquisa Públicos de Cultura, que tinham como objetivo traçar um perfil de consumo e consumidores de cultura no Brasil. Os resultados, como veremos, não são tão animadores. Mas antes disso, tenho alguns apontamentos a se fazer.
Em termos estáticos, é impossível fazer qualquer pesquisa com um universo completo, ou seja, seria impossível perguntar para todos os brasileiros quais são seus hábitos culturais, etc. Nem o Censo do IBGE consegue fazer isso, afinal para se fazer parte do Censo é preciso possuir uma residência, o que exclui andarilhos e pessoas que moram na rua.

Ai, Pondé...

No último feriado, dia 21, Tiradentes e segunda-feira, fomos brindados pela coluna semanal na Folha de São Paulo do professor de filosofia da PUC-SP Luis Felipe Pondé (o link para o texto está lá embaixo). O título? Por uma direita festiva. Só pelo título já dava para ter breves insights sobre o que viria pela frente...
Na coluna, o professor Pondé argumenta que os jovens de direita, ou liberais, por serem interessados em temas profundos como economia e política, e por encararem isso de maneira séria, honesta e profundamente, não conseguiriam “pegar mulher”, afinal as pessoas de esquerda tem um discurso mais próximo ao coração, que serve para atrair jovens mulheres da classe alta entediadas.

quarta-feira, 23 de abril de 2014

A Reinvenção da Educação?

É possível ter uma boa ideia, ganhar dinheiro com ela e ser completamente honesto ao transmitir um conceito que é correlato a ela? Eu sei que é complicado... Mesmo se for totalmente honesto, eu, como Diógenes, tenho uma lanterna à mão à procura de um, ainda assim um leitor mais atento e crítico tende a questionar quais são as suas intenções ao transmitir, ou propagandear, o seu conceito.
Em Um Mundo, uma Escola: A educação reinventada, do estadunidense Salman Khan, notamos essa boa intenção que visa fazer propaganda de si mesmo. Khan esmiúça uma nova metodologia e um novo paradigma para um modelo escolar; todavia essa lufada na pedagogia está calcada em sua própria empresa, a Khan Academy.
Vejam, a ideia exposta no livro é muito boa, e consiste na renovação da educação tendo como base a informática. Khan propõe uma nova abordagem à pedagogia, onde eliminaríamos alguns elementos sacros para a educação, como a aula expositiva, a divisão por turmas, as provas, a lição de casa e até o papel do professor.

terça-feira, 22 de abril de 2014

Era Para Ser Um Mosteiro, Mas Foi um Happening

No último domingo (20), Páscoa, eu e minha esposa, uma mulher muito espiritualizada mas não necessariamente religiosa, fomos assistir a missa no Mosteiro de São Bento, localizado bem no centro de São Paulo. Ela, foi por conta da alma; eu, por conta do canto gregoriano e por conta do concerto de órgão. Aliás, essa é uma ótima dica cultura para os paulistanos: todo domingo às 10:00 o mosteiro oficia missa com concerto de órgão e com canto gregoriano, é uma missa linda, alegre e leve.
Chegamos com mais de meia-hora de antecedência, e como de praxe, o mosteiro encontrava-se completamente lotado. Sigamos o mesmo roteiro e ficamos do lado esquerdo da nave, debaixo do órgão de pé.

quinta-feira, 17 de abril de 2014

Pelo Direito de Ouvir o que não Quer

Nos últimos dias, tem sido veiculado a notícia que Rachel Sheherazade, âncora e comentarista do Jornal do SBT, após os seus infelizes comentários sobre o jovem criminoso acorrentado por vigilantes no Rio de Janeiro, foi posta em “férias” e depois foi retirado o espaço para seus comentários durante o espaço do editais do telejornal.
Eu não compactuo de forma alguma com as opiniões e pontos de vista de Sheherazade. Não consigo concordar com essa ideologia de “bandido bom é bandido morto” ou que “prisão tem que ser ruim para o marginal pagar seus pecados”. Acredito nas causas sociais, ambientais e psicológicas do crime. Ou se trata-se todos os criminosos dessa forma, isso inclui você que paga uma cervejinha ou um café para o policial naquela blitz pós-balada na Vila Olímpia para ele não te enquadrar na Lei Seca, ou você que tira racha em qualquer avenida, ou seja, para qualquer um age contra a lei de alguma forma. Não é essa a definição de bandido e marginal?
Porém, mais do que ser contra as opiniões da Sheherazade, sou contra qualquer tipo de censura, seja ela oficial, ou seja, calcada nas bases da lei, ou velada, com ameaças e coerções. A censura é um dos aspectos mais repugnantes que pode existir em estados totalitários, pois fere dois direitos básicos do cidadão: o de expressão e o de informação.

quarta-feira, 16 de abril de 2014

As Damas do Século XII (Georges Duby)

A historiografia francesa durante o século 20 foi responsável por grandes e importantes mudanças metodológicas para a História. O rol de historiadores que contribuíram para isso é enorme, passando por Marc Bloch e Fernand Braudel, passando por Jacques Le Goff e Georges Duby.
Esse último, dedicou a sua carreira profissional, tanto como professor quanto como pesquisador, a buscar entender o papel das coisas “simples” da vida para a contribuição do processo histórico. Basta lembrar que ele foi o responsável por organizar a coleção História do Cotidiano, lançada no Brasil pela Companhia das Letras.
Duby e Le Goff se debruçaram na Idade Média, muito para tentar derrubar alguns mitos criados pela historiografia romântica do século 19 sobre a formação do estado francês.
Em As Damas do Século XII (Companhia de Bolso), Duby utiliza de fontes documentais e fonte literária para traçar um painel sobre o papel da mulher na vida das cortes flamengas, francesas e inglesas durante o século 11.
O livro, reunião de outros três trabalhos, traz uma abordagem interessante: o quanto o mundo masculino, representado basicamente pelo alto clero católico e pelo poder militar dos senhores feudais, temia e mistificava o mundo feminino. Os exemplos devassados de Eleonor de Aquitânia, de Isolda e de Heloísa são fascinantes.

terça-feira, 15 de abril de 2014

Sobre Palavras

Esses dias – ontem, para ser mais específico – fui dar aula, de matemática, pasmem!, para duas meninas do Colégio Santo Ivo, e como de costume eu me apresentei dizendo meu nome, minha idade, que elas poderiam me chamar pelo nome, que eu dava aula particular desde os 17 anos de idade e que era escritor, e que meu primeiro livro será lançado em breve.
Quando mencionei esse último fato para elas, prontamente entraram em choque, era como se tivessem visto um fantasma, um ser encantado. Eu me senti, sentado ali naquela sala de estar, como um unicórnio sendo devassado por exploradores que não deveriam ter tomado a segunda direita.

segunda-feira, 14 de abril de 2014

Valesca Popozuda e a Filosofia

"Ser ou não ser"
Durante a semana que passou, as mídias sociais e tradicionais foram inundadas pela notícia, e respectivas análises e comentários, que um professor de filosofia de Taguatinga, no Distrito Federal, havia chamado a cantora de funk Valesca Popozuda de “grande pensadora contemporânea” em uma questão de uma avaliação de seus alunos.
Para o amigo leitor que de alguma forma não tivera ciência de tal pergunta, eis o texto na integra:
“Segundo a grande pensadora contemporânea Waleska Popuzada, se bater de frente é:
a) É só tiro porrada e bomba
b) É só beijinho no ombro
c) É recalque
d) É vida longa”
Para os incautos, a resposta correta é a alternativa “a”.

sexta-feira, 11 de abril de 2014

Marvel Noir: X-Men (Fred Van Lente & Dennis Calero)

Marvel Noir: X-Men, publicada em 2009, é uma releitura dos clássicos personagens criados por Stan Lee e Jack Kirby. Essa releitura se dá a partir do ponto de vista do estilo noir, com fortes influências das chamadas pulp fictions. Para quem não está familiarizado com os termos, noir é um estilo de arte, muito influente no cinema e na literatura, muito em voga durante as décadas de 1920 e 1930, principalmente nos EUA. A temática noir, que significa escuro em francês, sempre se dá a partir do ponto de vista do obscuro, do amargo, do inesperado, do suspense.
No cinema, as películas desse estilo sempre tinham, em sua maioria, uma história detetivesca, com personagens atormentados psicologicamente, abusando do jogo de luz e sombras, com uma moral dúbia, etc. Filmes como O Falcão Maltês, entre outros, são a epígrafe do estilo, que surge como uma resposta dos artistas em busca de uma realidade artística em contrapartida aos musicais, geralmente comédias, e dramalhões que Hollywood produzia no período. É bom ressaltar que nesse período a América vivia a época da Grande Depressão, onde o sonho americano, o American Way of Life, parecia ter se tornado um verdadeiro pesadelo.

quinta-feira, 10 de abril de 2014

O Caos Dentro do Caos

A analogia é brega, cafona e recauchutada, mas precisa: se São Paulo fosse um corpo humano, seu sistema circulatório, as vias da cidade, está entupido. Em paulistanas terras, depois de anos de descaso governista, vivemos um verdadeiro caos.
A cidade sofreu uma explosão demográfica a partir dos anos 1950 com a industrialização brasileira, e desde então não se parou mais para pensar sobre o planejamento urbano.
O que temos na cidade, hoje, é um modelo que pode se tornar insustentável em breve. Aliás, vivemos um ponto de flexão em São Paulo: estamos na verve de aprovar um novo Plano Diretor, que determinará os rumos que a cidade vai tomar pelos próximos 20 anos.

terça-feira, 8 de abril de 2014

A Intrusa (Jorge Luis Borges)

“Entre eles os irmãos não pronunciavam o nome de Juliana, nem sequer para chamá-la, mas procuravam, e encontravam, razões para não se pôr de acordo. Discutiam, por exemplo, a venda de uns couros, mas na verdade tratava-se de outra coisa.”Jorge Luis Borges – A Intrusa, in O Informe de Brodie

A primeira vez que eu li o conto A Intrusa, do argentino Jorge Luis Borges, eu quase tive um ataque cardíaco; foi por conta de dois motivos: à época andava tendo uns problemas meio sérios de saúde – esses eu já tenho mais, possuo outros agora – e porque durante a leitura e após ela eu tive o prazer de ser apresentado ao subtexto.

segunda-feira, 7 de abril de 2014

Não É Por 25%

Na última sexta-feira, dia 04 de abril, a mídia vinculou a notícia que o Ipea (Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas) se equivocou ao divulgar na semana anterior dados sobre a violência sexual contra as mulheres no Brasil; já tratei desse assunto aqui.
Originalmente, para a resposta a seguinte pergunta: “mulheres que usam roupas que mostram o corpo merecem ser atacadas?”, ou seja, é culpa vítima sofrer uma violência ou não?, 65% dos entrevistados disserem que... sim. No dia 04 o Ipea se pronunciou que, por um erro de digitação, o dado real era de aproximadamente 25%. Ou seja, 1 em cada 4 entrevistados concorda bisonhamente com essa ideia. Isso, comparativamente, é quase o dobro do número de brasileiros com diploma universitário, que gira em torno de 10% segundo o IBGE.

sexta-feira, 4 de abril de 2014

O Menino, o Homem e a Fé

A leitura, a vida, a cidade, tiraram um pouco da doçura e da simples felicidade; é o que concluo após rever algumas fotos de quando era uma criança pequena. Sem querer me gabar mas fui uma criança bem lindinha e graciosa, em algumas fotos eu mal me reconheço, apesar dos mais próximos insistirem em dizer que pouco mudei nessas três décadas. Dou-me o direito de discordar, todavia.
Divago para tentar chegar em um ponto: quando eu perdi a capacidade de acreditar em alguma coisa? Digo isso, afinal, desde que tenho a capacidade de problematizar meus atos, sempre os coloquei sob um prisma crítico, o que de certa forma me impede de crer em algo. Trocando em miúdos: desde que me entendo por gente eu sempre fui muito racional – apesar dos arroubos de protoromantismo durante a mocidade.
Com isso, apesar da formação católica que possuo – passei quase toda a minha vida escolar em um colégio dominicano – hoje me sinto incapaz de acreditar em qualquer coisa. Acreditar, para mim, é aceitar algum conceito, guardem essa palavra, sem questioná-lo nunca, seja de forma positiva, seja de forma negativa.

quinta-feira, 3 de abril de 2014

Construindo o Imaginário

Como já disse anteriormente, sou graduando em História pela USP. Há um detalhe, todavia, que ainda não contei por aqui: durante os primeiros anos na faculdade eu detestava tudo, meus colegas, meus professores, o prédio, tudo; menos a biblioteca, que ainda é meu lugar favorito por lá. A verdade é que não tinha maturidade intelectual suficiente para aguentar o tranco que é estudar uma disciplina que envolve tantos outros conhecimentos para formar o seu próprio.
Tal situação durou até eu cursar a disciplina de Idade Média. Assim como o western e gibi de superherói, eu sempre fui fascinado pela mediavalidade. Foram poucos períodos na história ocidental onde o homem pode ser assim tão homem. Há algo de mágico nesse período. Por conta disso, acabei me tornando familiar com a obra do francês Jacques Le Goff.

terça-feira, 1 de abril de 2014

As Nuvens (Aristófanes)

É preciso muita coragem, em qualquer época da história, para ser crítico dos seus pares. Ainda mais quando se trata de uma figura pública, ainda mais quando se trata de fazer essa crítica pela comédia. O nosso tempo, pós-tudo e pré-nada, talvez por conta do domínio de um bom-mocismo exacerbado, não aceita muito bem a crítica cômica, ainda mais a de tom mais ácido.
As Nuvens é considerada, por diversos críticos e estudiosos, como sendo uma das melhores comédias de Aristófanes. Este foi um dos grandes comediógrafos de seu tempo, contemporâneo de, entre outros tantos, Platão. Com um humor seco, drástico e irônico, Aristófanes em As Nuvens satiriza o grande Sócrates.