quarta-feira, 24 de dezembro de 2014

Feliz Natal

Desde sempre, tenho uma ligação muito especial com o Natal. Mesmo sendo, como sabe-se, ateu. Minha ligação com o Natal, e com o Ano Novo, é muito mais familiar do que espiritual; tento na medida do possível não acreditar em nenhum tipo de misticismo, seja ele de qualquer natureza. As Festas, em casa, sempre, ao menos no olhar da criança, foram uma oportunidade momentânea de se enterrar a machadinha e reunir um grupo de pessoas que compartilham ligações genéticas e sanguíneas, além das ligações de afetividade. Se de fato tudo não passava de um jogo de cena, não estou disposto a especular e nem explorar.
Resumindo: mesmo carregando enormes críticas ao pensamento mágico e à ética do capital, eu gosto muito do Natal.

sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

Afastamentos

Tudo aconteceu muito rápido, como, aliás, quase tudo nesse mundo hiperconectado e de relações tão incrivelmente diluídas e difusas. Hoje, sabemos, por fotos, o que todos comemos em uma reunião casual, mas, sem ofender, realmente nos relacionamos entre si? Pois é.
Voltando.
Bastaram uma eleição e um punhado de investigações político-juridícas para uma dura realidade bater bem à minha cara: minhas amizades começaram a de fato rarearam, ou simplesmente, acabaram. Não ponho na conta, tal fenômeno, da suposta polarização partidária que vivemos, as ideologias políticas aportadas em bandeiras partidárias no Brasil são meramente fugazes. As diferenças fraternas eram, são, muito mais profundas do que qualquer derby político.

quinta-feira, 20 de novembro de 2014

Mea Culpa... ou Por Que É Tão Difícil Parar de Ler um Livro Ruim?


É com muito pesar que admito um esqueleto no armário: eu gosto muito dos livros escritos pelo Dan Brown. Sim, eu sei, ele escreve com uma fórmula pronta para simplesmente vender livros e ganhar muito dinheiro, e com isso vender os direitos de seus livros para o cinema e assim ganhar mais dinheiro ainda, num círculo quase infinito.
Isso sem falar da qualidade de suas histórias, que são, no mínimo, previsíveis e um tanto quanto absurdas, mesmo que plausíveis. Mas mesmo assim eu não consigo parar de ler qualquer livro que ele escreva, mesmo com vergonha de ler seus livros. Aliás, eu tenho essa sensação com a maioria dos autores de best-sellers, um dos meus autores preferidos é o Ken Follet, cuja literatura é tão rasa quanto um pires, porém suas histórias são muito bem narradas e construídas.

sexta-feira, 14 de novembro de 2014

O Uso Político do Revisionismo Histórico


O historiador tem como dever, e função, sempre olhar para o passado de forma crítica. Já há muito tempo que a História se afastou da busca de uma verdade única e totalizante, nos dias atuais a ciência histórica está cada vez plural em sua interpretação dos fatos e tempos históricos, tanto nas conclusões quanto no método.
Atualmente, historiadores podem chegar à conclusões muito ímpares em uma mesma linha de pesquisa. Pegue por exemplo a história colonial no Brasil: existem teorias tão diversas sobre a cultura canavieira que poderíamos levar uma vida de leitura apenas para entender os modelos propostos.
Uma das maneiras de olhar criticamente para o passado é revisar as interpretações, com base em documentação e dados, passadas. Isso não implica em negar fatos históricos, como alguns adeptos do chamado revisionismo histórico usam como método.

quinta-feira, 13 de novembro de 2014

Diário de um Professor: A Educação e o Pensamento Crítico no Brasil

O grande filósofo inglês Bertrand Russell, no ensaio Livre-Pensamento e Propaganda, publicado em 1928, define os fins da educação da seguinte forma: “(...) A educação deveria ter dois objetivos: primeiro, oferecer um conhecimento definitivo, leitura, escrita, linguagem e matemática, e assim por diante; segundo, criar hábitos mentais que capacitem as pessoas a adquirir conhecimento e a formular julgamentos sólidos. O primeiro deles podemos chamar de informação; o segundo de inteligência. (...)”. Tal afirmação estaria ainda mais precisa se incluísse o caráter social da escola, porém é preciso notar que ele diz educação e não escola.
Passados quase noventa anos, a nossa educação ainda não conseguiu atingir esse estágio de desenvolvimento. Por diversos motivos, entre os quais a aplicação dos métodos neoliberais, a educação brasileira cada vez se vê mercantilizada e refém de uma lógica perversa.
Explico.

quarta-feira, 12 de novembro de 2014

Porque Continuo Lendo Quadrinhos


Se há uns 18 anos atrás o Bruno de hoje se encontrasse com o Bruno de ontem e os dois conversassem sobre a marcha inexorável do tempo, e suas marcas na vida cotidiana, o Bruno de ontem ficaria muito espantada com a afirmação do Bruno de hoje que ele ainda lê histórias em quadrinhos, principalmente histórias em quadrinhos de super-heróis. Acho que o Bruno de ontem esperava que o Bruno de hoje, ainda mais esse hoje sendo hoje, esperaria que ele apenas lesse alta literatura e filosofia contemporânea... Ah, como somos ingênuos na mocidade.
Muita gente, em especial aqueles que me conhecem mais superficialmente, acham estranho pra caramba eu gostar de coisas, aparentemente, tão difusas como Wolverine e Bertrand Russell. Mas aconteceu, o que eu posso fazer?
Antes de tudo, é preciso explicar que há muito tempo os quadrinhos não são um amontado de asneira nacionalista ou ideológica. Cada vez mais, as histórias dos heróis vêm se aproximando de um tom mais realista, tocando assuntos do cotidiano e com uma profundidade dramática e narrativa cada vez maior. Para os mais jovens, adolescentes e jovens adultos principalmente, contemporâneos, é na mitologia dos heróis e nos games é que estão o grande depósito e espelho narrativo de sua geração. E não é à toa: a televisão e o cinema cada vez mais retratam o jovem como um modelo pronto e acabado, o que está longe da realidade dos mesmos.

terça-feira, 11 de novembro de 2014

O Debate Político na Era das Mídias Sociais


Se algum marciano pousasse na Esplanada dos Ministérios agora e entrasse na internet, ainda mais se ele entrasse em alguma rede social, e depois alguém lhe contasse que tivemos, no Brasil, um dos pleitos mas acirrados e competitivos de todos os tempos, nosso amigo só poderia nos dizer:
- Vocês mentem em um ou em outro, ou são completamente malucos.
Nosso pequeno, e hipotético, amigo verde de longas antenas teria toda razão em pensar dessa forma. Se olharmos nossas timelines perceberemos que o assunto das eleições já é papel de embrulhar peixe. O problema, para esse mero escriba, não é a velocidade em que os ciclos de notícias nascem em morrem nas mídias sociais, mas sim uma falta de perenidade nos macrotemas.

segunda-feira, 10 de novembro de 2014

Uma Berlim, Uma Alemanha, Uma Europa


Ontem, dia 9, comemorou-se os 25 anos da Queda do Muro de Berlim. Para mim, tal evento tem duas importâncias: uma pessoal e outra “profissional”. Pessoal, afinal uma das primeiras memórias que eu tenho com total absoluta e certeza é ver o Pedro Bial de frente para o Portal de Brandemburgo noticiando a queda do muro. Algo naquela imagem plasmou em mim uma verdadeira fixação pela Alemanha, tanto que eu sempre tive uma verdadeira adoração à cultura e a hisória germânicas. É incrível o poder da memória em nós...
A outra, a “profissional”, afinal de contas estou em vias de me tornar “historiador”, é mais evidente e direta: estamos diante de um dos mais importantes episódios, ou fatos, históricos dos últimos 30 anos. Acho que juntamente com o 11 de setembro e a Revolução da Internet, a Queda do Muro de Berlim define, pelo menos em boa parte, a nossa atual conjuntura.

sexta-feira, 7 de novembro de 2014

Pelo Direito à Escolha


Estou para redigir esse texto desde o último final de semana. Mas, como diria Getúlio Vargas, forças ocultas se levantaram contra a minha pessoa. E há vários motivos para que essas forças ocultas se levantassem, afinal falarei de um tema bem espinhoso: o direito para escolher quando morrer. O leitor mais atento reparou que eu utilizei apenas o direito a morrer, não o de morrer quando em estado terminal. O caminho pelo qual trilharemos é espinhoso, torto e com diversas armadilhas, afinal poucos tabus são maiores do que a morte na nossa sociedade. Há uma verdade miríade de assuntos correlatos a morte que nos levam a ter uma opinião sobre ela, passando pela biologia até a moral religiosa.
Meu estopim para finalmente escrever sobre o assunto foi a morte da norte-americana Brittany Maynard, que escolheu o caminho do suicídio assistido para não sofrer e causar sofrimento. Maynard tinha um caso grave de tumor cerebral que a faria definhar com o tempo, então, em uma atitude muito corajosa, resolveu acabar com o seu sofrimento e daqueles que os rodeavam.

segunda-feira, 3 de novembro de 2014

Por Amor À Argumentação

Como todos sabemos, moro na região da Avenida Paulista e sabemos, mais ainda, que durante o final de semana que passou tivemos uma manifestação, todos têm direito a se manifestar em um estado de direitos, contra a eleição da presidente Dilma. Afinal vivemos, mesmo que ainda não percebam, em uma democracia frágil e ainda engatinhando. Vivemos aquele que um dia virá a ser a Idade de Ouro da nossa democracia. Ao áureo metal me refiro como questão histórica, não como governo(s), nosso tempo ainda vai ser lembrado como o tempo em que votamos para presidente, tiramos o mesmo do poder, elegemos um intelectual, um metalúrgico e uma ex-guerrilheira.
Não podemos perder o foco, por isso voltemos.

quinta-feira, 30 de outubro de 2014

Diário de um Professor: Quem Quer Ser Professor?

Muito se fala da qualidade da escola (pública) brasileira, que acredito não ser o monstro que todos pintam, e da falta de professores, e desses se crítica a motivação e o empenho deles. Ai há dois aspectos bem diferentes: o primeiro se resolveria com uma reforma do sistema educacional brasileiro, que hoje visa apenas a formação de profissionais e a perpetuação do status quo social; o segundo é um ponto mais profundo, talvez uma mudança de mentalidade e uma política de avanços trabalhistas.
Um dos calcanhares de Aquiles da educação é a figura do professor. Totalmente idealizado ao longo do século 20, a imagem do professor passa por uma crise sem procedentes. Somos tachados de abnegados, fazedores de um bem maior, guias para o sumo-saber, entre outros predicados que nos aproximariam cada vez mais das sacerdotisas apolíneas.
Claro, que há o fator de transmissão de saber, mas o professor antes de tudo é um fomentador de saber. Ele seria uma espécie de empreiteiro do conhecimento. Só há professores se há alunos.

quarta-feira, 29 de outubro de 2014

#legalizadilma

Uma das maiores heranças de 1789 foi a disseminação dos direitos individuais do ser humano. Os revolucionários franceses, eu se afã de universalizar todos os aspectos da vida humana, disseminaram a ideia de que todos os homens têm direitos e deveres igualitariamente, de acordo com a lei, não importando origem social, credo ou riqueza. Claro, que durante o movimento não funcionou perfeitamente, afinal as mulheres não tinham os mesmos direitos do que o homem, entre outros aspectos. Era criado, ou retomado, o conceito de cidadão e de cidadania. Sendo você um cidadão, sujeito com direitos e deveres políticos, está respaldado pela lei.
Esse tipo de pensamento, muito comum no iluminismo, especialmente em Kant, revolucionou o Estado e os costumes das pessoas. Talvez uma das maiores mudanças já enfrentadas pelo ocidente sua história. Não é em vão que o maior produto que vendemos aos “outros” é a república democrática.

terça-feira, 28 de outubro de 2014

A Pedra Fundamental do Tradicionalismo

Os modernistas têm o mérito, no campo da literatura, de ser o primeiro movimento genuinamente brasileiro. A cabeça no mundo, mais os pés bem fincados no Brasil. Isso todo um sabor especial para a nossa literatura, diferentemente do regionalismo romântico, o moderno era de fato brasileiro, não uma cópia ou tentativa de aproximação dos estilos norte-americanos e europeus, principalmente o alemão.
Dentro do modernismo, um dos grandes nomes do regionalismo literária está o gaúcho Erico Verissimo e suas narrativas sobre o Rio Grande do Sul. A prosa de Verissimo é de fôlego e um lirismo magnânimo. Porém não é inédita em sua fonte.
Antes de Verissimo houve Simões Lopes Neto. Folclorista, Lopes Neto conseguiu catalogar na palavra escrita diversas lendas e histórias da cultura gaúcha criando a base do movimento tradicionalista, inclusive criando a figura do gaúcho no imaginário do Rio Grande.

segunda-feira, 27 de outubro de 2014

Festa da Democracia


A intenção desse texto é apresentar um breve e pequeno balanço sobre as eleições majoritárias desse ano. Antes de mais nada, e que você saia me xingando ou qualquer coisa do tipo, acho necessário abrir meu voto, então eis-los: Luciana Genro (primeiro turno para presidente), Dilma Rousseff (segundo turno para presidente), Eduardo Suplicy (senador), Alexandre Padilha (governador), Legenda do PSol (deputado estadual e federal). Como podemos perceber, meus votos foram mais à esquerda, voltado para um projeto mais progressista e com o viés de desenvolvimento social, não que eu veja necessidade de justifica-los, ainda mais aqui.
Os dois votos mais difíceis para mim foram para governador e no segundo turno presidencial. Segundo o primeiro, a grande dificuldade era ter que escolher algum candidato de peso e força que pudesse ao menos forçar um segundo turno, afinal o projeto tucano em São Paulo sofre de certo comodismo e um senso de perpetuamento no poder; um segundo turno, e uma expectativa real de perder o Palácio dos Bandeirantes fariam o PSDB paulista fazer uma autocritica mais profunda; infelizmente não aconteceu, acredito muito pelo fato do PMDB e do PT em São Paulo não terem se unido para o pleito estadual, além do PSol ter lançado Gilberto Maringoni ao invés de Vladimir Safatale para concorrer ao cargo (Safatale tem mais penetração com o público médio, afinal ele tem colunas tanto na Folha de São Paulo quanto na Carta Capital, além de carregar muitos votos por ser professor do instituto mais politizado da USP).

quinta-feira, 2 de outubro de 2014

Diário de um Professor: Eleições e Educação

Nesse final de semana vamos às urnas mais uma vez. Mais uma vez, desde 1989 depois de um hiato de 29 anos, o brasileiro vai poder escolher livremente, na frieza da lei escrita, seus representantes para exercer o poder. É preciso ressaltar que estamos vivendo o segundo maior período da República com votações diretas para presidente, o maior período é o que vá de 1891, dois após a proclamação da república, e a eleição de Júlio Prestes, que foi eleito mas não chegou a tomar posse, em 1930.
Vivemos, talvez, o maior período democrático para presidente. Para compararmos eu, com 32 anos, já votei para presidente três vezes, o meu pai, com 58 anos, votou para presidente somente seis vezes, sendo a primeira em 1989. Eu votei para presidente pela primeira vez com 20 anos, meu pai voltou com 33 anos.

terça-feira, 30 de setembro de 2014

Horário de Almoço: uma crônica sobre política


OBS.: O texto que seguirá é de cunho altamente ficcional, baseado na minha imaginação e vivência, qualquer semelhança com a realidade, fatos e pessoas, vivas ou mortas, não é mera coincidência.

Estava na firma, no trabalho para quem é fora de Sampa, ontem, no dia seguinte ao penúltimo debate presidencial na televisão. Como sabemos, além do clima xoxo e o debate em-si raso, ele foi marcado, ou melhor: maculado, pela declaração homofóbica do candidato do Partido Renovador Trabalhista Brasileiro, Levy Fidelix em resposta à pergunta elaborada pela candidata Luciano Genro, do Partido Socialismo e Liberdade.
Na hora do almoço, depois de um PF meio safado, entre um café e outro, começaram a discutir a declaração do simulacro de Sr. Spacely, eu apenas a ouvir:

segunda-feira, 29 de setembro de 2014

Brahms, Debussy, Ravel


Ontem, no maior espírito de ser paulistano, cumpri uma promessa, empenhada há mais de cinco anos: levar a minha esposa, e não a mulher que mora comigo (essa ironia é bem direcionada), para ir no Theatro Municipal. Ambos gostamos muito de música, eu um pouco mais, e fora o que somos apaixonados pelo centro de São Paulo e sua arquitetura tão eclética, no sentido de ecletismo mesmo.
O programa era muito atraente: Concerto para Violino em Ré Maior, op. 77 de Johannes Brahms, La Mer de Claude Debussy e a segunda suíte do balé Daphnes et Chlöe de Maurice Ravel. A Orquestra Sinfônica do Theatro Municpal foi regida pelo britânico Alexander Joel, e teve como solista o russo Boris Belkin. Aqui dois apartes: não sei vocês, mas para mim, quase todo solista, ainda mais virtuoso, ainda mais de violino ou de piano, é oriundo de algum país que um dia já fora membro do Pacto de Varsóvia; e segundo: não gosto do termo maestro, e sei que diversos músicos também não gosto, assim como também não gosto do termo regente, bem em voga ultimamente, pois ele vem do verbo reger, que vem do régio poder, nessa parte eu prefiro os termos em inglês (conductor) e em francês (conducteur), afinal, leigamente, acredito que o papel do condutor, ou regente, ou maestro, é justamente conduzir a orquestra em seus ensaios e em suas apresentações.

sexta-feira, 26 de setembro de 2014

Diário de um Professor: A Escola Tradicional e a Criatividade

Uma das grandes preocupações dos pais hoje em dia, no que tange à educação e a pedagogia, é a qualidade da escola que seus filhos frequentam. Querem uma escola forte, com uma forte preocupação com a disciplina e que seja um agente na inserção social das crianças. Esse é a definição, rasa, eu sei, de uma escola forte. De escola, enfim, tradicional. Há um detalhe nesse tipo de escola, nesse tipo de pedagogia, que é a padronização. A escola tradicional está calcada em ideias do Iluminismo que tendem ao universalismo do que ao individualismo, dessa forma esse tipo de escola faz com todos os alunos tenham o mesmo conteúdo, com o mesmo método, com o mesmo professor e, e aqui está um dos seus maiores equívocos, os alunos são avaliados da mesma forma contando com o mesmo peso para as matérias.
O grande problema desse tipo de avaliação é que há um escalonamento das matérias, elas tendem a se dividir em três grandes grupos: línguas e matemática, em primeiro plano, ciências sociais e naturais, em segundo plano, e, em terceiro plano, as artes e a educação física. Se você reparar, até a carga de aulas segue esse escalonamento.

segunda-feira, 22 de setembro de 2014

Carta Aberta de um Palmeirense

Anteontem, dia 21, foi meu aniversário; meu 32º natalício. Nasci em São Paulo, em 1982 (o melhor ano da música do século 20). Para comemorar, dividi as festividades em duas frentes: nesse final de semana, viajei para Itu, cidade próxima da capital, conhecida por seus exageros e por ser berço do movimento republicano brasileiro; e, no domingo que vem, vou pela primeira vez assistir um concerto no Theatro Municipal de São Paulo.
A viagem para Itu foi muito boa, já conhecia a cidade, de várias viagens escolares para a cidade, mas conheci de fato conhecer a cidade, principalmente pelo seu patrimônio histórico da era imperial brasileira. Fora o passeio urbano, feito de caminhares de mãos entrelaçadas, fiz um outro passeio que me chamou muito atenção: conhecer a Estrada Parque, antiga Estrada dos Romeiros, que liga Itu a Cabreúva, margeando o Rio Tietê, que, uma pena, paga pela urbanização desenfreada e irresponsável da Grande Metrópole.

quarta-feira, 17 de setembro de 2014

Um Paulistano


OBS.: O texto que se seguirá é de cunho altamente ficcional, baseado na minha pura imaginação, qualquer semelhança com a realidade, fatos e pessoas, vivas ou mortas, é mera coincidência.

Meu bom leitor, proponho um exercício de criatividade hoje. Imaginemos uma pessoa nascida na capital do estado de São Paulo, mais ou menos nos anos 1980. Essa pessoa é oriunda de uma família estável, morou a vida inteira em um bairro de classe média típico, digamos o Jabaquara, educado em boas escolas, mesmo quando eram públicas, com muito esforço seu, e de seus pais, entrou na USP, conseguiu alguma independência financeira, no começo do entendimento da vida política tinha medo do PT, pelo fato de ser... o PT, tinha uma leve admiração pelo Mário Covas, influenciado pela mãe, principalmente.

terça-feira, 16 de setembro de 2014

Diário de Bordo, Data Estelar 68173.2

Viventes e leitores, estou de volta ao Grão-Tucanato da Paulicéia, onde o cinza é mais cinza, o verde mingua, e, pelo andar da carruagem, vamos precisar de muita esperança para vermos a situação do fornecimento dos recursos hídricos reestabelecidos. Vamos ter que prender a respiração, porque a jornada vai ser complicada. Eu já estou até pensando em adotar um outro cachorro e chama-lo de Baleia.
Passei 10 dias em Sete Lagoas, Minas Gerais, na antessala do Sertão – aliás, esse Sertão, em caixa alta, vai ser tema de um ensaio literário para breve – me recuperando de um surto de ansiedade e depressão que quase me levou à decisão final.

quinta-feira, 11 de setembro de 2014

Diário de um Professor: A Depressão e o Lecionar

Como o leitor mais assíduo deste humilde blog já sabe, eu tenho depressão e ansiedade. Esse mesmo leitor também sabe que eu sou professor, na verdade, verdade mesmo, sou mais um preceptor. Já contei aqui alguns perrengues que passei por conta desses dois fatores. Aliás, muita gente me pergunta como eu concílio essas duas vertentes da minha personalidade.
Como hoje, particularmente, está sendo um dia meio ruim para mim, a produção ou a captação de serotonina por minha parte não está me ajudando muito, então resolvi tentar responder essa pergunta.
Ter depressão associado com transtorno de ansiedade generalizada (TAG) e lecionar, como equacionar esses dois fatores? É BEM complicado, querido leitor. As duas doenças me fazem ter alguns problemas, e até uma leve síndrome do pânico, tenho grandes problemas para sair de casa, ou da minha zona de conforto, e para me relacionar com as pessoas, por algum motivo que eu não sei/consigo explicar, eu tendo a querer me afastar muito das pessoas, uma espécie de misantropia. Eu me relaciono muito melhor com os humanos, e mesmo com os humanos com quem eu realmente me importo, através dos meios eletrônicos.
E como te tudo isso, e ainda assim ter que dar uma aula, que basicamente consiste em se envolver com os alunos e transmitir o seu, ou um, conhecimento através de uma comunicação clara e objetiva?
Bom... eu não sei responder à essa pergunta, ou até sei, mas dai teria que fazer um texto bem longo e você, leitor, não quer isso, quer? Apenas consigo dizer, não racionalmente, que eu me transformo quando viro professor, meio como Batman e Bruce Wayne. Tanto que estou tentando conseguir mais e mais alunos para ter menos períodos Bruce Wayne (depressivo e ansioso) e mais períodos Batman (professor comunicativo, falante e bem disposto).
Um dos grandes problemas desse problema conjunto é não deixar passar para o aluno o meu estado de espírito. As crianças têm uma capacidade enorme de observação e uma sensibilidade fora do comum, e elas conseguem captar quando está tudo bem e quando está tudo mal com o professor, ainda mais porque ainda temos uma visão de divisão política entre alunos e professores, e sendo esses últimos colocados em um grau de superioridade.
Confesso que tenho muita insegurança em que me estado de espírito possa atrapalhar o aprendizado e o desempenho dos meus alunos, tanto que em dias em que eu realmente não tenho forças nem para sair da cama, e quem tem depressão sabe do que eu estou falando, eu tento não dar aulas, por medo de atrapalhar, ao invés de colaborar, com os meus alunos.

Para concluir: é uma situação, para mim, muito complicada solucionar esse problema, principalmente com a minha preocupação para com o aprendizado e o desempenho dos alunos, não sei se todo professor que está na mesma situação do que eu. Mas posso afirmar positivamente que lecionar, assim como exercer o meu lado criativo, é uma ferramenta poderosa na busca de um ponto de harmonia, e de quem sabe, uma possível cura.

quarta-feira, 10 de setembro de 2014

A Esquizofrenia Eleitoral Paulista


Nasci em São Paulo, ali no antigo Hospital Matarazzo, há 32 anos. De lá para os nossos dias, a dita “Locomotiva do Brasil” (termo que me causa mais náuseas do que comer um churrasquinho grego do Largo do Paissandu) teve como ocupantes do Palácio dos Bandeirantes os distintos cavalheiros: José Maria Marin, André Franco Montoro, Orestes Quércia, Luís Antônio Fleury Filho, Mário Covas, Geraldo Alckmin I, Gerado Alckmin II, Cláudio Lembo, José Serra, Alberto Goldman e Geraldo Alckmin III.
Com a exceção de Marin, e isso pode soar BEM estranho, todos governadores são da mesma corrente política: uma direita conservadora travestida de direita liberal. Marin, como todos sabemos, assumiu seu mandato pela ARENA, depois do dr. Paulo Maluf ter renunciado.

segunda-feira, 8 de setembro de 2014

A Chuva


A proposta desse blog não é divulgação do meu trabalho literário, acredito que hajam outros métodos e espaços para tal, porém ontem ao revisar o meu próximo livro, O Livro de Taw e outras histórias, me deparei com um texto escrito há alguns anos, que havia pensado esquecer ou que seu mérito era muito ruim, entretanto para meu total espanto, o tal escrito era muito bom, muito bom mesmo, segundo os meus critérios, evidentemente.

Então, para compartilhar com você, leitor, esse meu pequeno orgulho, e lhe dar um pouco do que está por vir em O Livro de Taw e outras histórias, eu apresento a você A Chuva.

domingo, 7 de setembro de 2014

Síndrome de Odorico Paraguaçu


Em dia de grito no riacho Ipiranga e em épocas de pleito eleitoral, é sempre bom rever algumas coisas que estão acontecendo nesse ano de eleições. Não pretendo julgar cada um dos candidatos, mas sim o quadro geral das eleições majoritárias brasileiras desse ano.
Sobre o que pretendo opinar aqui é o discurso em geral das eleições desse ano. Primeiro, acredito que o nível do debate desse pleito consegue estar ainda mais baixo do último pleito.

sábado, 6 de setembro de 2014

Diário de Bordo, Data Estelar 68148.1

Permita-me, leitor, divagar um pouco nesse texto. Partirei de uma premissa, e tentarei chegar à uma conclusão de ordem prática. Essa premissa primeira é uma pergunta, ao meio de várias turbulências e horas de uma melancolia que desperta com o simples farfalhar das asas de uma borboleta: eu ainda tenho esperança, seja ela qual for?
Claro que sim, não tenho porque desistir. Acredito que haja alguma redenção para mim, em alguma curva do destino, ou de uma dobra no tecido do espaço-tempo. E por que acredito, sendo cético, em algo tão vago e impreciso? Simples: no fundo, todo homem procura a felicidade, seja em si mesmo ou no exterior de si.

quinta-feira, 4 de setembro de 2014

Diário de um Professor: Secret, Cyberbullying e a Educação

Para começar esse texto eu gostaria de evocar o mestre Arthur Schopenhauer: “Em primeiro lugar, portanto, deveria ser destruído de toda velhacaria literária: o anonimato. (...) No entanto, (...) o anonimato serve apenas para subtrair toda responsabilidade a quem não é capaz de defender o que diz, ou talvez até ocultar o opróbio de quem é venal e infame o suficiente para apregoar em público (...). Amiúde o anonimato serve meramente para encobrir a obscuridade, a insignificância e a incompetência do julgador. (...) Pois quem é honesto não ataca sob máscara e capuz pessoas que passeiam com a face descoberta (...)”. Apesar de se tratar de um escrito do século 19, e falar mais sobre a criação literária, esse trecho de Sobre o Ofício do Escritor não poderia estar mais fresco e atual.
Principalmente com a disseminação do aplicativo Secret, que pelo meu conhecimento permite que você faça ofensas e injúrias, de forma anônima, e que isso seja compartilhado pelas redes sociais. Corrijam-me, se errado.
Nenhum dos meus alunos foi diretamente atingido por tal aplicativo – que, convenhamos, é meio babaca – porém acompanhei um caso na minha família de quem sofreu algum tipo de prejuízo com tal aplicativo.
O episódio fora o seguinte: crianças de um colégio tradicional de São Paulo resolveram criar uma lista das pessoas mais esquisitas da escola, e esse meu parente acabou entrando na malha-fina. Essa criança, obviamente, apresentou pequenas mudanças comportamentais, de aprendizado e até possíveis danos sentimentais e emocionais.
A escola, obviamente, não fez nada, afirmando que a responsabilidade seria ou dos responsáveis dos bullys ou da própria empresa que desenvolve o aplicativo, ou de quem o disponibiliza. Basicamente, a escola deu uma de Pôncio Pilatos: eu lavo as minhas mãos.
A escola, idealmente, deveria ser uma extensão da casa e um espaço de múltipla-convivência social, ou seja, ela deveria garantir aos seus alunos um modelo de conduta e de sociabilidade, porém com a mercantilização corrente do sistema de ensino, basta ver a supervalorização das apostilas e da questão do resultado e do desempenho escolar, as escolas estão perdendo esse caráter social e apenas criando marcadores excepcionais de cruzinhas. Aos pais dos alunos, é preciso haver vigilância, afinal é sim de responsabilidade deles o que os filhos fazem ou deixam e fazer.
Muitas pessoas que não estão em idade escolar tende a pensar que o bullying é uma frescura, e que nós temos que deixar de lado, afinal nos nossos tempos a gente resolvia qualquer querela com meia dúzia de sopapos. Acho isso de uma falta de discernimento incrível, é simplesmente não entender que TUDO no planeta evolui, e que a pedagogia e a psicologia também evoluem. Não lidar efusivamente é quase igual a não tratar uma doença nova, ou recentemente descoberta, por que no meu tempo...

Eu, entretanto, acho que os grandes responsáveis são dos desenvolvedores desse aplicativo. A pergunta que eu faço é: não seria melhor empregado toda essa força criativa e tempo para fazer algo que seja realmente útil e não algo que possa disseminar tanto ódio e babaquice pelo mundo?

quarta-feira, 3 de setembro de 2014

Uma Jornada ao Coração da Loucura

Ler O Coração das Trevas, para quem gosta da boa literatura produzida nos últimos dois séculos, é quase que uma obrigação. E por que digo isso? Simples: sua história permanece mais do que atual, pois trata, paralelamente, de dois assuntos: o imperialismo europeu na África e da loucura do poder.
Nessas duas vertentes, nesses paralelos, ainda há muito frescor no clássico de Conrad, como a ganância dos países mais ricos perante a riqueza natural de países mais pobres, aliado a um processo civilizatório por detrás de um discurso econômico, onde é um “dever” dos mais “civilizados” levaram aos “selvagens” o seu modelo de civilização, não respeitando as características dos ditos “selvagens”, como formação e noção de estado, cultura, identificação cultural, entre outras coisas. Nem levando em conta se o não-civilizado quer se tornar civilizado.
Se olharmos a atual geopolítica mundial, além da África, sempre ela, onde mais podemos perceber isso com clareza: no Oriente Médio. O Ocidente tem enormes dificuldades de entender as instituições, identificações e modelos que ali repousam. Geralmente fazemos generalizações étnicas (árabes, curdos, turcos) e religiosas (mulçumanos, judeus e cristãos) para tratarmos do assunto. Mas o caldo cultural trespassa essas convenções. É um modelo que lhes é único, basta ver a força que grupo como Hamas, Al-Qaeda e o Estado Islâmico possuem na região. O Ocidente tende a achar que o mundo todo sofreu as consequências do Iluminismo e da Revolução Francesa, o que é de uma burrice tremenda.

terça-feira, 2 de setembro de 2014

Até Quando Catilina?


Eu tinha me programado para escrever uma resenha sobre o clássico O Coração das Trevas, de Joseph Conrad, porém graças à discussões sem fim, e um pouco de indignação, eu tenho que desviar a rota: vou falar sobre os ditos “vazamentos” recentes de fotos íntimas de algumas celebridades.
O problema aqui é tão grande, tão profundo que nem sei por onde começar. Pretendo abordar basicamente três temas, digamos assim: a inversão entre vítima e criminoso, o moralismo do tema associado a um certo ludismo retrógrado e perguntar quem ganha com isso.

segunda-feira, 1 de setembro de 2014

Das Amizades

Antes de voltar a falar de assuntos que me são externos, têm vários assuntos no noticiário que despertaram interesse em mim, e acho que me merecem a minha singela atenção, permita-me, leitor, a ainda escrever sobre alguns assuntos internos.
Sou adepto do que chamo de misantropia seletiva: apesar de não gostar de conviver com pessoas, de modo geral tenho, basicamente medo do ser humano, algumas poucas pessoas me são muito caras. Minha família e meus amigos, basicamente.
O problema aqui é conceitual: ser família não significa apenas compartilhar um linhagem de sucessivas heranças e misturas genéticas, nem uma linha hereditária, família acredito ser algo muito mais profundo, uma ligação muito mais profunda; já a amizade talvez seja o mais puro dos amores, pois ela trespassa gênero, crença, costumes e tudo o que tiver pela frente. Sócrates, através de Platão, considera-o um dos mais puros dos amores possíveis.

domingo, 31 de agosto de 2014

Diário de Bordo, Data Estelar 71227.6

Bom... vamos às novidades no front, pois há alguns dias eu não posto nada por aqui, muito porque eu andei ocupado procurando uma nova plataforma para blogar, além de outros percalços.
Não estou em Sampa, já vamos entender porque, estou em Sete Lagoas, Minas Gerais, na casa dos meus pais, me dedicando a duas causas: terminar meu livro de contos, O Livro de Taw e outros contos, e buscar uma recuperação para meu estado emocional, o que venho fazendo junto com a ajuda de uma terapeuta. Aqui é preciso botar o pé em cima da bola, e parar um pouco: demorei a fazer terapia por dois motivos: primeiro estava (ou estou ainda, não sei mais responder à essa questão) melhorando minha condição de estabilidade emocional, os dias normais, aqueles que não há nem euforia nem depressão estavam se tornando mais costumeiros, se fizesse terapia antes do tempo, provavelmente mexeria em um vespeiro totalmente desprotegido; segundo, demorei um pouco para encontrar um profissional que se encaixa-se no meu perfil, a relação entre terapeuta e paciente precisa ser muito estreita, então é preciso que ajam certas afinidades, no sentido de ideais e sistema de pensamento (isso claro, falo sob o ponto de vista do paciente, não sei se os terapeutas compartilham dessa mesma preocupação, só me resta esperar que sim).

segunda-feira, 18 de agosto de 2014

La Vieja

Às vezes as crises de insônia que me acometem têm repercussões superpositivas, na maioria dos casos sou eu apenas olhando para o teto sem muito no que pensar ou pensando em bobagem.
Nesse final de semana, de sábado para domingo, uma dessas crises me bateu forte, fazendo que eu acordasse perto da meia-noite e ficasse acordado o resto do dia, domingo. Porém não foram horas desperdiçadas.
No sábado, no começo da tarde, aproveitei que minha mãe e meus avôs estavam presentes e resolvi rever alguns álbuns de fotografia antigas. É bom estar com os três porque eles têm memórias, ou construções de memórias diferentes, o que me permite, graças ao treinamento como historiador, criar uma narrativa mais “realista”.
E um dos álbuns me deparo com as fotos de um trabalho que fiz para a escola em 1998; a matéria era geografia e o tema era o impacto urbano da industrialização da cidade de São Paulo nos 1920 a 1940. Duvido que a professora tenha passado exatamente esse tema, mas uma das vantagens da distância temporal é retorcer tudo ao seu favor, como a gravidade.

domingo, 17 de agosto de 2014

Memórias Paulistanas: Vila Maria Zélia, Brás, Mooca (1998)

Esse post vai ser um pouco diferente, ao invés de eu escrever um texto sobre qualquer assunto, resolvi compartilhar contigo um pouco das minhas memórias, algumas das melhores, que tive da cidade antes de me mudar para Porto Alegre.
Essas fotos foram batidas em 1998, ou 1999, não me lembro muito bem, para um trabalho de geografia da cidade de São Paulo e seus antigos bairros operários.
Todas as fotos foram batidas com uma Pentax, não sei o modelo agora, e digitalizadas agora por mim mesmo.

Os créditos dessas fotos, não são minhas, tinha 15-16 anos à época, são todas do Humberto Athayde, A.K.A. Papai.

sábado, 16 de agosto de 2014

Diário de Bordo, Data Estelar 70305.1 (ou Eu Deveria)

Ontem, dia 15, tive uma crise de depressão muito forte, mas muito forte mesmo. Passei, literalmente, o dia inteiro debaixo do coberto, ora lendo O Coração das Trevas, de Joseph Conrad (que, aliás, pretendo escrever um ensaio sobre suas contradições) ora escrevendo, ou melhor preparando um esboço para um Bildungsroman (termo da crítica literária para “romance de formação”, aquele romance em que há a descrição de um processo de formação moral, ético, psicológico, estético, etc., um dos melhores exemplos talvez seja Cândido, de Voltaire.
Além disso, por puro escapismo, resolvi tomar dois compridos de cada um que encontrei dentro do meu quarto, e se por algum motivo tivesse algum outro narcótico, desses do proibido, tomaria tudo. Meu objetivo era não acordar hoje. O resultado: umas 18 horas de sono, e uma pequena ressaca e tontura até hoje.

segunda-feira, 11 de agosto de 2014

Diário de Bordo, Data Estelar 70023.9

Antes de tudo: a data estelar desse post faz referência não ao dia de hoje, mas sim a ontem, às 19:15.
E por que faz tal referência? Porque ontem, nesse horário, nasceu Luiza, primogênita do meu irmão mais velho, que durante muito eu fui seu mais velho, mais pela minha felina e insuperável capacidade de colocar sobre meus cuidados aqueles a quem amo profundamente.
Ela, que ainda é feita de material estelar e de sonhos, ainda não sabe muito sobre mim, me viu apenas uma vez em sua pequena vida. Ainda não sabe da minha condição de saúde, nem nada do gênero.
Porém espero que um dia ela, e o Feijão, filho vindoura da minha irmã caçula, além de Kaique e Yasmim, filhos dos meus cunhados por parte marital, entendam que neles está depositada, em fundos a perder de vista, um pouco da minha esperança.

segunda-feira, 4 de agosto de 2014

Diário de um Professor: A Angústia do Ensinar

O filósofo dinamarquês Soren Kierkegaard, que juntamente com Arthur Schopenhauer tem uma tremenda influência em mim, em seu magistral Begrebet Angest (O Conceito da Angústia) define o termo angst (livremente traduzido como angústia) como uma “uma antipatia simpática e uma simpatia antipática”, para ilustrar esse conceito ele utiliza a imagem de um homem à beira do abismo e a dualidade de desejos que ele possui: o desejo de preservar a vida e ao mesmo tempo o desejo de se atirar penhasco abaixo.
E o que isso tem a ver como o tema geral dessa sessão, que deveria tratar de pedagogia e do dia-a-dia de um professor/preceptor? Simples, todo professor sofre uma espécie de angústia, nos moldes do angst kierkegaardiano, do ensinar.

Segregação Não É Solução


Há algum tempo que gostaria de falar sobre esse assunto, mas as correrias da vida, meus projetos literários e outros compromissos me impediram de me debruçar sobre tal ele. E qual é ele? A proposta do governo de São Paulo de criar vagões exclusivos no Metrô e nos trens da CPTM para mulheres nos horários de pico. É o chamado vagão cor-de-rosa.
Bem, nada como punir a vítima pelo abuso sofrido. Por que segregar? Já ouço vozes dizendo que é melhor assim, que blábláblá. Esse projeto fere, no mínimo, o espírito republicano, que se baseia na igualdade de todos, não importando gênero, raça e crença, perante à lei e à sociedade.

sábado, 2 de agosto de 2014

Diário de Bordo, Data Estelar 69541.5

Olá, viventes!
Continuo na jornada através do tratamento da depressão. Preciso dizer que a medicação já começou a surtir algum efeito, tenho me sentindo muito mais disposto e animado com o mundo.
Além da medicação, alguns fatores têm ajudado muito: eu retomei o contato com grandes amigos de Porto Alegre – nada como a tecnologia moderna – além de começar a trabalhar bastante, começo de semestre, muitas provas e toda aquela paranoia dos pais para melhorem as suas notas.
Também voltei a ler, hábito que havia deixado um pouco de lado nos últimos meses (estou lendo O Coração das Trevas, do Joseph Conrad), agora só falta voltar a criar literatura mesmo, que é a minha grande vocação, enquanto isso vamos vivendo.

Bem acho que era isso, o resto é vida que segue.

sexta-feira, 1 de agosto de 2014

Valesca Bovary ou Madame Popozuda

Valesca Popozuda apreciando uma boa crítica à sociedade burguesa
Eu nem mesmo acredito, mas vou dedicar mais um post à cantora Valesca Popozuda... Eu já tinha escrito um texto sobre ela e aquela bobagem dela ser ou não ser uma pensadora contemporânea (leia o texto aqui).
Essa semana foi propagandeada a informação que Valesca estaria rodando um videoclipe baseado em Madame Bovary, clássico da literatura universal de Gustave Flaubert.
Fiz o que não devia e fui ler os comentários dos sites e portais onde a notícia fora vinculada. Como sempre, um verdadeiro atoleiro de impropérios preconceituosos dos mais diversos tipos. Tinha de tudo, por causa dela ser funkeira, ser da favela, ser “iletrada”, ofender a dignidade de uma obra imortal. E por ai vai... Sempre que leio esses comentários tenho vontade de fazer como Édipo na caverna e vazar os olhos com uma faca.

quarta-feira, 30 de julho de 2014

Diário de Bordo, Data Estelar 69451.7

Hoje volto ao tema da minha condição de saúde, que como meus leitores sabem é um dos temas mais recorrentes da minha vida. Caso você não tenha ciência, ou é a sua primeira visita aqui, eu tenho depressão crônica recorrente. Gosto de falar sobre o tema, por vários motivos: primeiro, porque é um assunto referente à minha pessoa, e assim eu acabo me conhecendo muito mais; segundo, porque há muitos mitos e preconceitos sobre essa doença, e acho que qualquer esclarecimento é fundamental.
Desde a última vez que eu escrevi aqui sobre a minha condição, acho que já faz mais ou menos um mês, eu havia parado de tomar a medicação, mais uma vez, estava quase sem dar aulas, principalmente por conta da Copa e de ser começo de ano, e por achar duas coisas: que não estava fazendo efeito e que estava me sentindo melhor sem ele. Outro motivo foi que troquei de psiquiatra, eu me tratava com um médico muito bom, apesar de mucho loco, e não havia gostado do atendimento desse novo. Pois é, a vida tem dessas coisas.

segunda-feira, 14 de julho de 2014

A Velha Questão Palestina


Oi, pessoal, tudo beleza?
Como eu já havia dito, agora que acabou a Copa, assunto aliás que renderá uma série de posts, tanto sobre campo e bola como de outros assuntos, por aqui, volto à atividade normal do blog.
Para marcar essa retomada, que tal falarmos um pouco dessa nova escalada de violência entre israelenses e palestinos? Assunto que há anos vêm tomando conta das mentes mais preocupadas do mundo, em amplos aspectos.
Para começo de conversa, eu não gosto quando usam a expressão “judeus vs. palestinos”, há pra mim ai um problema semântico, afinal os judeus de hoje não formam um povo, formam sim uma cultura e uma religião. Qualquer tentativa de ligar as pessoas que vivem em Israel hoje com o antigo povo hebreu é uma falácia sem tamanho.

quarta-feira, 9 de julho de 2014

Sim, Somos Corruptos


Na minha experiência como professor de português para estrangeiros, campo, aliás, cada vez mais amplo por aqui, eu tenho que explicar um monte de gírias e expressões idiomáticas para os estrangeiros que vivem no Brasil.
Algumas traduções são quase impossíveis, como “tomara que caia” e enfiar o pé na jaca”, porém outras são impossíveis mesmo, não por uma questão linguística, mas por uma questão de cultura.
Aquela mais óbvia, por vários motivos, é o tal “jeitinho brasileiro”. Tente explicar para um alemão ou para um escandinavo, e suas lógicas puras, o que é esse tal “jeitinho” que tudo resolve. Eu já passei por isso, e, acredite, não foi muito fácil...
Mas o que está no cerne, no âmago, dessa questão? Eu estou plenamente convencido que é a falta de comprometimento com as regulações e regulamentos vigentes, sempre tendo como ponto de vista de obter os melhores resultados para si. Ou seja, corrupção.

sexta-feira, 4 de julho de 2014

Diário de um Professor: Toma que o Filho É Meu

Não sei se vocês já reparam, porém é cada vez mais comum os pais atualmente, por diversos motivos, mas principalmente por motivos profissionais, atribuem aos filhos cada vez mais tarefas, mais atividades extracurriculares, além da escola.
É inglês, Kumon, ballet, futebol, piano, reforço escolar, et cetera e et cetera e et cetera. Fora a educação afetiva, que cada vez mais é atribuída às babás, empregadas, tutores e veículos como televisão e a internet.
Ou seja, os pais têm cada vez mais, dia a dia, atribuem a terceiros a responsabilidade de educar, em aspectos formais e afetivos, seus filhos. É claro, não podemos ser anacrônicos e fingir não entender que o mundo mudou, a mulher está cada vez mais inserida no mercado de trabalho e na chefia das famílias, cada vez profissionais precisam se manter atentos a novas classificações e qualificações, são muitos fatores nessa equação.
Aqui é uma estrada de duas vias: como estar presente e atuante e ao mesmo tempo terceirizar responsabilidades? Acho muito difícil equacionar essa relação. Há, entretanto, que se criticar não apenas os indivíduos e sim ao sistema que obriga esses pais a fazerem isso, porém sem isentar os pais, que também fazem esse desapego por conta de medo, preguiça ou indiferença.

Como sempre digo e repito, educar é uma tarefa enorme, complexa e muito aguda e profunda, e vai muito além da oferta de boas escolas, atividades construtivas ou acesso a bons tutores e professores particulares. Quase sempre, o desempenho escolar e a formação como ser humano tem um resultado maior com a presença dos pais, ou cuidadores, com os filhos, que de forma afetiva e amorosa tende a passar valores para a vida.

quarta-feira, 4 de junho de 2014

Agora a Inês É Morta


Bem, eu não queria tocar nesse assunto, afinal já faz muito tempo que o assunto deixou de ser polêmico, no meu entendimento, e agora, só consigo sentir uma leve euforia, pelo jogo, é claro, não pela FIFA, CBF ou pelo governo.
Acho valido os protestos, pautas de reivindicações que usarão a Copa como vitrine, acho que até um certo pessimismo é válido nesse momento, mesmo que tardio. Agora o efeito que isso vai ter, querer parar ou mandar a Copa embora, é um tanto quanto ingênuo.

terça-feira, 3 de junho de 2014

Entrevista: Pirula


Hoje tenho o prazer de publicar a primeira entrevista do blog: Pirula, o criador e responsável pelo Canal do Pirula, destinado à ciência, meio-ambiente e comentários sobre o noticiário em geral.

Confira:

segunda-feira, 2 de junho de 2014

A Física de Jornada nas Estrelas

Em A Física de Jornada nas Estrelas, o físico teórico norte-americano Lawrence M. Krauss, conhecido por ser um dos percursores da teoria da Matéria Negra, faz um balanço sobre o que pode ser possível e o que é meramente ficção científica em uma das séries mais amadas da história da televisão: Jornada nas Estrelas (Star Trek).
O livro é escrito em uma linguagem muito acessível, de maneira que qualquer pessoa com o mínimo de conhecimento em Física, talvez apenas algumas teorias ensinadas amplamente no Ensino Médio.
Eu, como trekker (palavra que designa um fã do seriado) e admirador de ciência, adorei o livro, justamente por conta disso, não há nenhuma equação em todo o livro, o que simplifica, e muito a leitura, diferentemente de outros textos de divulgação científica.
Um dos pontos positivos do livro é que ele parte do princípio que é uma leitura tanto para trekkers quanto para não o público geral, assim ele toca em temas científicos que são os mais comentados da série – como viagem no tempo, teletransporte e vida inteligente alienígena. Tudo com um embasamento teórico muito forte.

sexta-feira, 30 de maio de 2014

Ciência Tem Gênero?


Hoje de madrugada, a insônia bateu forte, então resolvi curá-la com algo incrível: o seriado de divulgação científica Cosmos: A Spacetime Odissey (exibido pelo canal pago NatGeo, às quintas, às 22:30), apresentado pelo Dr. Neil DeGrasse Tyson, uma verdadeira obra-prima para quem gosta de ciência e entretenimento, as animações são incríveis, o texto é extremamente acessível, do ponto de vista leigo, evidentemente, e pedagógico.
O episódio dessa madrugada: Sisters of the Sun, que explora a astronomia e a astrofísica do nosso céu estrelado, tendo como pontapé inicial as Plêiades, um aglomerado de estrelas aberto, de espectro tendencial para o azul, formado por estrelas brilhantes e quentes na Constelação de Touro.

quinta-feira, 29 de maio de 2014

Diário de um Professor: Socorro, meu filho não lê!


Como ainda não sou formado, estamos na batalha!, muito do meu trabalho é com aulas particulares e como tutor, sendo assim, preciso lidar muito com pais e alunos dentro de suas casas. O que aguçou meu senso de observação espacial para certos detalhes.
Cada vez mais eu percebo que os lares não têm bibliotecas, ou um espaço onde livros e revistas estão ao alcance de todos, inclusive para quem ali habita. O que é muito estranho para mim, afinal em casa, mesmo nos tempos de aperto financeiro, sempre havia um espaço destinado ao estudo e a leitura de modo geral.

quarta-feira, 28 de maio de 2014

Celebrando o Amor e o Casamento


Não tenho trejeito para o colunismo social, e acho que nem aqui é esse espaço, porém não tenho como “cobrir” um evento que me ocorreu sábado, e me levou à uma séria reflexão sobre o amor, relacionamentos e casamento.
Fui ao casamento de dois amigos muito queridos e amados, amigos de longa data e que tive o prazer de ver sua união sendo celebrada. Eles estão juntos, como namorados há mais de 10 anos. Durante esse período, eles tiveram seus percalços, seus problemas, suas desavenças. Eles podem ser fofos, mas ainda assim são humanos.

sexta-feira, 23 de maio de 2014

Por Que Continuar a Ler os Clássicos?


Por conta de um trabalho de redação que peguei, aliás falei sobre ele aqui, tive que ler um artigo científico sobre liderança e poder, e nesse texto havia uma aproximação entre esses dois conceitos, porém de uma forma positiva, tirando todo o caráter moral do poder, muito presente no senso comum e no meio empresarial, onde é visto como o demônio encarnado.
As autoras do artigo se baseavam em textos consolidados e clássicos, como O Princípe, de Nicolau Maquiavel, e Vigiar e Punir, de Michael Foucault. O que me levou a relembrar Harold Bloom e seu O Canone Ocidental, onde o crítico literário e professor estabelece uma espécie de códex a ser seguido por aqueles que queriam se considerar cultivados.

quinta-feira, 22 de maio de 2014

Diário de um Professor: Você Trabalha ou Só Dá Aula?


Estreando a sessão fixa Diário de um Professor, que vão ser crônicas, além de outros textos, sobre meu cotidiano como professor, além de minhas ideias sobre pedagogia, ensino e o espaço escolar, resolvi responder uma das perguntas que mais ouvi em toda a minha experiência ministrando aula: Professor, você trabalha ou só dá aula?
Essa pergunta pode chocar alguém que é mais velho, ou que não tem a mínima ligação com o magistério, porém essa é uma das perguntas mais frequentes dos alunos. Isso reflete a posição que a figura do professor ocupa no nosso imaginário: uma pessoa benevolente, geralmente incrustrada de uma autoridade moral, que abnegadamente espalha seus saberes para as gerações vindouras. A realidade, todavia, é muito mais profunda do que essa.

quarta-feira, 21 de maio de 2014

Diário de um Professor: O Fetiche do Diploma Universitário


Como se sabe, além de humilde blogueiro e professor, eu pego alguns trabalhos como redator e revisor de texto, afinal eu preciso viver de alguma coisa. Eu sempre recebo ofertas, também, como formatador de textos para teses de conclusão de curso e monografias. Aliás esse tipo de oferta tem cada vez crescido mais.
Eu não entendia muito bem porque, até meu último trabalho: uma pós-graduando em gestão de pessoas me pediu para revisar e formatar um artigo acadêmico cujo tema entre as aproximações entre liderança e poder, tema, surpreendentemente, que foi bem aprazível de ler e escrever sobre.

terça-feira, 20 de maio de 2014

Mentalidade, Imaginário e a Longa História

O historiador francês, infelizmente recentemente morto, Jacques Le Goff ficou famoso por vários motivos, dois deles em termos metodológicos foram a promoção da história das mentalidades, e sua aproximação com a antropologia, e o conceito de duração histórica, principalmente os fatores de longa de duração. É dele, por exemplo, a análise que a Idade Média teria, de fato, terminado apenas depois da Revolução Francesa, porém ainda com resquícios em pleno século 20.
Em Heróis e maravilhas da Idade Média estão presentes todos esses conceitos, porém de forma reduzida, principalmente por conta que a maioria desses conceitos são explorados em outros livros de Le Goff, principalmente em O imaginário medieval. Então temos em mãos um livro que beira à divulgação científica.
Digo que beira, afinal a linguagem empregada é de rigor acadêmico, e os estudos apresentados, em quase todos os casos, são apresentados de forma minuciosa. É preciso lembrar que em nenhum momento Le Goff expõe seu arcabouço teórico, pelo menos não de forma clara e textual, assim sendo o livro passa a ser um meio termo entre um livro teórico e um livro de divulgação. É um bom texto para os bancos estudantis universitários e para professores se reciclarem.

segunda-feira, 19 de maio de 2014

#somostodosmachistas


No domingo passado (11/05), pela quarta rodada do Brasileirão, jogaram Atlético-MG e Cruzeiro, clássico maior de Minas Gerais. Gostaria muito que o principal assunto da partida fosse exclusivamente os lances, os gols e, até, as polêmicas. É disso que se trata o futebol como esporte.
Porém, e há sempre ressalvas, não trataremos sobre os aspectos esportivos do match, ou cotejo, como preferirem. Foi com horror que fiquei sabendo, não assisti ao vivo o jogo, que a auxiliar Fernanda Colombo Uiliana, aspirante à FIFA, ou seja, competente e profissional, fora hostilizada por um erro que cometera.

segunda-feira, 12 de maio de 2014

Diário de um Professor: Resumos, Adaptações e o Cânone Literário Brasileiro


Na semana passada as redes sociais, sempre elas, foram invadidas com a notícia-bomba que o MEC aprovou um projeto, com financiamento público, de uma autora de adaptar para os tempos ultra-pós-modernos alguns textos de Machado de Assis para que as crianças e adolescente possam se interessar em literatura e leitura.
Eu, sinceramente, não entendi o fuzuê gerado por tal notícia. Eu estudei quase que toda a minha vida escolar em um bom colégio dominicano em São Paulo, e mesmo ali, antro do conservadorismo pedagógico, eu li adaptações e resumos de obras como Dom Quixote, Os Três Mosqueteiros, O Último dos Moicanos, Moby Dick, entre outros. Não me tornei um leitor limitado, muito pelo contrário, e nada me impediu de ler, depois com mais maturidade, as obras completas citadas.

quarta-feira, 7 de maio de 2014

Pequenas Barreiras, Grandes Saltos

O noticiário do futebol internacional foi pego de surpresa hoje com notícia que o Clermont Foot 63, time da segunda divisão da liga francesa, contratou a portuguesa Helena Costa como sua treinadora. Você, leitor, de daqui uns 10 anos vai achar isso meio estranho, porém ela, em 2014, é a primeira mulher a treinar um time profissional de futebol.
A treinadora, que tem em seu currículo passagens pelas categorias de base do Benfica, e pelas seleções femininas do Catar e do Irã, não possui experiência como jogadora profissional, porém ela se preparou para a carreira como treinadora, é formada pela Universidade Técnica de Lisboa, mestrado Faculdade de Motricidade Humana da Universidade Técnica de Lisboa e doutorado pela Universidade Lusófona de Lisboa. Além de cursos e participações de seminários promovidos pela Federação Portuguesa de Futebol, pela FIFA e pela UEFA. Ou seja, experiência ela possui.

terça-feira, 6 de maio de 2014

Como assim Você É Ateu?

Como falei na minha crônica sobre ter depressão (leia aqui), eu sou ateu. Mas calma, sou uma boa pessoa. A ideia de escrever esse texto, que sempre esteve na minha cabeça, veio depois de algumas conversas com os pais dos meus alunos.
Não sei muito por qual motivo, a maioria dos pais dos meus alunos me questiona qual a minha religião. Acredito que pelo fato da religião fazer um grande papel na educação das pessoas, basta ver quantos colégios, escolas e universidades, têm alguma orientação religiosa.
A reação de quando falo sou ateu é quase sempre a mesma: espanto. Muitos deles confundem o fato de ser ateu, ou seja, negar ou não conceber a existência de um deus pessoal, com não ser católico, muitos me perguntam se eu sou evangélico, não sei o porquê. Alguns já me perguntaram se eu era judeu, mulçumano...
No senso comum, as pessoas tendem a confundir a religião com fé. Apesar de estarem bem próximas uma da outra, elas não são exclusivas uma da outra. Você pode ser cristão (fé) e não ser católico, protestante ou neopentecostal (religião).

segunda-feira, 5 de maio de 2014

Um Futuro para a Parada Gay

Gostaria de começar o texto pelo seu começo, porém preciso retroceder um pouco para evitar mal-entendidos e julgamentos errados. Para começo de conversa, você que ainda não me conhece, sou um grande defensor de todas as liberdades individuais. Todas, e nesse contexto a sexualidade eu encaro como um direito individual, ou seja, a sexualidade unicamente interessa aquele que a exerce. Cada um cuida do seu como bem entender.
Outra das minhas causas é defesa das chamadas “minorias”. Não gosto muito desse termo, pois detona algo a parte de uma sociedade democrática, assim eu prefiro o termo “vozes”. Acredito que a inclusão – social, econômica, política, digital, etc. – dos excluídos deve ser prerrogativa de qualquer livre pensador humanista.

sexta-feira, 2 de maio de 2014

Futebol, Racismo e Bananas

No último domingo (27 de abril), o lateral direito da seleção brasileira e do Barcelona fez um ato que causou furor no noticiário: ao bater um escanteio, um torcedor do Villareal jogou uma banana em campo, em ato puramente racista, e então Daniel Alves pegou a banana e a comeu.
Uma atitude genial, afinal ele embaralhou o campo semântico, ao tirar do ato, uma banana sendo jogada para um macaco (um negro ou pardo), ao reduzi-lo ao fato de uma banana ser... uma banana. Parece ser algo idiota, afinal bananas são frutas e frutas têm que ser comidas, porém ele fez um jogo intelectual muito complexo e com espontaneidade, o que mostra a ainda mais força por trás do ato.
O campo semântico tem muito poder, porque, simplificando muito, remetem à semiótica de signos, significado e significante. Ou seja, temos um signo, banana, que tem dois significados distintos, uma fruta e uma alusão racista, e frouxa, aos negros, e o que esse significado possui para o quem o observa, o significante. Naquela situação, naquele contexto, o segundo significado pareceria o mais apropriado. E ai que entra a virada no jogo do campo semântico. Em um lance que não dura dois segundos, Daniel Alves talvez tenha alcançado o maior feito de toda a sua carreira.

quinta-feira, 1 de maio de 2014

Diário de Bordo, Data Estelar 91934.68 (“Sim, Eu Tenho Depressão”)

A cena se repete, mais vezes do que gostaria, com outros elementos, com outros cenários, até com outros acontecimentos, porém o cerne da história é praticamente a mesma, por isso achei que dessa vez daria um texto, uma crônica, para ilustrar algo que levo preso à garganta.
Semana passada fui fazer uma entrevista de emprego em um colégio no Sacomã, bairro da região Sudeste da cidade de São Paulo, perto do Ipiranga e da Vila Prudente. A vaga era para ministrar aulas de sociologia, filosofia e história para turmas do 9º ano do Ensino Fundamental até o 3º ano do Ensino Médio, ou seja, seria responsável por uns 120 jovens ao todo.

quarta-feira, 30 de abril de 2014

Ventos da Liberdade com Cheiro de Cravo

Dia 25 de abril, última sexta-feira, marcou o 40º aniversário da Revolução dos Cravos em Portugal. O que representa essa data? Simplesmente uma das últimas, talvez a última, vitória contra o fascismo. Explico.
Nessa data, jovens militares portugueses, indignados com a situação política no país – Antônio de Oliveira Salazar, ditador fascista português de 1933 a 1970, data de sua morte, havia feito seu sucessor, Marcelo Caetano, perpetuando assim o salazarismo – e com as Guerras Coloniais, uma série de combates na África e na Ásia, nas antigas colônias portuguesas, onde o Estado Novo, nome do regime salazarista, tentava desesperadamente manter o controle de suas antigas possessões, resolvem se rebelar contra o status quo da sociedade portuguesa, e derrubar o regime.

quinta-feira, 24 de abril de 2014

Considerações sobre a Pesquisa Públicos de Cultura

No dia 11 desse mês, o Sesc e a Fundação Perseu Abramo disponibilizaram os resultados da pesquisa Públicos de Cultura, que tinham como objetivo traçar um perfil de consumo e consumidores de cultura no Brasil. Os resultados, como veremos, não são tão animadores. Mas antes disso, tenho alguns apontamentos a se fazer.
Em termos estáticos, é impossível fazer qualquer pesquisa com um universo completo, ou seja, seria impossível perguntar para todos os brasileiros quais são seus hábitos culturais, etc. Nem o Censo do IBGE consegue fazer isso, afinal para se fazer parte do Censo é preciso possuir uma residência, o que exclui andarilhos e pessoas que moram na rua.

Ai, Pondé...

No último feriado, dia 21, Tiradentes e segunda-feira, fomos brindados pela coluna semanal na Folha de São Paulo do professor de filosofia da PUC-SP Luis Felipe Pondé (o link para o texto está lá embaixo). O título? Por uma direita festiva. Só pelo título já dava para ter breves insights sobre o que viria pela frente...
Na coluna, o professor Pondé argumenta que os jovens de direita, ou liberais, por serem interessados em temas profundos como economia e política, e por encararem isso de maneira séria, honesta e profundamente, não conseguiriam “pegar mulher”, afinal as pessoas de esquerda tem um discurso mais próximo ao coração, que serve para atrair jovens mulheres da classe alta entediadas.

quarta-feira, 23 de abril de 2014

A Reinvenção da Educação?

É possível ter uma boa ideia, ganhar dinheiro com ela e ser completamente honesto ao transmitir um conceito que é correlato a ela? Eu sei que é complicado... Mesmo se for totalmente honesto, eu, como Diógenes, tenho uma lanterna à mão à procura de um, ainda assim um leitor mais atento e crítico tende a questionar quais são as suas intenções ao transmitir, ou propagandear, o seu conceito.
Em Um Mundo, uma Escola: A educação reinventada, do estadunidense Salman Khan, notamos essa boa intenção que visa fazer propaganda de si mesmo. Khan esmiúça uma nova metodologia e um novo paradigma para um modelo escolar; todavia essa lufada na pedagogia está calcada em sua própria empresa, a Khan Academy.
Vejam, a ideia exposta no livro é muito boa, e consiste na renovação da educação tendo como base a informática. Khan propõe uma nova abordagem à pedagogia, onde eliminaríamos alguns elementos sacros para a educação, como a aula expositiva, a divisão por turmas, as provas, a lição de casa e até o papel do professor.

terça-feira, 22 de abril de 2014

Era Para Ser Um Mosteiro, Mas Foi um Happening

No último domingo (20), Páscoa, eu e minha esposa, uma mulher muito espiritualizada mas não necessariamente religiosa, fomos assistir a missa no Mosteiro de São Bento, localizado bem no centro de São Paulo. Ela, foi por conta da alma; eu, por conta do canto gregoriano e por conta do concerto de órgão. Aliás, essa é uma ótima dica cultura para os paulistanos: todo domingo às 10:00 o mosteiro oficia missa com concerto de órgão e com canto gregoriano, é uma missa linda, alegre e leve.
Chegamos com mais de meia-hora de antecedência, e como de praxe, o mosteiro encontrava-se completamente lotado. Sigamos o mesmo roteiro e ficamos do lado esquerdo da nave, debaixo do órgão de pé.

quinta-feira, 17 de abril de 2014

Pelo Direito de Ouvir o que não Quer

Nos últimos dias, tem sido veiculado a notícia que Rachel Sheherazade, âncora e comentarista do Jornal do SBT, após os seus infelizes comentários sobre o jovem criminoso acorrentado por vigilantes no Rio de Janeiro, foi posta em “férias” e depois foi retirado o espaço para seus comentários durante o espaço do editais do telejornal.
Eu não compactuo de forma alguma com as opiniões e pontos de vista de Sheherazade. Não consigo concordar com essa ideologia de “bandido bom é bandido morto” ou que “prisão tem que ser ruim para o marginal pagar seus pecados”. Acredito nas causas sociais, ambientais e psicológicas do crime. Ou se trata-se todos os criminosos dessa forma, isso inclui você que paga uma cervejinha ou um café para o policial naquela blitz pós-balada na Vila Olímpia para ele não te enquadrar na Lei Seca, ou você que tira racha em qualquer avenida, ou seja, para qualquer um age contra a lei de alguma forma. Não é essa a definição de bandido e marginal?
Porém, mais do que ser contra as opiniões da Sheherazade, sou contra qualquer tipo de censura, seja ela oficial, ou seja, calcada nas bases da lei, ou velada, com ameaças e coerções. A censura é um dos aspectos mais repugnantes que pode existir em estados totalitários, pois fere dois direitos básicos do cidadão: o de expressão e o de informação.

quarta-feira, 16 de abril de 2014

As Damas do Século XII (Georges Duby)

A historiografia francesa durante o século 20 foi responsável por grandes e importantes mudanças metodológicas para a História. O rol de historiadores que contribuíram para isso é enorme, passando por Marc Bloch e Fernand Braudel, passando por Jacques Le Goff e Georges Duby.
Esse último, dedicou a sua carreira profissional, tanto como professor quanto como pesquisador, a buscar entender o papel das coisas “simples” da vida para a contribuição do processo histórico. Basta lembrar que ele foi o responsável por organizar a coleção História do Cotidiano, lançada no Brasil pela Companhia das Letras.
Duby e Le Goff se debruçaram na Idade Média, muito para tentar derrubar alguns mitos criados pela historiografia romântica do século 19 sobre a formação do estado francês.
Em As Damas do Século XII (Companhia de Bolso), Duby utiliza de fontes documentais e fonte literária para traçar um painel sobre o papel da mulher na vida das cortes flamengas, francesas e inglesas durante o século 11.
O livro, reunião de outros três trabalhos, traz uma abordagem interessante: o quanto o mundo masculino, representado basicamente pelo alto clero católico e pelo poder militar dos senhores feudais, temia e mistificava o mundo feminino. Os exemplos devassados de Eleonor de Aquitânia, de Isolda e de Heloísa são fascinantes.

terça-feira, 15 de abril de 2014

Sobre Palavras

Esses dias – ontem, para ser mais específico – fui dar aula, de matemática, pasmem!, para duas meninas do Colégio Santo Ivo, e como de costume eu me apresentei dizendo meu nome, minha idade, que elas poderiam me chamar pelo nome, que eu dava aula particular desde os 17 anos de idade e que era escritor, e que meu primeiro livro será lançado em breve.
Quando mencionei esse último fato para elas, prontamente entraram em choque, era como se tivessem visto um fantasma, um ser encantado. Eu me senti, sentado ali naquela sala de estar, como um unicórnio sendo devassado por exploradores que não deveriam ter tomado a segunda direita.