Pesquisar este blog
sexta-feira, 26 de dezembro de 2014
quarta-feira, 24 de dezembro de 2014
Feliz Natal
Desde sempre, tenho uma ligação
muito especial com o Natal. Mesmo sendo, como sabe-se, ateu. Minha ligação com
o Natal, e com o Ano Novo, é muito mais familiar do que espiritual; tento na
medida do possível não acreditar em nenhum tipo de misticismo, seja ele de
qualquer natureza. As Festas, em casa, sempre, ao menos no olhar da criança,
foram uma oportunidade momentânea de se enterrar a machadinha e reunir um grupo
de pessoas que compartilham ligações genéticas e sanguíneas, além das ligações
de afetividade. Se de fato tudo não passava de um jogo de cena, não estou
disposto a especular e nem explorar.
Resumindo: mesmo carregando
enormes críticas ao pensamento mágico e à ética do capital, eu gosto muito do
Natal.
sexta-feira, 19 de dezembro de 2014
Afastamentos
Tudo aconteceu muito rápido, como,
aliás, quase tudo nesse mundo hiperconectado e de relações tão incrivelmente
diluídas e difusas. Hoje, sabemos, por fotos, o que todos comemos em uma
reunião casual, mas, sem ofender, realmente nos relacionamos entre si? Pois é.
Voltando.
Bastaram uma eleição e um punhado
de investigações político-juridícas para uma dura realidade bater bem à minha
cara: minhas amizades começaram a de fato rarearam, ou simplesmente, acabaram.
Não ponho na conta, tal fenômeno, da suposta polarização partidária que
vivemos, as ideologias políticas aportadas em bandeiras partidárias no Brasil
são meramente fugazes. As diferenças fraternas eram, são, muito mais profundas
do que qualquer derby político.
segunda-feira, 8 de dezembro de 2014
quinta-feira, 4 de dezembro de 2014
quinta-feira, 20 de novembro de 2014
Mea Culpa... ou Por Que É Tão Difícil Parar de Ler um Livro Ruim?
É com muito pesar que admito um
esqueleto no armário: eu gosto muito dos livros escritos pelo Dan Brown. Sim,
eu sei, ele escreve com uma fórmula pronta para simplesmente vender livros e
ganhar muito dinheiro, e com isso vender os direitos de seus livros para o
cinema e assim ganhar mais dinheiro ainda, num círculo quase infinito.
Isso sem falar da qualidade de
suas histórias, que são, no mínimo, previsíveis e um tanto quanto absurdas,
mesmo que plausíveis. Mas mesmo assim eu não consigo parar de ler qualquer
livro que ele escreva, mesmo com vergonha de ler seus livros. Aliás, eu tenho
essa sensação com a maioria dos autores de best-sellers,
um dos meus autores preferidos é o Ken Follet, cuja literatura é tão rasa
quanto um pires, porém suas histórias são muito bem narradas e construídas.
sexta-feira, 14 de novembro de 2014
O Uso Político do Revisionismo Histórico
O historiador tem como dever, e
função, sempre olhar para o passado de forma crítica. Já há muito tempo que a
História se afastou da busca de uma verdade única e totalizante, nos dias
atuais a ciência histórica está cada vez plural em sua interpretação dos fatos
e tempos históricos, tanto nas conclusões quanto no método.
Atualmente, historiadores podem
chegar à conclusões muito ímpares em uma mesma linha de pesquisa. Pegue por
exemplo a história colonial no Brasil: existem teorias tão diversas sobre a
cultura canavieira que poderíamos levar uma vida de leitura apenas para
entender os modelos propostos.
Uma das maneiras de olhar
criticamente para o passado é revisar as interpretações, com base em
documentação e dados, passadas. Isso não implica em negar fatos históricos,
como alguns adeptos do chamado revisionismo histórico usam como método.
quinta-feira, 13 de novembro de 2014
Diário de um Professor: A Educação e o Pensamento Crítico no Brasil
O grande filósofo inglês Bertrand
Russell, no ensaio Livre-Pensamento e Propaganda, publicado em 1928,
define os fins da educação da seguinte forma: “(...) A educação deveria ter
dois objetivos: primeiro, oferecer um conhecimento definitivo, leitura,
escrita, linguagem e matemática, e assim por diante; segundo, criar hábitos
mentais que capacitem as pessoas a adquirir conhecimento e a formular
julgamentos sólidos. O primeiro deles podemos chamar de informação; o segundo
de inteligência. (...)”. Tal afirmação estaria ainda mais precisa se
incluísse o caráter social da escola, porém é preciso notar que ele diz
educação e não escola.
Passados quase noventa anos, a
nossa educação ainda não conseguiu atingir esse estágio de desenvolvimento. Por
diversos motivos, entre os quais a aplicação dos métodos neoliberais, a
educação brasileira cada vez se vê mercantilizada e refém de uma lógica
perversa.
Explico.
Marcadores:
diário de um professor,
educação,
ensaio,
finalidade da educação,
informação,
inteligência,
lógica da educação,
pedagogia,
pensamento crítico
quarta-feira, 12 de novembro de 2014
Porque Continuo Lendo Quadrinhos
Se há uns 18 anos atrás o Bruno de
hoje se encontrasse com o Bruno de ontem e os dois conversassem sobre a marcha
inexorável do tempo, e suas marcas na vida cotidiana, o Bruno de ontem ficaria
muito espantada com a afirmação do Bruno de hoje que ele ainda lê histórias em
quadrinhos, principalmente histórias em quadrinhos de super-heróis. Acho que o
Bruno de ontem esperava que o Bruno de hoje, ainda mais esse hoje sendo hoje,
esperaria que ele apenas lesse alta literatura e filosofia contemporânea... Ah,
como somos ingênuos na mocidade.
Muita gente, em especial aqueles
que me conhecem mais superficialmente, acham estranho pra caramba eu gostar de
coisas, aparentemente, tão difusas como Wolverine e Bertrand Russell. Mas
aconteceu, o que eu posso fazer?
Antes de tudo, é preciso explicar
que há muito tempo os quadrinhos não são um amontado de asneira nacionalista ou
ideológica. Cada vez mais, as histórias dos heróis vêm se aproximando de um tom
mais realista, tocando assuntos do cotidiano e com uma profundidade dramática e
narrativa cada vez maior. Para os mais jovens, adolescentes e jovens adultos
principalmente, contemporâneos, é na mitologia dos heróis e nos games é
que estão o grande depósito e espelho narrativo de sua geração. E não é à toa:
a televisão e o cinema cada vez mais retratam o jovem como um modelo pronto e
acabado, o que está longe da realidade dos mesmos.
Marcadores:
artigo,
batman,
histórias em quadrinhos,
homem-aranha,
leitura,
mitologia,
nerdologia,
opinião,
superman,
turma da mônica,
wolverine
terça-feira, 11 de novembro de 2014
O Debate Político na Era das Mídias Sociais
Se algum marciano pousasse na
Esplanada dos Ministérios agora e entrasse na internet, ainda mais se ele
entrasse em alguma rede social, e depois alguém lhe contasse que tivemos, no
Brasil, um dos pleitos mas acirrados e competitivos de todos os tempos, nosso
amigo só poderia nos dizer:
- Vocês mentem em um ou em outro,
ou são completamente malucos.
Nosso pequeno, e hipotético, amigo
verde de longas antenas teria toda razão em pensar dessa forma. Se olharmos
nossas timelines perceberemos que o assunto das eleições já é papel de
embrulhar peixe. O problema, para esse mero escriba, não é a velocidade em que
os ciclos de notícias nascem em morrem nas mídias sociais, mas sim uma falta de
perenidade nos macrotemas.
segunda-feira, 10 de novembro de 2014
Uma Berlim, Uma Alemanha, Uma Europa
Ontem, dia 9, comemorou-se os 25
anos da Queda do Muro de Berlim. Para mim, tal evento tem duas importâncias:
uma pessoal e outra “profissional”. Pessoal, afinal uma das primeiras memórias
que eu tenho com total absoluta e certeza é ver o Pedro Bial de frente para o
Portal de Brandemburgo noticiando a queda do muro. Algo naquela imagem plasmou
em mim uma verdadeira fixação pela Alemanha, tanto que eu sempre tive uma
verdadeira adoração à cultura e a hisória germânicas. É incrível o poder da
memória em nós...
A outra, a “profissional”, afinal
de contas estou em vias de me tornar “historiador”, é mais evidente e direta:
estamos diante de um dos mais importantes episódios, ou fatos, históricos dos
últimos 30 anos. Acho que juntamente com o 11 de setembro e a Revolução da
Internet, a Queda do Muro de Berlim define, pelo menos em boa parte, a nossa
atual conjuntura.
sexta-feira, 7 de novembro de 2014
Pelo Direito à Escolha
Estou para redigir esse texto
desde o último final de semana. Mas, como diria Getúlio Vargas, forças ocultas
se levantaram contra a minha pessoa. E há vários motivos para que essas forças
ocultas se levantassem, afinal falarei de um tema bem espinhoso: o direito para
escolher quando morrer. O leitor mais atento reparou que eu utilizei apenas o
direito a morrer, não o de morrer quando em estado terminal. O caminho pelo qual
trilharemos é espinhoso, torto e com diversas armadilhas, afinal poucos tabus
são maiores do que a morte na nossa sociedade. Há uma verdade miríade de
assuntos correlatos a morte que nos levam a ter uma opinião sobre ela, passando
pela biologia até a moral religiosa.
Meu estopim para finalmente
escrever sobre o assunto foi a morte da norte-americana Brittany Maynard, que
escolheu o caminho do suicídio assistido para não sofrer e causar sofrimento.
Maynard tinha um caso grave de tumor cerebral que a faria definhar com o tempo,
então, em uma atitude muito corajosa, resolveu acabar com o seu sofrimento e
daqueles que os rodeavam.
segunda-feira, 3 de novembro de 2014
Por Amor À Argumentação
Como todos sabemos, moro na região
da Avenida Paulista e sabemos, mais ainda, que durante o final de semana que
passou tivemos uma manifestação, todos têm direito a se manifestar em um estado
de direitos, contra a eleição da presidente Dilma. Afinal vivemos, mesmo que
ainda não percebam, em uma democracia frágil e ainda engatinhando. Vivemos
aquele que um dia virá a ser a Idade de Ouro da nossa democracia. Ao áureo
metal me refiro como questão histórica, não como governo(s), nosso tempo ainda
vai ser lembrado como o tempo em que votamos para presidente, tiramos o mesmo
do poder, elegemos um intelectual, um metalúrgico e uma ex-guerrilheira.
Não podemos perder o foco, por
isso voltemos.
quinta-feira, 30 de outubro de 2014
Diário de um Professor: Quem Quer Ser Professor?
Muito se fala da qualidade da
escola (pública) brasileira, que acredito não ser o monstro que todos pintam, e
da falta de professores, e desses se crítica a motivação e o empenho deles. Ai
há dois aspectos bem diferentes: o primeiro se resolveria com uma reforma do
sistema educacional brasileiro, que hoje visa apenas a formação de
profissionais e a perpetuação do status
quo social; o segundo é um ponto mais profundo, talvez uma mudança de
mentalidade e uma política de avanços trabalhistas.
Um dos calcanhares de Aquiles da
educação é a figura do professor. Totalmente idealizado ao longo do século 20,
a imagem do professor passa por uma crise sem procedentes. Somos tachados de
abnegados, fazedores de um bem maior, guias para o sumo-saber, entre outros
predicados que nos aproximariam cada vez mais das sacerdotisas apolíneas.
Claro, que há o fator de
transmissão de saber, mas o professor antes de tudo é um fomentador de saber.
Ele seria uma espécie de empreiteiro do conhecimento. Só há professores se há
alunos.
quarta-feira, 29 de outubro de 2014
#legalizadilma
Uma das maiores heranças de 1789
foi a disseminação dos direitos individuais do ser humano. Os revolucionários
franceses, eu se afã de universalizar todos os aspectos da vida humana,
disseminaram a ideia de que todos os homens têm direitos e deveres
igualitariamente, de acordo com a lei, não importando origem social, credo ou
riqueza. Claro, que durante o movimento não funcionou perfeitamente, afinal as
mulheres não tinham os mesmos direitos do que o homem, entre outros aspectos.
Era criado, ou retomado, o conceito de cidadão e de cidadania. Sendo você um
cidadão, sujeito com direitos e deveres políticos, está respaldado pela lei.
Esse tipo de pensamento, muito
comum no iluminismo, especialmente em Kant, revolucionou o Estado e os costumes
das pessoas. Talvez uma das maiores mudanças já enfrentadas pelo ocidente sua
história. Não é em vão que o maior produto que vendemos aos “outros” é a
república democrática.
terça-feira, 28 de outubro de 2014
A Pedra Fundamental do Tradicionalismo
Os modernistas têm o mérito, no
campo da literatura, de ser o primeiro movimento genuinamente brasileiro. A
cabeça no mundo, mais os pés bem fincados no Brasil. Isso todo um sabor
especial para a nossa literatura, diferentemente do regionalismo romântico, o
moderno era de fato brasileiro, não uma cópia ou tentativa de aproximação dos
estilos norte-americanos e europeus, principalmente o alemão.
Dentro do modernismo, um dos
grandes nomes do regionalismo literária está o gaúcho Erico Verissimo e suas
narrativas sobre o Rio Grande do Sul. A prosa de Verissimo é de fôlego e um
lirismo magnânimo. Porém não é inédita em sua fonte.
Antes de Verissimo houve Simões
Lopes Neto. Folclorista, Lopes Neto conseguiu catalogar na palavra escrita
diversas lendas e histórias da cultura gaúcha criando a base do movimento
tradicionalista, inclusive criando a figura do gaúcho no imaginário do Rio
Grande.
segunda-feira, 27 de outubro de 2014
Festa da Democracia
A intenção desse texto é
apresentar um breve e pequeno balanço sobre as eleições majoritárias desse ano.
Antes de mais nada, e que você saia me xingando ou qualquer coisa do tipo, acho
necessário abrir meu voto, então eis-los: Luciana Genro (primeiro turno para
presidente), Dilma Rousseff (segundo turno para presidente), Eduardo Suplicy
(senador), Alexandre Padilha (governador), Legenda do PSol (deputado estadual e
federal). Como podemos perceber, meus votos foram mais à esquerda, voltado para
um projeto mais progressista e com o viés de desenvolvimento social, não que eu
veja necessidade de justifica-los, ainda mais aqui.
Os dois votos mais difíceis para
mim foram para governador e no segundo turno presidencial. Segundo o primeiro,
a grande dificuldade era ter que escolher algum candidato de peso e força que
pudesse ao menos forçar um segundo turno, afinal o projeto tucano em São Paulo
sofre de certo comodismo e um senso de perpetuamento no poder; um segundo
turno, e uma expectativa real de perder o Palácio dos Bandeirantes fariam o
PSDB paulista fazer uma autocritica mais profunda; infelizmente não aconteceu,
acredito muito pelo fato do PMDB e do PT em São Paulo não terem se unido para o
pleito estadual, além do PSol ter lançado Gilberto Maringoni ao invés de
Vladimir Safatale para concorrer ao cargo (Safatale tem mais penetração com o
público médio, afinal ele tem colunas tanto na Folha de São Paulo quanto na
Carta Capital, além de carregar muitos votos por ser professor do instituto
mais politizado da USP).
quinta-feira, 2 de outubro de 2014
Diário de um Professor: Eleições e Educação
Nesse final de semana vamos às
urnas mais uma vez. Mais uma vez, desde 1989 depois de um hiato de 29 anos, o
brasileiro vai poder escolher livremente, na frieza da lei escrita, seus
representantes para exercer o poder. É preciso ressaltar que estamos vivendo o
segundo maior período da República com votações diretas para presidente, o
maior período é o que vá de 1891, dois após a proclamação da república, e a
eleição de Júlio Prestes, que foi eleito mas não chegou a tomar posse, em 1930.
Vivemos, talvez, o maior período
democrático para presidente. Para compararmos eu, com 32 anos, já votei para
presidente três vezes, o meu pai, com 58 anos, votou para presidente somente
seis vezes, sendo a primeira em 1989. Eu votei para presidente pela primeira
vez com 20 anos, meu pai voltou com 33 anos.
terça-feira, 30 de setembro de 2014
Horário de Almoço: uma crônica sobre política
OBS.: O texto que seguirá é de cunho altamente ficcional, baseado
na minha imaginação e vivência, qualquer semelhança com a realidade, fatos e
pessoas, vivas ou mortas, não é mera coincidência.
Estava na firma, no trabalho para quem é fora de Sampa, ontem, no dia
seguinte ao penúltimo debate presidencial na televisão. Como sabemos, além do
clima xoxo e o debate em-si raso, ele foi marcado, ou melhor: maculado, pela
declaração homofóbica do candidato do Partido Renovador Trabalhista Brasileiro,
Levy Fidelix em resposta à pergunta elaborada pela candidata Luciano Genro, do
Partido Socialismo e Liberdade.
Na hora do almoço, depois de um PF meio safado, entre um café e outro,
começaram a discutir a declaração do simulacro de Sr. Spacely, eu apenas a
ouvir:
segunda-feira, 29 de setembro de 2014
Brahms, Debussy, Ravel
Ontem, no maior espírito de ser
paulistano, cumpri uma promessa, empenhada há mais de cinco anos: levar a minha
esposa, e não a mulher que mora comigo (essa ironia é bem direcionada), para ir
no Theatro Municipal. Ambos gostamos muito de música, eu um pouco mais, e fora
o que somos apaixonados pelo centro de São Paulo e sua arquitetura tão
eclética, no sentido de ecletismo mesmo.
O programa era muito atraente: Concerto para Violino em Ré Maior, op. 77
de Johannes Brahms, La Mer de Claude
Debussy e a segunda suíte do balé Daphnes
et Chlöe de Maurice Ravel. A Orquestra Sinfônica do Theatro Municpal foi
regida pelo britânico Alexander Joel, e teve como solista o russo Boris Belkin.
Aqui dois apartes: não sei vocês, mas para mim, quase todo solista, ainda mais
virtuoso, ainda mais de violino ou de piano, é oriundo de algum país que um dia
já fora membro do Pacto de Varsóvia; e segundo: não gosto do termo maestro, e
sei que diversos músicos também não gosto, assim como também não gosto do termo
regente, bem em voga ultimamente, pois ele vem do verbo reger, que vem do régio
poder, nessa parte eu prefiro os termos em inglês (conductor) e em francês (conducteur),
afinal, leigamente, acredito que o papel do condutor, ou regente, ou maestro, é
justamente conduzir a orquestra em seus ensaios e em suas apresentações.
sexta-feira, 26 de setembro de 2014
Diário de um Professor: A Escola Tradicional e a Criatividade
Uma das grandes preocupações dos
pais hoje em dia, no que tange à educação e a pedagogia, é a qualidade da
escola que seus filhos frequentam. Querem uma escola forte, com uma forte
preocupação com a disciplina e que seja um agente na inserção social das
crianças. Esse é a definição, rasa, eu sei, de uma escola forte. De escola,
enfim, tradicional. Há um detalhe nesse tipo de escola, nesse tipo de pedagogia,
que é a padronização. A escola tradicional está calcada em ideias do Iluminismo
que tendem ao universalismo do que ao individualismo, dessa forma esse tipo de
escola faz com todos os alunos tenham o mesmo conteúdo, com o mesmo método, com
o mesmo professor e, e aqui está um dos seus maiores equívocos, os alunos são
avaliados da mesma forma contando com o mesmo peso para as matérias.
O grande problema desse tipo de
avaliação é que há um escalonamento das matérias, elas tendem a se dividir em
três grandes grupos: línguas e matemática, em primeiro plano, ciências sociais
e naturais, em segundo plano, e, em terceiro plano, as artes e a educação
física. Se você reparar, até a carga de aulas segue esse escalonamento.
Marcadores:
aprendizagem,
criatividade,
desempenho escolar,
diário de um professor,
educação,
educação de massa,
escola tradicional,
pedagogia,
sistema de ensino
segunda-feira, 22 de setembro de 2014
Carta Aberta de um Palmeirense
Anteontem, dia 21, foi meu
aniversário; meu 32º natalício. Nasci em São Paulo, em 1982 (o melhor ano da
música do século 20). Para comemorar, dividi as festividades em duas frentes:
nesse final de semana, viajei para Itu, cidade próxima da capital, conhecida
por seus exageros e por ser berço do movimento republicano brasileiro; e, no
domingo que vem, vou pela primeira vez assistir um concerto no Theatro
Municipal de São Paulo.
A viagem para Itu foi muito boa,
já conhecia a cidade, de várias viagens escolares para a cidade, mas conheci de
fato conhecer a cidade, principalmente pelo seu patrimônio histórico da era
imperial brasileira. Fora o passeio urbano, feito de caminhares de mãos
entrelaçadas, fiz um outro passeio que me chamou muito atenção: conhecer a
Estrada Parque, antiga Estrada dos Romeiros, que liga Itu a Cabreúva, margeando
o Rio Tietê, que, uma pena, paga pela urbanização desenfreada e irresponsável
da Grande Metrópole.
quarta-feira, 17 de setembro de 2014
Um Paulistano
OBS.: O texto que se seguirá é de cunho altamente ficcional, baseado
na minha pura imaginação, qualquer semelhança com a realidade, fatos e pessoas,
vivas ou mortas, é mera coincidência.
Meu bom leitor, proponho um
exercício de criatividade hoje. Imaginemos uma pessoa nascida na capital do
estado de São Paulo, mais ou menos nos anos 1980. Essa pessoa é oriunda de uma
família estável, morou a vida inteira em um bairro de classe média típico,
digamos o Jabaquara, educado em boas escolas, mesmo quando eram públicas, com
muito esforço seu, e de seus pais, entrou na USP, conseguiu alguma
independência financeira, no começo do entendimento da vida política tinha medo
do PT, pelo fato de ser... o PT, tinha uma leve admiração pelo Mário Covas,
influenciado pela mãe, principalmente.
terça-feira, 16 de setembro de 2014
Diário de Bordo, Data Estelar 68173.2
Viventes e leitores, estou de
volta ao Grão-Tucanato da Paulicéia, onde o cinza é mais cinza, o verde mingua,
e, pelo andar da carruagem, vamos precisar de muita esperança para vermos a
situação do fornecimento dos recursos hídricos reestabelecidos. Vamos ter que
prender a respiração, porque a jornada vai ser complicada. Eu já estou até
pensando em adotar um outro cachorro e chama-lo de Baleia.
Passei 10 dias em Sete Lagoas,
Minas Gerais, na antessala do Sertão – aliás, esse Sertão, em caixa alta, vai
ser tema de um ensaio literário para breve – me recuperando de um surto de
ansiedade e depressão que quase me levou à decisão final.
quinta-feira, 11 de setembro de 2014
Diário de um Professor: A Depressão e o Lecionar
Como o leitor mais assíduo deste
humilde blog já sabe, eu tenho depressão e ansiedade. Esse mesmo leitor também
sabe que eu sou professor, na verdade, verdade mesmo, sou mais um preceptor. Já
contei aqui alguns perrengues que passei por conta desses dois fatores. Aliás,
muita gente me pergunta como eu concílio essas duas vertentes da minha
personalidade.
Como hoje, particularmente, está
sendo um dia meio ruim para mim, a produção ou a captação de serotonina por
minha parte não está me ajudando muito, então resolvi tentar responder essa
pergunta.
Ter depressão associado com
transtorno de ansiedade generalizada (TAG) e lecionar, como equacionar esses dois
fatores? É BEM complicado, querido leitor. As duas doenças me fazem ter alguns
problemas, e até uma leve síndrome do pânico, tenho grandes problemas para sair
de casa, ou da minha zona de conforto, e para me relacionar com as pessoas, por
algum motivo que eu não sei/consigo explicar, eu tendo a querer me afastar
muito das pessoas, uma espécie de misantropia. Eu me relaciono muito melhor com
os humanos, e mesmo com os humanos com quem eu realmente me importo, através
dos meios eletrônicos.
E como te tudo isso, e ainda assim
ter que dar uma aula, que basicamente consiste em se envolver com os alunos e
transmitir o seu, ou um, conhecimento através de uma comunicação clara e
objetiva?
Bom... eu não sei responder à essa
pergunta, ou até sei, mas dai teria que fazer um texto bem longo e você,
leitor, não quer isso, quer? Apenas consigo dizer, não racionalmente, que eu me
transformo quando viro professor, meio como Batman e Bruce Wayne. Tanto que
estou tentando conseguir mais e mais alunos para ter menos períodos Bruce Wayne
(depressivo e ansioso) e mais períodos Batman (professor comunicativo, falante
e bem disposto).
Um dos grandes problemas desse
problema conjunto é não deixar passar para o aluno o meu estado de espírito. As
crianças têm uma capacidade enorme de observação e uma sensibilidade fora do
comum, e elas conseguem captar quando está tudo bem e quando está tudo mal com
o professor, ainda mais porque ainda temos uma visão de divisão política entre
alunos e professores, e sendo esses últimos colocados em um grau de
superioridade.
Confesso que tenho muita
insegurança em que me estado de espírito possa atrapalhar o aprendizado e o
desempenho dos meus alunos, tanto que em dias em que eu realmente não tenho
forças nem para sair da cama, e quem tem depressão sabe do que eu estou
falando, eu tento não dar aulas, por medo de atrapalhar, ao invés de colaborar,
com os meus alunos.
Para concluir: é uma situação,
para mim, muito complicada solucionar esse problema, principalmente com a minha
preocupação para com o aprendizado e o desempenho dos alunos, não sei se todo
professor que está na mesma situação do que eu. Mas posso afirmar positivamente
que lecionar, assim como exercer o meu lado criativo, é uma ferramenta poderosa
na busca de um ponto de harmonia, e de quem sabe, uma possível cura.
quarta-feira, 10 de setembro de 2014
A Esquizofrenia Eleitoral Paulista
Nasci em São Paulo, ali no antigo
Hospital Matarazzo, há 32 anos. De lá para os nossos dias, a dita “Locomotiva
do Brasil” (termo que me causa mais náuseas do que comer um churrasquinho grego
do Largo do Paissandu) teve como ocupantes do Palácio dos Bandeirantes os
distintos cavalheiros: José Maria Marin, André Franco Montoro, Orestes Quércia,
Luís Antônio Fleury Filho, Mário Covas, Geraldo Alckmin I, Gerado Alckmin II,
Cláudio Lembo, José Serra, Alberto Goldman e Geraldo Alckmin III.
Com a exceção de Marin, e isso
pode soar BEM estranho, todos governadores são da mesma corrente política: uma
direita conservadora travestida de direita liberal. Marin, como todos sabemos,
assumiu seu mandato pela ARENA, depois do dr. Paulo Maluf ter renunciado.
segunda-feira, 8 de setembro de 2014
A Chuva
A proposta desse blog não é
divulgação do meu trabalho literário, acredito que hajam outros métodos e
espaços para tal, porém ontem ao revisar o meu próximo livro, O Livro de Taw e
outras histórias, me deparei com um texto escrito há alguns anos, que havia
pensado esquecer ou que seu mérito era muito ruim, entretanto para meu total
espanto, o tal escrito era muito bom, muito bom mesmo, segundo os meus
critérios, evidentemente.
Então, para compartilhar com você,
leitor, esse meu pequeno orgulho, e lhe dar um pouco do que está por vir em O
Livro de Taw e outras histórias, eu apresento a você A Chuva.
domingo, 7 de setembro de 2014
Síndrome de Odorico Paraguaçu
Em dia de grito no riacho Ipiranga
e em épocas de pleito eleitoral, é sempre bom rever algumas coisas que estão
acontecendo nesse ano de eleições. Não pretendo julgar cada um dos candidatos,
mas sim o quadro geral das eleições majoritárias brasileiras desse ano.
Sobre o que pretendo opinar aqui é
o discurso em geral das eleições desse ano. Primeiro, acredito que o nível do
debate desse pleito consegue estar ainda mais baixo do último pleito.
sábado, 6 de setembro de 2014
Diário de Bordo, Data Estelar 68148.1
Permita-me, leitor, divagar um
pouco nesse texto. Partirei de uma premissa, e tentarei chegar à uma conclusão
de ordem prática. Essa premissa primeira é uma pergunta, ao meio de várias
turbulências e horas de uma melancolia que desperta com o simples farfalhar das
asas de uma borboleta: eu ainda tenho esperança, seja ela qual for?
Claro que sim, não tenho porque
desistir. Acredito que haja alguma redenção para mim, em alguma curva do
destino, ou de uma dobra no tecido do espaço-tempo. E por que acredito, sendo
cético, em algo tão vago e impreciso? Simples: no fundo, todo homem procura a
felicidade, seja em si mesmo ou no exterior de si.
quinta-feira, 4 de setembro de 2014
Diário de um Professor: Secret, Cyberbullying e a Educação
Para começar esse texto eu
gostaria de evocar o mestre Arthur Schopenhauer: “Em primeiro lugar, portanto, deveria ser destruído de toda velhacaria
literária: o anonimato. (...) No
entanto, (...) o anonimato serve apenas para subtrair toda responsabilidade a
quem não é capaz de defender o que diz, ou talvez até ocultar o opróbio de quem
é venal e infame o suficiente para apregoar em público (...). Amiúde o
anonimato serve meramente para encobrir a obscuridade, a insignificância e a
incompetência do julgador. (...) Pois quem é honesto não ataca sob máscara e
capuz pessoas que passeiam com a face descoberta (...)”. Apesar de se
tratar de um escrito do século 19, e falar mais sobre a criação literária, esse
trecho de Sobre o Ofício do Escritor
não poderia estar mais fresco e atual.
Principalmente com a disseminação
do aplicativo Secret, que pelo meu
conhecimento permite que você faça ofensas e injúrias, de forma anônima, e que
isso seja compartilhado pelas redes sociais. Corrijam-me, se errado.
Nenhum dos meus alunos foi
diretamente atingido por tal aplicativo – que, convenhamos, é meio babaca –
porém acompanhei um caso na minha família de quem sofreu algum tipo de prejuízo
com tal aplicativo.
O episódio fora o seguinte:
crianças de um colégio tradicional de São Paulo resolveram criar uma lista das
pessoas mais esquisitas da escola, e esse meu parente acabou entrando na
malha-fina. Essa criança, obviamente, apresentou pequenas mudanças comportamentais,
de aprendizado e até possíveis danos sentimentais e emocionais.
A escola, obviamente, não fez
nada, afirmando que a responsabilidade seria ou dos responsáveis dos bullys ou da própria empresa que
desenvolve o aplicativo, ou de quem o disponibiliza. Basicamente, a escola deu
uma de Pôncio Pilatos: eu lavo as minhas mãos.
A escola, idealmente, deveria ser
uma extensão da casa e um espaço de múltipla-convivência social, ou seja, ela
deveria garantir aos seus alunos um modelo de conduta e de sociabilidade, porém
com a mercantilização corrente do sistema de ensino, basta ver a
supervalorização das apostilas e da questão do resultado e do desempenho
escolar, as escolas estão perdendo esse caráter social e apenas criando
marcadores excepcionais de cruzinhas. Aos pais dos alunos, é preciso haver
vigilância, afinal é sim de responsabilidade deles o que os filhos fazem ou
deixam e fazer.
Muitas pessoas que não estão em
idade escolar tende a pensar que o bullying
é uma frescura, e que nós temos que deixar de lado, afinal nos nossos
tempos a gente resolvia qualquer querela com meia dúzia de sopapos. Acho isso
de uma falta de discernimento incrível, é simplesmente não entender que TUDO no
planeta evolui, e que a pedagogia e a psicologia também evoluem. Não lidar efusivamente
é quase igual a não tratar uma doença nova, ou recentemente descoberta, por que
no meu tempo...
Eu, entretanto, acho que os
grandes responsáveis são dos desenvolvedores desse aplicativo. A pergunta que
eu faço é: não seria melhor empregado toda essa força criativa e tempo para
fazer algo que seja realmente útil e não algo que possa disseminar tanto ódio e
babaquice pelo mundo?
quarta-feira, 3 de setembro de 2014
Uma Jornada ao Coração da Loucura
Ler O Coração das Trevas, para quem gosta da
boa literatura produzida nos últimos dois séculos, é quase que uma obrigação. E
por que digo isso? Simples: sua história permanece mais do que atual, pois
trata, paralelamente, de dois assuntos: o imperialismo europeu na África e da
loucura do poder.
Nessas duas
vertentes, nesses paralelos, ainda há muito frescor no clássico de Conrad, como
a ganância dos países mais ricos perante a riqueza natural de países mais
pobres, aliado a um processo civilizatório por detrás de um discurso econômico,
onde é um “dever” dos mais “civilizados” levaram aos “selvagens” o seu modelo
de civilização, não respeitando as características dos ditos “selvagens”, como
formação e noção de estado, cultura, identificação cultural, entre outras
coisas. Nem levando em conta se o não-civilizado quer se tornar civilizado.
Se olharmos a atual
geopolítica mundial, além da África, sempre ela, onde mais podemos perceber
isso com clareza: no Oriente Médio. O Ocidente tem enormes dificuldades de
entender as instituições, identificações e modelos que ali repousam. Geralmente
fazemos generalizações étnicas (árabes, curdos, turcos) e religiosas
(mulçumanos, judeus e cristãos) para tratarmos do assunto. Mas o caldo cultural
trespassa essas convenções. É um modelo que lhes é único, basta ver a força que
grupo como Hamas, Al-Qaeda e o Estado Islâmico possuem na região. O Ocidente
tende a achar que o mundo todo sofreu as consequências do Iluminismo e da
Revolução Francesa, o que é de uma burrice tremenda.
terça-feira, 2 de setembro de 2014
Até Quando Catilina?
Eu tinha me programado para
escrever uma resenha sobre o clássico O
Coração das Trevas, de Joseph Conrad, porém graças à discussões sem fim, e
um pouco de indignação, eu tenho que desviar a rota: vou falar sobre os ditos
“vazamentos” recentes de fotos íntimas de algumas celebridades.
O problema aqui é tão grande, tão
profundo que nem sei por onde começar. Pretendo abordar basicamente três temas,
digamos assim: a inversão entre vítima e criminoso, o moralismo do tema
associado a um certo ludismo retrógrado e perguntar quem ganha com isso.
Marcadores:
artigo,
celebridades,
ética do capital,
fetichismo,
fotos íntimas,
narcisismo,
sextapes,
sexualidade,
sociedade do espetáculo,
vazamento de fotos,
voyeurismo
segunda-feira, 1 de setembro de 2014
Das Amizades
Antes de voltar a falar de
assuntos que me são externos, têm vários assuntos no noticiário que despertaram
interesse em mim, e acho que me merecem a minha singela atenção, permita-me,
leitor, a ainda escrever sobre alguns assuntos internos.
Sou adepto do que chamo de
misantropia seletiva: apesar de não gostar de conviver com pessoas, de modo
geral tenho, basicamente medo do ser humano, algumas poucas pessoas me são
muito caras. Minha família e meus amigos, basicamente.
O problema aqui é conceitual: ser
família não significa apenas compartilhar um linhagem de sucessivas heranças e
misturas genéticas, nem uma linha hereditária, família acredito ser algo muito
mais profundo, uma ligação muito mais profunda; já a amizade talvez seja o mais
puro dos amores, pois ela trespassa gênero, crença, costumes e tudo o que tiver
pela frente. Sócrates, através de Platão, considera-o um dos mais puros dos
amores possíveis.
domingo, 31 de agosto de 2014
Diário de Bordo, Data Estelar 71227.6
Bom... vamos às novidades no
front, pois há alguns dias eu não posto nada por aqui, muito porque eu andei
ocupado procurando uma nova plataforma para blogar, além de outros percalços.
Não estou em Sampa, já vamos
entender porque, estou em Sete Lagoas, Minas Gerais, na casa dos meus pais, me
dedicando a duas causas: terminar meu livro de contos, O Livro de Taw e outros contos, e buscar uma recuperação para meu
estado emocional, o que venho fazendo junto com a ajuda de uma terapeuta. Aqui
é preciso botar o pé em cima da bola, e parar um pouco: demorei a fazer terapia
por dois motivos: primeiro estava (ou estou ainda, não sei mais responder à
essa questão) melhorando minha condição de estabilidade emocional, os dias
normais, aqueles que não há nem euforia nem depressão estavam se tornando mais
costumeiros, se fizesse terapia antes do tempo, provavelmente mexeria em um
vespeiro totalmente desprotegido; segundo, demorei um pouco para encontrar um
profissional que se encaixa-se no meu perfil, a relação entre terapeuta e
paciente precisa ser muito estreita, então é preciso que ajam certas
afinidades, no sentido de ideais e sistema de pensamento (isso claro, falo sob
o ponto de vista do paciente, não sei se os terapeutas compartilham dessa mesma
preocupação, só me resta esperar que sim).
segunda-feira, 18 de agosto de 2014
La Vieja
Às vezes as crises de insônia que
me acometem têm repercussões superpositivas, na maioria dos casos sou eu apenas
olhando para o teto sem muito no que pensar ou pensando em bobagem.
Nesse final de semana, de sábado
para domingo, uma dessas crises me bateu forte, fazendo que eu acordasse perto
da meia-noite e ficasse acordado o resto do dia, domingo. Porém não foram horas
desperdiçadas.
No sábado, no começo da tarde,
aproveitei que minha mãe e meus avôs estavam presentes e resolvi rever alguns
álbuns de fotografia antigas. É bom estar com os três porque eles têm memórias,
ou construções de memórias diferentes, o que me permite, graças ao treinamento
como historiador, criar uma narrativa mais “realista”.
E um dos álbuns me deparo com as
fotos de um trabalho que fiz para a escola em 1998; a matéria era geografia e o
tema era o impacto urbano da industrialização da cidade de São Paulo nos 1920 a
1940. Duvido que a professora tenha passado exatamente esse tema, mas uma das
vantagens da distância temporal é retorcer tudo ao seu favor, como a gravidade.
domingo, 17 de agosto de 2014
Memórias Paulistanas: Vila Maria Zélia, Brás, Mooca (1998)
Esse post vai ser um pouco
diferente, ao invés de eu escrever um texto sobre qualquer assunto, resolvi
compartilhar contigo um pouco das minhas memórias, algumas das melhores, que
tive da cidade antes de me mudar para Porto Alegre.
Essas fotos foram batidas em 1998,
ou 1999, não me lembro muito bem, para um trabalho de geografia da cidade de
São Paulo e seus antigos bairros operários.
Todas as fotos foram batidas com
uma Pentax, não sei o modelo agora, e digitalizadas agora por mim mesmo.
Os créditos dessas fotos, não são
minhas, tinha 15-16 anos à época, são todas do Humberto Athayde, A.K.A. Papai.
sábado, 16 de agosto de 2014
Diário de Bordo, Data Estelar 70305.1 (ou Eu Deveria)
Ontem, dia 15, tive uma crise de
depressão muito forte, mas muito forte mesmo. Passei, literalmente, o dia
inteiro debaixo do coberto, ora lendo O Coração das Trevas, de Joseph
Conrad (que, aliás, pretendo escrever um ensaio sobre suas contradições) ora
escrevendo, ou melhor preparando um esboço para um Bildungsroman (termo
da crítica literária para “romance de formação”, aquele romance em que há a
descrição de um processo de formação moral, ético, psicológico, estético, etc.,
um dos melhores exemplos talvez seja Cândido, de Voltaire.
Além disso, por puro escapismo,
resolvi tomar dois compridos de cada um que encontrei dentro do meu quarto, e
se por algum motivo tivesse algum outro narcótico, desses do proibido, tomaria
tudo. Meu objetivo era não acordar hoje. O resultado: umas 18 horas de sono, e
uma pequena ressaca e tontura até hoje.
segunda-feira, 11 de agosto de 2014
Diário de Bordo, Data Estelar 70023.9
Antes de tudo: a data
estelar desse post faz referência não ao dia de hoje, mas sim a ontem, às
19:15.
E por que faz tal
referência? Porque ontem, nesse horário, nasceu Luiza, primogênita do meu irmão
mais velho, que durante muito eu fui seu mais velho, mais pela minha felina e
insuperável capacidade de colocar sobre meus cuidados aqueles a quem amo
profundamente.
Ela, que ainda é
feita de material estelar e de sonhos, ainda não sabe muito sobre mim, me viu
apenas uma vez em sua pequena vida. Ainda não sabe da minha condição de saúde,
nem nada do gênero.
Porém espero que um
dia ela, e o Feijão, filho vindoura da minha irmã caçula, além de Kaique e
Yasmim, filhos dos meus cunhados por parte marital, entendam que neles está
depositada, em fundos a perder de vista, um pouco da minha esperança.
segunda-feira, 4 de agosto de 2014
Diário de um Professor: A Angústia do Ensinar
O filósofo
dinamarquês Soren Kierkegaard, que juntamente com Arthur Schopenhauer tem uma
tremenda influência em mim, em seu magistral Begrebet Angest (O Conceito
da Angústia) define o termo angst (livremente
traduzido como angústia) como uma “uma antipatia simpática e uma simpatia
antipática”, para ilustrar esse conceito ele utiliza a imagem de um homem à
beira do abismo e a dualidade de desejos que ele possui: o desejo de preservar
a vida e ao mesmo tempo o desejo de se atirar penhasco abaixo.
E o que isso tem a
ver como o tema geral dessa sessão, que deveria tratar de pedagogia e do
dia-a-dia de um professor/preceptor? Simples, todo professor sofre uma espécie
de angústia, nos moldes do angst kierkegaardiano,
do ensinar.
Segregação Não É Solução
Há algum tempo que
gostaria de falar sobre esse assunto, mas as correrias da vida, meus projetos
literários e outros compromissos me impediram de me debruçar sobre tal ele. E
qual é ele? A proposta do governo de São Paulo de criar vagões exclusivos no
Metrô e nos trens da CPTM para mulheres nos horários de pico. É o chamado vagão
cor-de-rosa.
Bem, nada como punir
a vítima pelo abuso sofrido. Por que segregar? Já ouço vozes dizendo que é melhor
assim, que blábláblá. Esse projeto fere, no mínimo, o espírito republicano, que
se baseia na igualdade de todos, não importando gênero, raça e crença, perante
à lei e à sociedade.
sábado, 2 de agosto de 2014
Diário de Bordo, Data Estelar 69541.5
Olá, viventes!
Continuo na jornada
através do tratamento da depressão. Preciso dizer que a medicação já começou a
surtir algum efeito, tenho me sentindo muito mais disposto e animado com o mundo.
Além da medicação,
alguns fatores têm ajudado muito: eu retomei o contato com grandes amigos de
Porto Alegre – nada como a tecnologia moderna – além de começar a trabalhar
bastante, começo de semestre, muitas provas e toda aquela paranoia dos pais para
melhorem as suas notas.
Também voltei a ler,
hábito que havia deixado um pouco de lado nos últimos meses (estou lendo O Coração das Trevas, do Joseph Conrad),
agora só falta voltar a criar literatura mesmo, que é a minha grande vocação,
enquanto isso vamos vivendo.
Bem acho que era
isso, o resto é vida que segue.
sexta-feira, 1 de agosto de 2014
Valesca Bovary ou Madame Popozuda
Valesca Popozuda apreciando uma boa crítica à sociedade burguesa |
Eu nem mesmo
acredito, mas vou dedicar mais um post à cantora Valesca Popozuda... Eu já
tinha escrito um texto sobre ela e aquela bobagem dela ser ou não ser uma
pensadora contemporânea (leia o texto aqui).
Essa semana foi
propagandeada a informação que Valesca estaria rodando um videoclipe baseado em
Madame Bovary, clássico da literatura
universal de Gustave Flaubert.
Fiz o que não devia e
fui ler os comentários dos sites e portais onde a notícia fora vinculada. Como
sempre, um verdadeiro atoleiro de impropérios preconceituosos dos mais diversos
tipos. Tinha de tudo, por causa dela ser funkeira, ser da favela, ser
“iletrada”, ofender a dignidade de uma obra imortal. E por ai vai... Sempre que
leio esses comentários tenho vontade de fazer como Édipo na caverna e vazar os
olhos com uma faca.
quarta-feira, 30 de julho de 2014
Diário de Bordo, Data Estelar 69451.7
Hoje volto ao tema da
minha condição de saúde, que como meus leitores sabem é um dos temas mais
recorrentes da minha vida. Caso você não tenha ciência, ou é a sua primeira
visita aqui, eu tenho depressão crônica recorrente. Gosto de falar sobre o
tema, por vários motivos: primeiro, porque é um assunto referente à minha
pessoa, e assim eu acabo me conhecendo muito mais; segundo, porque há muitos
mitos e preconceitos sobre essa doença, e acho que qualquer esclarecimento é
fundamental.
Desde a última vez
que eu escrevi aqui sobre a minha condição, acho que já faz mais ou menos um
mês, eu havia parado de tomar a medicação, mais uma vez, estava quase sem dar
aulas, principalmente por conta da Copa e de ser começo de ano, e por achar
duas coisas: que não estava fazendo efeito e que estava me sentindo melhor sem
ele. Outro motivo foi que troquei de psiquiatra, eu me tratava com um médico
muito bom, apesar de mucho loco, e não havia gostado do atendimento desse novo.
Pois é, a vida tem dessas coisas.
segunda-feira, 14 de julho de 2014
A Velha Questão Palestina
Oi, pessoal, tudo
beleza?
Como eu já havia
dito, agora que acabou a Copa, assunto aliás que renderá uma série de posts,
tanto sobre campo e bola como de outros assuntos, por aqui, volto à atividade
normal do blog.
Para marcar essa
retomada, que tal falarmos um pouco dessa nova escalada de violência entre
israelenses e palestinos? Assunto que há anos vêm tomando conta das mentes mais
preocupadas do mundo, em amplos aspectos.
Para começo de
conversa, eu não gosto quando usam a expressão “judeus vs. palestinos”, há pra
mim ai um problema semântico, afinal os judeus de hoje não formam um povo,
formam sim uma cultura e uma religião. Qualquer tentativa de ligar as pessoas
que vivem em Israel hoje com o antigo povo hebreu é uma falácia sem tamanho.
quarta-feira, 9 de julho de 2014
Sim, Somos Corruptos
Na minha experiência
como professor de português para estrangeiros, campo, aliás, cada vez mais
amplo por aqui, eu tenho que explicar um monte de gírias e expressões
idiomáticas para os estrangeiros que vivem no Brasil.
Algumas traduções são
quase impossíveis, como “tomara que caia”
e enfiar o pé na jaca”, porém outras
são impossíveis mesmo, não por uma questão linguística, mas por uma questão de
cultura.
Aquela mais óbvia,
por vários motivos, é o tal “jeitinho
brasileiro”. Tente explicar para um alemão ou para um escandinavo, e suas
lógicas puras, o que é esse tal “jeitinho” que tudo resolve. Eu já passei por
isso, e, acredite, não foi muito fácil...
Mas o que está no
cerne, no âmago, dessa questão? Eu estou plenamente convencido que é a falta de
comprometimento com as regulações e regulamentos vigentes, sempre tendo como
ponto de vista de obter os melhores resultados para si. Ou seja, corrupção.
sexta-feira, 4 de julho de 2014
Diário de um Professor: Toma que o Filho É Meu
Não sei se vocês já
reparam, porém é cada vez mais comum os pais atualmente, por diversos motivos,
mas principalmente por motivos profissionais, atribuem aos filhos cada vez mais
tarefas, mais atividades extracurriculares, além da escola.
É inglês, Kumon,
ballet, futebol, piano, reforço escolar, et cetera e et cetera e et cetera.
Fora a educação afetiva, que cada vez mais é atribuída às babás, empregadas,
tutores e veículos como televisão e a internet.
Ou seja, os pais têm
cada vez mais, dia a dia, atribuem a terceiros a responsabilidade de educar, em
aspectos formais e afetivos, seus filhos. É claro, não podemos ser anacrônicos
e fingir não entender que o mundo mudou, a mulher está cada vez mais inserida
no mercado de trabalho e na chefia das famílias, cada vez profissionais precisam
se manter atentos a novas classificações e qualificações, são muitos fatores
nessa equação.
Aqui é uma estrada de
duas vias: como estar presente e atuante e ao mesmo tempo terceirizar
responsabilidades? Acho muito difícil equacionar essa relação. Há, entretanto,
que se criticar não apenas os indivíduos e sim ao sistema que obriga esses pais
a fazerem isso, porém sem isentar os pais, que também fazem esse desapego por
conta de medo, preguiça ou indiferença.
Como sempre digo e
repito, educar é uma tarefa enorme, complexa e muito aguda e profunda, e vai
muito além da oferta de boas escolas, atividades construtivas ou acesso a bons
tutores e professores particulares. Quase sempre, o desempenho escolar e a
formação como ser humano tem um resultado maior com a presença dos pais, ou
cuidadores, com os filhos, que de forma afetiva e amorosa tende a passar
valores para a vida.
quarta-feira, 4 de junho de 2014
Agora a Inês É Morta
Bem, eu não queria
tocar nesse assunto, afinal já faz muito tempo que o assunto deixou de ser
polêmico, no meu entendimento, e agora, só consigo sentir uma leve euforia,
pelo jogo, é claro, não pela FIFA, CBF ou pelo governo.
Acho valido os
protestos, pautas de reivindicações que usarão a Copa como vitrine, acho que
até um certo pessimismo é válido nesse momento, mesmo que tardio. Agora o
efeito que isso vai ter, querer parar ou mandar a Copa embora, é um tanto
quanto ingênuo.
terça-feira, 3 de junho de 2014
Entrevista: Pirula
Hoje tenho o prazer
de publicar a primeira entrevista do blog: Pirula, o criador e responsável
pelo Canal do Pirula, destinado à ciência, meio-ambiente e comentários sobre o
noticiário em geral.
Confira:
segunda-feira, 2 de junho de 2014
A Física de Jornada nas Estrelas
Em A Física de Jornada nas Estrelas, o
físico teórico norte-americano Lawrence M. Krauss, conhecido por ser um dos
percursores da teoria da Matéria Negra, faz um balanço sobre o que pode ser
possível e o que é meramente ficção científica em uma das séries mais amadas da
história da televisão: Jornada nas
Estrelas (Star Trek).
O livro é escrito em
uma linguagem muito acessível, de maneira que qualquer pessoa com o mínimo de
conhecimento em Física, talvez apenas algumas teorias ensinadas amplamente no
Ensino Médio.
Eu, como trekker (palavra que designa um fã do
seriado) e admirador de ciência, adorei
o livro, justamente por conta disso, não há nenhuma equação em todo o livro, o
que simplifica, e muito a leitura, diferentemente de outros textos de
divulgação científica.
Um dos pontos
positivos do livro é que ele parte do princípio que é uma leitura tanto para trekkers quanto para não o público
geral, assim ele toca em temas científicos que são os mais comentados da série
– como viagem no tempo, teletransporte e vida inteligente alienígena. Tudo com
um embasamento teórico muito forte.
sexta-feira, 30 de maio de 2014
Ciência Tem Gênero?
Hoje de madrugada, a
insônia bateu forte, então resolvi curá-la com algo incrível: o seriado de
divulgação científica Cosmos: A Spacetime
Odissey (exibido pelo canal pago NatGeo, às quintas, às 22:30), apresentado
pelo Dr. Neil DeGrasse Tyson, uma verdadeira obra-prima para quem gosta de
ciência e entretenimento, as animações são incríveis, o texto é extremamente
acessível, do ponto de vista leigo, evidentemente, e pedagógico.
O episódio dessa
madrugada: Sisters of the Sun, que
explora a astronomia e a astrofísica do nosso céu estrelado, tendo como pontapé
inicial as Plêiades, um aglomerado de estrelas aberto, de espectro tendencial
para o azul, formado por estrelas brilhantes e quentes na Constelação de Touro.
quinta-feira, 29 de maio de 2014
Diário de um Professor: Socorro, meu filho não lê!
Como ainda não sou
formado, estamos na batalha!, muito do meu trabalho é com aulas particulares e
como tutor, sendo assim, preciso lidar muito com pais e alunos dentro de suas
casas. O que aguçou meu senso de observação espacial para certos detalhes.
Cada vez mais eu
percebo que os lares não têm bibliotecas, ou um espaço onde livros e revistas
estão ao alcance de todos, inclusive para quem ali habita. O que é muito estranho
para mim, afinal em casa, mesmo nos tempos de aperto financeiro, sempre havia
um espaço destinado ao estudo e a leitura de modo geral.
quarta-feira, 28 de maio de 2014
Celebrando o Amor e o Casamento
Não tenho trejeito
para o colunismo social, e acho que nem aqui é esse espaço, porém não tenho
como “cobrir” um evento que me ocorreu sábado, e me levou à uma séria reflexão
sobre o amor, relacionamentos e casamento.
Fui ao casamento de
dois amigos muito queridos e amados, amigos de longa data e que tive o prazer
de ver sua união sendo celebrada. Eles estão juntos, como namorados há mais de
10 anos. Durante esse período, eles tiveram seus percalços, seus problemas,
suas desavenças. Eles podem ser fofos, mas ainda assim são humanos.
sexta-feira, 23 de maio de 2014
Por Que Continuar a Ler os Clássicos?
Por conta de um
trabalho de redação que peguei, aliás falei sobre ele aqui, tive que ler um artigo científico sobre liderança e poder, e nesse
texto havia uma aproximação entre esses dois conceitos, porém de uma forma
positiva, tirando todo o caráter moral do poder, muito presente no senso comum
e no meio empresarial, onde é visto como o demônio encarnado.
As autoras do artigo
se baseavam em textos consolidados e clássicos, como O Princípe, de Nicolau Maquiavel, e Vigiar e Punir, de Michael Foucault. O que me levou a relembrar
Harold Bloom e seu O Canone Ocidental,
onde o crítico literário e professor estabelece uma espécie de códex a ser
seguido por aqueles que queriam se considerar cultivados.
quinta-feira, 22 de maio de 2014
Diário de um Professor: Você Trabalha ou Só Dá Aula?
Estreando a sessão
fixa Diário de um Professor, que vão
ser crônicas, além de outros textos, sobre meu cotidiano como professor, além
de minhas ideias sobre pedagogia, ensino e o espaço escolar, resolvi responder
uma das perguntas que mais ouvi em toda a minha experiência ministrando aula: Professor, você trabalha ou só dá aula?
Essa pergunta pode
chocar alguém que é mais velho, ou que não tem a mínima ligação com o
magistério, porém essa é uma das perguntas mais frequentes dos alunos. Isso
reflete a posição que a figura do professor ocupa no nosso imaginário: uma
pessoa benevolente, geralmente incrustrada de uma autoridade moral, que
abnegadamente espalha seus saberes para as gerações vindouras. A realidade,
todavia, é muito mais profunda do que essa.
quarta-feira, 21 de maio de 2014
Diário de um Professor: O Fetiche do Diploma Universitário
Como se sabe, além de
humilde blogueiro e professor, eu pego alguns trabalhos como redator e revisor
de texto, afinal eu preciso viver de alguma coisa. Eu sempre recebo ofertas,
também, como formatador de textos para teses de conclusão de curso e
monografias. Aliás esse tipo de oferta tem cada vez crescido mais.
Eu não entendia muito
bem porque, até meu último trabalho: uma pós-graduando em gestão de pessoas me
pediu para revisar e formatar um artigo acadêmico cujo tema entre as
aproximações entre liderança e poder, tema, surpreendentemente, que foi bem
aprazível de ler e escrever sobre.
terça-feira, 20 de maio de 2014
Mentalidade, Imaginário e a Longa História
O historiador
francês, infelizmente recentemente morto, Jacques Le Goff ficou famoso por
vários motivos, dois deles em termos metodológicos foram a promoção da história
das mentalidades, e sua aproximação com a antropologia, e o conceito de duração
histórica, principalmente os fatores de longa de duração. É dele, por exemplo, a
análise que a Idade Média teria, de fato, terminado apenas depois da Revolução
Francesa, porém ainda com resquícios em pleno século 20.
Em Heróis e maravilhas da Idade Média estão
presentes todos esses conceitos, porém de forma reduzida, principalmente por
conta que a maioria desses conceitos são explorados em outros livros de Le
Goff, principalmente em O imaginário
medieval. Então temos em mãos um livro que beira à divulgação científica.
Digo que beira,
afinal a linguagem empregada é de rigor acadêmico, e os estudos apresentados,
em quase todos os casos, são apresentados de forma minuciosa. É preciso lembrar
que em nenhum momento Le Goff expõe seu arcabouço teórico, pelo menos não de
forma clara e textual, assim sendo o livro passa a ser um meio termo entre um
livro teórico e um livro de divulgação. É um bom texto para os bancos
estudantis universitários e para professores se reciclarem.
segunda-feira, 19 de maio de 2014
#somostodosmachistas
No domingo passado
(11/05), pela quarta rodada do Brasileirão, jogaram Atlético-MG e Cruzeiro,
clássico maior de Minas Gerais. Gostaria muito que o principal assunto da
partida fosse exclusivamente os lances, os gols e, até, as polêmicas. É disso
que se trata o futebol como esporte.
Porém, e há sempre
ressalvas, não trataremos sobre os aspectos esportivos do match, ou cotejo, como preferirem. Foi com horror que fiquei
sabendo, não assisti ao vivo o jogo, que a auxiliar Fernanda Colombo Uiliana,
aspirante à FIFA, ou seja, competente e profissional, fora hostilizada por um
erro que cometera.
segunda-feira, 12 de maio de 2014
Diário de um Professor: Resumos, Adaptações e o Cânone Literário Brasileiro
Na semana passada as redes sociais, sempre elas, foram invadidas com a notícia-bomba que o MEC aprovou um projeto, com financiamento público, de uma autora de adaptar para os tempos ultra-pós-modernos alguns textos de Machado de Assis para que as crianças e adolescente possam se interessar em literatura e leitura.
Eu, sinceramente, não
entendi o fuzuê gerado por tal notícia. Eu estudei quase que toda a minha vida
escolar em um bom colégio dominicano em São Paulo, e mesmo ali, antro do
conservadorismo pedagógico, eu li adaptações e resumos de obras como Dom Quixote, Os Três Mosqueteiros, O
Último dos Moicanos, Moby Dick,
entre outros. Não me tornei um leitor limitado, muito pelo contrário, e nada me
impediu de ler, depois com mais maturidade, as obras completas citadas.
quarta-feira, 7 de maio de 2014
Pequenas Barreiras, Grandes Saltos
O noticiário do
futebol internacional foi pego de surpresa hoje com notícia que o Clermont Foot
63, time da segunda divisão da liga francesa, contratou a portuguesa Helena
Costa como sua treinadora. Você, leitor, de daqui uns 10 anos vai achar isso
meio estranho, porém ela, em 2014, é a primeira mulher a treinar um time
profissional de futebol.
A treinadora, que tem
em seu currículo passagens pelas categorias de base do Benfica, e pelas
seleções femininas do Catar e do Irã, não possui experiência como jogadora
profissional, porém ela se preparou para a carreira como treinadora, é formada
pela Universidade Técnica de Lisboa, mestrado Faculdade de Motricidade Humana
da Universidade Técnica de Lisboa e doutorado pela Universidade Lusófona de
Lisboa. Além de cursos e participações de seminários promovidos pela Federação
Portuguesa de Futebol, pela FIFA e pela UEFA. Ou seja, experiência ela possui.
terça-feira, 6 de maio de 2014
Como assim Você É Ateu?
Como falei na minha
crônica sobre ter depressão (leia aqui),
eu sou ateu. Mas calma, sou uma boa pessoa. A ideia de escrever esse texto, que
sempre esteve na minha cabeça, veio depois de algumas conversas com os pais dos
meus alunos.
Não sei muito por
qual motivo, a maioria dos pais dos meus alunos me questiona qual a minha
religião. Acredito que pelo fato da religião fazer um grande papel na educação
das pessoas, basta ver quantos colégios, escolas e universidades, têm alguma
orientação religiosa.
A reação de quando
falo sou ateu é quase sempre a mesma: espanto. Muitos deles confundem o fato de
ser ateu, ou seja, negar ou não conceber a existência de um deus pessoal, com
não ser católico, muitos me perguntam se eu sou evangélico, não sei o porquê.
Alguns já me perguntaram se eu era judeu, mulçumano...
No senso comum, as
pessoas tendem a confundir a religião com fé. Apesar de estarem bem próximas
uma da outra, elas não são exclusivas uma da outra. Você pode ser cristão (fé)
e não ser católico, protestante ou neopentecostal (religião).
segunda-feira, 5 de maio de 2014
Um Futuro para a Parada Gay
Gostaria de começar o
texto pelo seu começo, porém preciso retroceder um pouco para evitar
mal-entendidos e julgamentos errados. Para começo de conversa, você que ainda
não me conhece, sou um grande defensor de todas as liberdades individuais.
Todas, e nesse contexto a sexualidade eu encaro como um direito individual, ou
seja, a sexualidade unicamente interessa aquele que a exerce. Cada um cuida do
seu como bem entender.
Outra das minhas
causas é defesa das chamadas “minorias”. Não gosto muito desse termo, pois detona
algo a parte de uma sociedade democrática, assim eu prefiro o termo “vozes”.
Acredito que a inclusão – social, econômica, política, digital, etc. – dos
excluídos deve ser prerrogativa de qualquer livre pensador humanista.
sexta-feira, 2 de maio de 2014
Futebol, Racismo e Bananas
No último domingo (27
de abril), o lateral direito da seleção brasileira e do Barcelona fez um ato
que causou furor no noticiário: ao bater um escanteio, um torcedor do Villareal
jogou uma banana em campo, em ato puramente racista, e então Daniel Alves pegou
a banana e a comeu.
Uma atitude genial,
afinal ele embaralhou o campo semântico, ao tirar do ato, uma banana sendo
jogada para um macaco (um negro ou pardo), ao reduzi-lo ao fato de uma banana
ser... uma banana. Parece ser algo
idiota, afinal bananas são frutas e frutas têm que ser comidas, porém ele fez
um jogo intelectual muito complexo e com espontaneidade, o que mostra a ainda
mais força por trás do ato.
O campo semântico tem
muito poder, porque, simplificando muito, remetem à semiótica de signos,
significado e significante. Ou seja, temos um signo, banana, que tem dois
significados distintos, uma fruta e uma alusão racista, e frouxa, aos negros, e
o que esse significado possui para o quem o observa, o significante. Naquela
situação, naquele contexto, o segundo significado pareceria o mais apropriado.
E ai que entra a virada no jogo do campo semântico. Em um lance que não dura
dois segundos, Daniel Alves talvez tenha alcançado o maior feito de toda a sua
carreira.
quinta-feira, 1 de maio de 2014
Diário de Bordo, Data Estelar 91934.68 (“Sim, Eu Tenho Depressão”)
A cena se repete,
mais vezes do que gostaria, com outros elementos, com outros cenários, até com
outros acontecimentos, porém o cerne da história é praticamente a mesma, por
isso achei que dessa vez daria um texto, uma crônica, para ilustrar algo que
levo preso à garganta.
Semana passada fui
fazer uma entrevista de emprego em um colégio no Sacomã, bairro da região
Sudeste da cidade de São Paulo, perto do Ipiranga e da Vila Prudente. A vaga
era para ministrar aulas de sociologia, filosofia e história para turmas do 9º
ano do Ensino Fundamental até o 3º ano do Ensino Médio, ou seja, seria
responsável por uns 120 jovens ao todo.
quarta-feira, 30 de abril de 2014
Ventos da Liberdade com Cheiro de Cravo
Dia 25 de abril,
última sexta-feira, marcou o 40º aniversário da Revolução dos Cravos em
Portugal. O que representa essa data? Simplesmente uma das últimas, talvez a
última, vitória contra o fascismo. Explico.
Nessa data, jovens
militares portugueses, indignados com a situação política no país – Antônio de
Oliveira Salazar, ditador fascista português de 1933 a 1970, data de sua morte,
havia feito seu sucessor, Marcelo Caetano, perpetuando assim o salazarismo – e
com as Guerras Coloniais, uma série de combates na África e na Ásia, nas
antigas colônias portuguesas, onde o Estado Novo, nome do regime salazarista,
tentava desesperadamente manter o controle de suas antigas possessões, resolvem
se rebelar contra o status quo da
sociedade portuguesa, e derrubar o regime.
quinta-feira, 24 de abril de 2014
Considerações sobre a Pesquisa Públicos de Cultura
No dia 11 desse mês,
o Sesc e a Fundação Perseu Abramo disponibilizaram os resultados da pesquisa Públicos de Cultura, que tinham como
objetivo traçar um perfil de consumo e consumidores de cultura no Brasil. Os
resultados, como veremos, não são tão animadores. Mas antes disso, tenho alguns
apontamentos a se fazer.
Em termos estáticos,
é impossível fazer qualquer pesquisa com um universo completo, ou seja, seria
impossível perguntar para todos os brasileiros quais são seus hábitos
culturais, etc. Nem o Censo do IBGE consegue fazer isso, afinal para se fazer
parte do Censo é preciso possuir uma residência, o que exclui andarilhos e
pessoas que moram na rua.
Ai, Pondé...
No último feriado,
dia 21, Tiradentes e segunda-feira, fomos brindados pela coluna semanal na
Folha de São Paulo do professor de filosofia da PUC-SP Luis Felipe Pondé (o
link para o texto está lá embaixo). O título? Por uma direita festiva. Só pelo título já dava para ter breves
insights sobre o que viria pela frente...
Na coluna, o
professor Pondé argumenta que os jovens de direita, ou liberais, por serem
interessados em temas profundos como economia e política, e por encararem isso
de maneira séria, honesta e profundamente, não conseguiriam “pegar mulher”,
afinal as pessoas de esquerda tem um discurso mais próximo ao coração, que
serve para atrair jovens mulheres da classe alta entediadas.
quarta-feira, 23 de abril de 2014
A Reinvenção da Educação?
É possível ter uma
boa ideia, ganhar dinheiro com ela e ser completamente honesto ao transmitir um
conceito que é correlato a ela? Eu sei que é complicado... Mesmo se for
totalmente honesto, eu, como Diógenes, tenho uma lanterna à mão à procura de
um, ainda assim um leitor mais atento e crítico tende a questionar quais são as
suas intenções ao transmitir, ou propagandear, o seu conceito.
Em Um Mundo, uma Escola: A educação reinventada,
do estadunidense Salman Khan, notamos essa boa intenção que visa fazer
propaganda de si mesmo. Khan esmiúça uma nova metodologia e um novo paradigma
para um modelo escolar; todavia essa lufada na pedagogia está calcada em sua
própria empresa, a Khan Academy.
Vejam, a ideia
exposta no livro é muito boa, e consiste na renovação da educação tendo como
base a informática. Khan propõe uma nova abordagem à pedagogia, onde
eliminaríamos alguns elementos sacros para a educação, como a aula expositiva,
a divisão por turmas, as provas, a lição de casa e até o papel do professor.
terça-feira, 22 de abril de 2014
Era Para Ser Um Mosteiro, Mas Foi um Happening
No último domingo
(20), Páscoa, eu e minha esposa, uma mulher muito espiritualizada mas não
necessariamente religiosa, fomos assistir a missa no Mosteiro de São Bento,
localizado bem no centro de São Paulo. Ela, foi por conta da alma; eu, por
conta do canto gregoriano e por conta do concerto de órgão. Aliás, essa é uma
ótima dica cultura para os paulistanos: todo domingo às 10:00 o mosteiro oficia
missa com concerto de órgão e com canto gregoriano, é uma missa linda, alegre e
leve.
Chegamos com mais de
meia-hora de antecedência, e como de praxe, o mosteiro encontrava-se
completamente lotado. Sigamos o mesmo roteiro e ficamos do lado esquerdo da
nave, debaixo do órgão de pé.
quinta-feira, 17 de abril de 2014
Pelo Direito de Ouvir o que não Quer
Nos últimos dias, tem sido
veiculado a notícia que Rachel Sheherazade, âncora e comentarista do Jornal do
SBT, após os seus infelizes comentários sobre o jovem criminoso acorrentado por
vigilantes no Rio de Janeiro, foi posta em “férias” e depois foi retirado o
espaço para seus comentários durante o espaço do editais do telejornal.
Eu não compactuo de forma alguma com
as opiniões e pontos de vista de Sheherazade. Não consigo concordar com essa
ideologia de “bandido bom é bandido morto” ou que “prisão tem que ser ruim para
o marginal pagar seus pecados”. Acredito nas causas sociais, ambientais e
psicológicas do crime. Ou se trata-se todos os criminosos dessa forma, isso
inclui você que paga uma cervejinha ou um café para o policial naquela blitz
pós-balada na Vila Olímpia para ele não te enquadrar na Lei Seca, ou você que
tira racha em qualquer avenida, ou seja, para qualquer um age contra a lei de
alguma forma. Não é essa a definição de bandido e marginal?
Porém, mais do que ser contra as
opiniões da Sheherazade, sou contra qualquer tipo de censura, seja ela oficial,
ou seja, calcada nas bases da lei, ou velada, com ameaças e coerções. A censura
é um dos aspectos mais repugnantes que pode existir em estados totalitários,
pois fere dois direitos básicos do cidadão: o de expressão e o de informação.
quarta-feira, 16 de abril de 2014
As Damas do Século XII (Georges Duby)
A historiografia francesa durante
o século 20 foi responsável por grandes e importantes mudanças metodológicas
para a História. O rol de historiadores que contribuíram para isso é enorme,
passando por Marc Bloch e Fernand Braudel, passando por Jacques Le Goff e
Georges Duby.
Esse último, dedicou a sua
carreira profissional, tanto como professor quanto como pesquisador, a buscar
entender o papel das coisas “simples” da vida para a contribuição do processo
histórico. Basta lembrar que ele foi o responsável por organizar a coleção História do Cotidiano, lançada no Brasil
pela Companhia das Letras.
Duby e Le Goff se debruçaram na
Idade Média, muito para tentar derrubar alguns mitos criados pela
historiografia romântica do século 19 sobre a formação do estado francês.
Em As Damas do Século XII (Companhia de Bolso), Duby utiliza de fontes
documentais e fonte literária para traçar um painel sobre o papel da mulher na
vida das cortes flamengas, francesas e inglesas durante o século 11.
O livro, reunião de outros três
trabalhos, traz uma abordagem interessante: o quanto o mundo masculino,
representado basicamente pelo alto clero católico e pelo poder militar dos
senhores feudais, temia e mistificava o mundo feminino. Os exemplos devassados
de Eleonor de Aquitânia, de Isolda e de Heloísa são fascinantes.
terça-feira, 15 de abril de 2014
Sobre Palavras
Esses dias – ontem, para ser mais
específico – fui dar aula, de matemática, pasmem!, para duas meninas do Colégio
Santo Ivo, e como de costume eu me apresentei dizendo meu nome, minha idade,
que elas poderiam me chamar pelo nome, que eu dava aula particular desde os 17
anos de idade e que era escritor, e que meu primeiro livro será lançado em
breve.
Quando mencionei esse último fato
para elas, prontamente entraram em choque, era como se tivessem visto um
fantasma, um ser encantado. Eu me senti, sentado ali naquela sala de estar,
como um unicórnio sendo devassado por exploradores que não deveriam ter tomado
a segunda direita.
Assinar:
Postagens (Atom)