segunda-feira, 31 de março de 2014

O Horror, o Horror, o Horror...

Esse era um texto, mais um, que eu não gostaria de ter que escrever. Mas enfim, faz parte da vida enfrentar o que não queremos, o que não gostamos e o que detestamos.
No último 27, uma pesquisa do Ipea (Instituo de Pesquisa em Economia Aplicada) revelou que a imensa maioria dos entrevistados, cerca de 42%, acredita que a mulher (vítima) é culpada por sofrer qualquer violência sexual. E em outro dado, 65% dos entrevistados acredita que o tipo de roupa usada pela mulher influência na violência sexual.

sexta-feira, 28 de março de 2014

O Monstro Debaixo da Cama

Às vezes, penso que vivemos tempos esquizofrênicos. É sério. Em pleno século 21, ainda tem gente que tem medinho de 1917. Qual é o trauma? Qual é o grande medo? Que monstro é esse que assola alguns setores da nossa sociedade?
Por conta das proximidades do jubileu de ouro do golpe de 1964 – que diferente do que a palavra pode dizer, não há de glorioso nesse fatídico evento – tenho acompanhado mais de perto essa época de nossa história. E a minha conclusão é que não mudamos muito de 64 até hoje, principalmente nas forças mantenedoras da estrutura de poder.
Tanto o golpe quanto o regime civil-militar se basearam no medo de uma possível transformação do Brasil em uma espécie de Cuba e no restauro da ordem. Comecemos pelo Caribe.

quinta-feira, 27 de março de 2014

Casa Tomada (Júlio Cortázar)

“Gostávamos da casa porque, além de espaçosa e antiga (hoje que as casas antigas sucumbem à mais vantajosa liquidação de seus materiais), guardava as recordações de nossos bisavôs, o avô paterno, nossos pais e toda a infância.”Julio Cortázar – Casa Tomada (Bestiário)

Seja para o bem, seja para o mal, Julio Cortázar é um dos autores mais lido em toda América Latina, inclusive no Brasil, sempre alheio aos companheiros de espanhola fala. Sua prosa ficcional é talvez junto com a de Jorge Luis Borges o que há de mais conhecido, obviamente não apenas pela academia hermética, da literatura moderna argentina.
O conto Casa Tomada, publicado em 1951 no livro Bestiário, primeiro livro de sucesso de público e crítica de Cortázar, conta a história de um casal de irmãos que viveu a vida toda em uma única casa e de repente ela é tomada por uma presença sobrenatural, ou seja, acima da natureza do entendimento racional humano, isso não significa anjos, demônios, fadas e duendes, que não são explicadas quanto à sua natureza, sua origem, o que é, em suma.

quarta-feira, 26 de março de 2014

Sorriamos

Num desses domingos quaisquer, dia deveras ordinário o domingo, papai me ensinou um preceito budista; não que ele – muito respeito com ele! – seja alguma douta autoridade, em assuntos religiosos ou filosóficos, acredito inclusive que nem é muito muito do seu gosto ou feitio sair aconselhando as pessoas. Mas o tal preceito alegrou o tal do meu domingo: “Quando não tiver mais nada o que fazer ou pensar, sorria”. Fiquei matutando algumas horas, e ainda matuto, sobre tal preceito. Cheguei a uma conclusão: que deveria sorrir mais.
Confesso que não sou muito bom na arte do sorrir, pareço um tanto quanto bobo quando o faço, mas é uma grande alegria sorrir. Pense bem. Quando sorrimos das coisas mais bobas, banais, esses os são verdadeiros sorrisos e assim iluminamos nossas almas, trazemos uma alegria imensa para nossas almas. Quase sempre tolhemos nosso direito de sorrir, de gargalhar, de rir. Nos privamos da felicidade, da alegria, do prazer, do joie de vivre.

terça-feira, 25 de março de 2014

Prá Frente Brasil?

Nesse último final de semana o Brasil foi tomado pelas tais Marchas da Família com Deus pela Liberdade, reeditando, tentando, um dos eventos mais nefastos de nossa história. Tais eventos forma organizados através das redes sociais e conclamavam pautas das diversas matizes. Desde que à direita, e diametricamente oposta a qualquer coisa popular e social.
O resultado foi, digamos, pífio. A mídia noticiou que houveram cidades em que a tal Marcha não conseguiu reunir nem duas dúzias de pessoas. Em São Paulo, onde moro, o evento, que se reuniu na Praça da República – sou eu, ou a ironia está em todo lugar? – e reuniu cerca de 500 marchadores, mais imprensa e policiamento. Umas mil pessoas, chutando alto. Ao mesmo tempo, houve uma Marcha Antifascista e Antigolpista, que se reuniu na Praça da Sé, um dos símbolos da luta popular na Terra da Garoa. Ela reuniu, com imprensa e polícia, a mesma quantidade de pessoas.

quinta-feira, 20 de março de 2014

A Volta da Brigada Ligeira

Afastada dos grandes noticiários desde os idos da década de 1850, a Crimeia voltou a ser destaque nas últimas semanas, e mais uma vez o Ocidente – leia-se Europa Ocidental – e o povo russo estão envolvidos. Coincidentemente, ou não, de novo a Crimeia é palco do choque entre o pan-eslavismo russo e pretensões econômicas europeias nas terras além da margem oriental do Danúbio.
A atual crise na península, começou por conta de um plebiscito que tornou a Crimeia independente da Ucrânia e a anexou à Federação Russa. O atual modelo russo de Estado se baseia em uma federação de repúblicas autônomas em torno de um poder central. Na teoria, não existe a Rússia, e sim a Federação Russa, sendo assim as relações são mais “fraternas” entre as unidades federativas, constituindo assim um estado baseado na identidade étnica, no caso eslava. Um modelo que é estranho para o Ocidente calcado na ideia de um Estado democrático de direito, com uma república de representação direta.

quarta-feira, 19 de março de 2014

Wrestling, Telecatch, Lucha-Libre, Luta-Livre

Há cerca de um ano, eu retomei uma diversão que tinha quando era criança: assistir à matches de luta-livre, aquela com lutadores mascarados e tudo é manjado, com bastante periodicidade, principalmente aquelas promovidos pela World Wrestleing Entertainement, ou simplesmente WWE. Eu sei que é estranho e constrangedor um homem adulto perder seu precioso tempo com lutas que são arranjadas, violência barata e muita maquiagem, paetê e um discurso ralinho, ralinho.
Há, porém, mais do que a nossa primeira impressão pode revelar. Mas vamos com calmo. Primeiro motivo que me fez voltar a me interessar por tal “esporte”, não sei direito a sua definição de esporte, mas este sem competição simplesmente não existe, foi aquela sensação que todos temos de nostalgia de um passado outrora “perfeito”. A nossa memória é uma coisa muito gozada, afinal mesmo tendo uma capacidade enorme, ainda sim instintivamente selecionamos o que vamos guardar.
Seja para o bem, ou para mal, sempre idealizamos o passado, para ver isso basta perguntar para qualquer pessoa sobre “o tempo dela”, a pessoa vai responder que o assunto em questão, no tempo dela, era melhor, maior, mais gostoso e ninguém matava uma bola de canela. E tal pessoa não entende que “o tempo dela” também é esse presente, enfim...

terça-feira, 18 de março de 2014

O Aleph e a Literatura Argentina: Uma Leitura

“Existe esse Aleph no íntimo de uma pedra? Vi-o quando vi todas as coisas e o esqueci? Nossa mente é porosa para o esquecimento; eu mesmo estou falseando e perdendo, sob a trágica erosão dos anos, os traços de Beatriz.”
Jorge Luis Borges - O Aleph

Publicado em 1949, dentro do livro homônimo, o conto O Aleph apresenta, com total certeza, uma das melhores histórias escritas pelo argentino Jorge Luis Borges em sua fase madura, inserida dentro do contexto do dito realismo mágico. Nele, Borges, transborda a sua capacidade de criação de signos e significações, como se vê nesse trecho, onde ele descreve o que seria o objeto que dá nome ao conto e ao livro: “o lugar onde estão, sem se confundirem, todos os lugares do orbe, vistos de todos os ângulos”. Ou seja, o Aleph seria um único ponto onde se poderia envergar todos os outros pontos do cosmos. A carga de significação embutida nessas palavras é enorme, ainda mais se levarmos em conta a erudição de nosso interlocutor, há quem, inclusive, faça uma leitor mística, cabalística do conto. Particularmente, eu não a enxergo.

segunda-feira, 17 de março de 2014

Perceval, ou o Romance do Graal (Chrétien de Troyes)

Para nós, leitores modernos, é estranho, no bom sentido, lermos um texto que é tão obviamente moralista e evangelizador. A moral – aquela filosófica, não esse arremedo de vigiar os costumes do próximo – é um tema que com a modernidade se tornou secundária, sendo gradativamente substituída pela ética, o que pra mim é estranho, pois todas as revoluções comportamentais que passamos nos últimos 50 anos justificariam uma revisão sobre o bem e o mau.
Enfim, não é sobre isso que pretendo escrever. Meu intento é escrever sobre um texto inacabado do século XII sobre a Demanda do Graal. Publicado no Brasil pela Martins Fontes, dentro da Coleção Gandhāra, Perceval ou o Romance do Graal narra as aventuras do cavaleiro da Távola Redonda Perceval, o Galês, em busca do Santo Vaso e da Lança que Sangra sem Nunca Secar.
A história, em si, é bem conhecida de todos, por isso não entrarei profundamente nela. O que me importa nela são as características expostas no primeiro parágrafo. Sou um grande entusiasta sobre o medievo da cristandade, principalmente no tocante a cultura cortês. Desde de tenra idade, sempre gostei da histórias que envolvessem cavaleiros, damas, reis e rainhas. Porém, por conta da minha formação e da minha leitura, eu havia criado um modelo pronto de mentalidade e sociedade do período. Ler as aventuras de Perceval me mostrou o quanto engano eu estava.